Carlos Cabanita!
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🎦 Colaboração do LEITOR
# O MESTRE Carlos
Cabanita... no seu MELHOR!
RAKIA
A
AGUARDENTE BÚLGARA,
MAS TOMADA COMO DEVE SER
Escreveu: Carlos
Cabanita
Em
2017, ainda eu e o (RO)drigues estávamos no ativo na Tipografia Lobão, eu
trouxe aos meus colegas uma amostra da aguardente da Bulgária, a rakia.
É que eu tenho família nesse país e já lá fui várias vezes.
A
rakia
Como
descrever a rakia? É uma aguardente bem forte, com 40% de álcool, feita
de ameixa (slivova) ou bago de uva (grosdova). Muitos búlgaros
têm orgulho em ter a sua aguardente pessoal.
Fermentam
a mistura em casa e vão destilar a um alambique comercial, mas nada de
misturas. Cada um sabe muito bem qual é o seu preparado. Estive numa dessas
destilarias, no norte do país, perto do rio Danúbio, com quatro alambiques.
Cada cliente vigiava a sua destilação, com o interesse de quem espera na
maternidade o nascimento de um filho. Na parede, um velho poster do tempo do
comunismo, com o dirigente russo, Leonid Brezhnev, a dar um grande beijo na
boca do dirigente búlgaro, Todor Jivkov. Quando terminou uma destilação, o dono
da pinga fez questão de convidar quem estava (depois de excluir uma quantidade
inicial que tem demasiado álcool metílico e é venenosa) para beber um copo. Não
estava nada má.
Eu
gosto muito de rakia. A única coisa parecida em Portugal é a aguardente
de medronho. Como disse, muitos búlgaros têm orgulho na sua rakia
pessoal. Assim, quando se visita amigos, o mais provável é que tenham na cave
uns grandes garrafões de plástico com o preparado fermentado para destilar, e
uma quantidade já pronta, geralmente em garrafas recicladas de Coca Cola. E não nos deixam sair sem provar a “sua” rakia.
Se visitarmos vários amigos de enfiada, vai correr mal…
A
prova
Portanto,
quando voltei para Portugal, um dos amigos, Svetozar Jetckov (Zarko) fez
questão de me oferecer uma dessas garrafas de Coca Cola cheia da sua rakia.
Partilhei
uma dose inicial com os meus colegas, em particular com o (RO)drigues. Todos se
declararam entusiasmados com a bebida. Eu disse:
–
Muito bem, vou trazer mais em breve. Vamos tomá-la ao almoço. Mas vocês vão ter
que tomar a rakia à maneira da Bulgária.
A
preparação
Todos
concordaram, sem saberem de que se tratava. Mas confiaram em mim.
Conversei
com a D. Ana Capela, do restaurante Capelas II, onde costumávamos almoçar. Eu
queria que ela confecionasse uma salada “shopska”. Claro que ela nada
sabia sobre o assunto, mas eu expliquei-lhe. É uma salada de tomate, queijo,
pepinos, pimentos, cebolas e salsa, temperada com um molho de óleo e pimenta e
com cobertura de queijo. Devia ser queijo sirene, mas cá não há, por
isso dei-lhe a opção de usar queijo feta ou mesmo mozzarella. Mas
o truque era NÃO servir a salada junto com o prato principal, mas sim ANTES!
Até arranjei receitas da Internet, para ela se guiar.
A
D. Ana correspondeu inteiramente ao desafio, até arranjou mesmo queijo feta.
A salada que fez ficou excelente. Não sei se convencia um búlgaro, mas
convenceu-me a mim…
A
refeição
Os
meus camaradas chegaram no dia marcado ao Capelas II, sem saberem o que os
esperava. Na mesa, estava a ser servida a salada e havia taças próprias para
aguardente. Eu expliquei:
–
Como já vos disse, vamos tomar rakia à búlgara. Só há
duas maneiras de tomar rakia lá. Ou antes da refeição, acompanhada por
uma salada, ou à tarde e à noite, acompanhada de pickles. Como estamos na hora
do almoço, vamos fazer com a salada.
Sentaram-se,
um pouco desconfiados, porque tudo era ao contrário do esperado. Começar a
refeição a beber aguardente e salada? Bem!
A
salada, como disse, estava excelente. Todos se renderam. A culinária portuguesa
dá uma abada à búlgara em peixe, mas leva um capote em saladas. E depois de
provarem a rakia com este acompanhamento, também aderiram com
entusiasmo. Aliás, um dos nossos colegas (não digo quem é para não o
envergonhar, só digo que é careca e tem barba), precisamente o que mais
objetara à nova moda, estava já pronto para seguir a acompanhar com rakia o
prato principal. Não deixei.
– Agora paramos com a rakia.
Bebemos o nosso vinhito com o prato principal, como bons meninos. Mas eu vou
transigir com os nossos hábitos portugueses e vou, no fim, servir mais uma taça
de rakia com o café. Coisa que nenhum búlgaro faria, mas pronto. Somos
portugueses. Aliás, uma vez na Bulgária, nas margens do Danúbio, estávamos um
grupo de amigos e eu, português, pedi rakia com o café. Ao meu lado
estava uma amiga a comer uma salada, portanto, imaginam onde o empregado foi
pôr a rakia? À frente dela, evidentemente! Mas pronto, somos portugueses
e vamos gozar o melhor de dois mundos.
Com
a aguardente inicial a acompanhar a salada, o vinho com o prato principal e de
novo rakia (que alguns repetiram) com o café, já estão a ver que a
refeição esteve animada. Aliás, acredito que a produtividade do nosso trabalho
nessa tarde não esteve à altura dos padrões habituais (não digam nada ao José
Silvério nem ao Luís Lobão!).
Na
zdrave!
Prometemos
repetir.
Entretanto,
eu reformei-me, o Luís Rodrigues reformou-se, apareceu o raio da pandemia e
temos todos ficado mais ou menos isolados. Isolados, mas com muitas saudades.
Havemos
de encontrar-nos brevemente! No Capelas II, decerto. Talvez tenha que ser sem rakia,
porque de momento não tenho nenhuma. Ou talvez ma tragam brevemente, não sei.
Até
lá, à saúde!, como dizem os portugueses, ou “na zdrave!”, na fala
dos búlgaros.
Carlos
Cabanita
Nota do Blogue RO:
Carlos Cabanita opta por escrever os seus textos com a ortografia
moderna.
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