Luís Rodrigues e
Domingos Prata Rodrigues
JOGOS FLORAIS DA APP
1988
CONTO POLICIAL
3.º Classificado
Analogia
CÉLULA CINZENTA N.º 12
DEZEMBRO - 1988
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CASCAIS. Manhã quente.
Brilhante. Como sempre. 11 horas. 10 de Setembro. Ano 86. Cais vazio. Lota terminada. Peixe que partiu. Gaivotas em debandada. Dançam no ar. Poisam em terra. Voltam ao mar. ficam à espera. Hesitam. Avançam. Miram. Atacam. Restos de peixe mole. Desordenados. Ao sol. Aqui. Ali. São devorados. Besugos. Sargos. Safios. Pargos. Xarrocos. Sardinhas. São comidos. Aos poucos. Pelas aves marinhas. Em constante turbilhão. Comem tudo...
No meio da confusão. Distingue-se um rosto. Sisudo. Mal-encarado. Pensativo. Desesperado. Arrependido? Sentado. Num saco de viagem. Carregado de suspeitas. Vê partir. As aves. De branca plumagem. Satisfeitas.
Fernandes João. De seu nome completo. Gozava as férias de verão. Naquele ambiente. Alugara um iate: AÓNIA. Barato. A esposa: SÓNIA. Acompanhava-o. Alta. Morena. Esbelta. Serena. Impávida. Lesta. Cobiçada. Pretendida... Fiel! Cabelos longos. Negros. Olhos grandes. Pretos. Bonita. Atraente. Meiga. Sorridente. João. Cortesão. Ciumento.
Outro iate: IÓNIA. De aluguer. Ao lado. Popa com popa. Atracado. Com outra mulher: LÓNIA. Outro casal. Facto normal. Coincidências?!... IÓNIA. LÓNIA. AÓNIA. SÓNIA! Mulheres parecidas. Distintas. Desprendidas.
Madrugada. Do mesmo dia. Noite nefasta. Densa. Opaca. João. Regressa. Ao “lar”. Cambaleia. Olha o mar. Vislumbra a areia. Drogado? Cansado? Tudo misturado. Anda. Recua. Entra no barco. Média luz. Dirige-se ao quarto. Ai, Jesus! Que vê?... Homem e mulher unidos! Não crê. Gemidos. A sua doce mulher. SÓNIA!!! Amor. Ardor. Ternura. Loucura. Ódio. Traição. Raiva. Partem-lhe o coração. De repente. Gritos. Alaridos. Homens. Somente. No chão. Vítima por baixo. Mulher atrás. Gesticula. Tenta explicar. João. Furioso. Por cima. Raivoso. Mão no pescoço do indefeso. Tentam matar...!
Momentos fatais.
João. Alucinado. Senhor da razão? Justiça e verdade? Tinha acabado. A sua missão. A mulher chora. Abraça o morto. Sem demora. Grita: assassino! Assassino!!
João. Cá fora. Molha o rosto. Ergue a cabeça. Sem destreza. Lê o nome do iate “vizinho”: AÓNIA!?!
Quem saberia. Agora. O seu destino?...
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