🔎 Memórias do Policiário – 054 🔍
🧐 O
Gráfico 🕵️
Bernie Leceiro (Matosinhos)
DA VINCI (Esposende)
Campeões de Problemística
Por: O Gráfico
Colaboração: PAULO
“BERNIE LECEIRO E DA VINCI
SÃO OS GRANDES VENCEDORES
São da região norte do país, além concelho do Porto, os grandes vencedores das nossas competições que hoje chegam ao seu final. Bernie Leceiro, o “escolhido” entre os produtores, reside em Matosinhos, e Da Vinci, o “campeão” dos solucionistas, tem residência em Esposende. A acompanhá-los nos respetivos pódios, surgem Detetive Jeremias e Rigor Mortis (produtores); e Búfalos Associados e Detetive Jeremias (solucionistas). Antes, porém, de ficar a saber classificação geral final das competições, fique a conhecer a solução de autor do último enigma.
(Salvador Santos – Inspetor BOAVIDA – Orientador)
“in Blogue LOCALDO CRIME – Secção “O DESAFIO DOS ENIGMAS” – Torneio de Decifração de Problemística Policiária “Solução à Vista” e Torneio de Produção de Problemística Policiária “Mãos à Escrita” – 2022/2023.
http://localdocrime.blogspot.com/
54 EDIÇÕES das Memórias do Policiário – O Gráfico para registar para a posteridade os Campeões de Problemística Policiária em Produção e Decifração, Temporada 2022-2023 do Blogue “LOCALDOCRIME”
SAUDAÇÕES POLICIÁRIAS.
Caro, O Gráfico:
Envio-lhe as referências que tenho sobre os vencedores (produção e decifração) dos Torneios “Solução à Vista” e “Mãos à Escrita”, 2022-2023.
Do Bernie Leceiro:
Problemas Policiários
O Naufrágio do Veronese; Campeonato 2007-2008/Taça de Portugal (Problema 4); Policiário; Público; 9 de Março de 2008.
Ingrediente Secreto; Campeonato 2014/Taça de Portugal (Prova 5/Parte 1); Policiário; Público; 1 de junho de 2014.
O Último Mergulho do Submarino U-1277; Campeonato 2014/Taça de Portugal (Prova 5/Parte 2); Policiário; Público; 8 de Junho de 2014.
O dia em que o Méno Rock morreu; Torneio "Solução à Vista" 2018 (prova 8); O desafio dos Enigmas; Audiência-Grande Porto, 17 de Março de 2019.
A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça; Torneio "Solução à Vista" 2019 (prova 8); O desafio dos Enigmas; Audiência-Grande Porto, 20 de Janeiro de 2020.
Fado do Ladrão Enamorado; Torneio "Solução à Vista" 2022 (prova 4); O desafio dos Enigmas; Audiência-Grande Porto, 1 de Novembro de 2022.
Vitórias
Solução Mais Original; Campeonato Nacional 2016 (prova 1); Policiário; Público, 2016.
Melhor Solução; Torneio Solução à Vista (prova 3); O Desafio dos Enigmas; Audiência- Grande Porto, 2018.
Melhor Solução; Torneio Solução à Vista (prova 9); O Desafio dos Enigmas; Audiência- Grande Porto, 2018.
Melhor Solução; Torneio Quem é Quem (prova 2); O Desafio dos Enigmas; Audiência- Grande Porto; 2022.
Melhor Solução; Torneio Quem é Quem (prova 3); O Desafio dos Enigmas; Audiência- Grande Porto; 2022.
Melhor Solução; Torneio Quem é Quem (prova 4); O Desafio dos Enigmas; Audiência- Grande Porto; 2022.
Melhor Solução; Torneio Quem é Quem (prova 8); O Desafio dos Enigmas; Audiência- Grande Porto; 2022.
Vencedor; Torneio Quem é Quem; O Desafio dos Enigmas; Audiência- Grande Porto; 2022.
Vencedor da Produção; Torneio Mãos à Escrita 2022-2023;
O Desafio dos Enigmas; Audiência- Grande Porto; 2023
Quanto ao Da Vinci, que ou é novo, ou então é um concorrente conhecido com outro pseudónimo, só o tenho referenciado como vencedor neste torneio, não existindo enquanto autor de problemas policiários.
Vitórias
Melhor Solução; Torneio Solução à Vista 2022-2023 (prova 3); O Desafio dos Enigmas; Audiência- Grande Porto; 2022.
Melhor Solução; Torneio Solução à Vista 2022-2023 (prova 9); O Desafio dos Enigmas; Audiência- Grande Porto; 2022.
Melhor Solução; Torneio Solução à Vista 2022-2023 (prova 12); O Desafio dos Enigmas; Audiência- Grande Porto; 2023.
Vencedor; Torneio Solução à Vista 2022-2023; O Desafio dos Enigmas; Audiência- Grande Porto; 2023.
Um abraço. PAULO (Viseu)
P |
OR muitos ignorado, o cancioneiro português encerra verdadeiras pérolas da criminologia nacional. É o caso da estória que vos vou contar e para a qual vos desafio a descobrir a identidade do autor do roubo da ourivesaria da rua da Paz.
Estávamos em plenos anos 80, tempos áureos da música pop rock portuguesa. Nomes como Rui Veloso, Táxi, Jorge Palma, Luís Portugal ou UHF davam voz a personagens e situações do quotidiano emergente. Eram tempos de afirmação de uma geração que recuperava de 40 anos de ditadura, levando a excessos em que raras vezes não terminavam no aljube da Praça da Batalha.
Numa típica manhã nublosa de fevereiro, a cidade acorda com a notícia que a ourivesaria Paz da mesma artéria da invicta cidade do Porto fora assaltada. A porta das traseiras foi arrombada e o cofre aberto durante a noite, com recurso a explosivos. A fuga foi feita pelo mesmo local por onde entraram, pelo quintal das traseiras com um acesso recôndito através da viela da Carvalhosa.
À data Alves da Selva chamado ao local como inspetor estagiário apurou junto do proprietário que do cofre “apenas” tinha sido furtada uma valiosa gargantilha. Analisado minuciosamente o cenário do assalto, prevalecia no ar o cheiro a dinamite misturado com o cheiro a madeira de mogno dos faustosos expositores de joias. Atendendo aos ligeiros estragos provocados na porta e à opção de entrada que apenas os moradores conheceriam, conclui que o assalto terá sido levado a cabo por algum meliante da zona. Chamou-lhe ainda a atenção um pequeno pedaço de tecido preso num prego na parede, onde o Sr. Almerindo, proprietário da ourivesaria Paz e reconhecido sovina que enriquecera à custa da desgraça dos outros, pendurava os penhores da malta mais aflita. Uns fios de lã de cor preta, que cuidadosamente guardou num saco plástico, conforme tinha visto num filme policial americano no cinema Águia d’ Ouro, na expectativa que pertencessem ao vestuário do ladrão fugitivo.
Num famoso salão de jogos de Cedofeita, o Early Done bilharista, cruzavam-se alguns dos principais suspeitos, Chico Fininho, Toni o Ás dos flippers, o beto Dinis, Jeremias o fora da lei, Gastão o psicadélico desesperado e o não menos famoso Nando o Mau da Fita, qualquer um deles conhecido de Alves da Selva por pequenos delitos e confusões próprios de uma época em que se recuperava a liberdade. Não tinha dúvidas que seria nesse palco de épicas batalhas de bilhar e flippers, entre shots de aguardente ABC e minis Cristal que encontraria o ladrãozeco da joia.
Na manhã do domingo seguinte, Alves da Selva, cumprindo a sua obrigação de devoto católico, foi à missa das 11:00 na igreja da Lapa, após a qual comprava a regueifa para o almoço dominical em casa dos pais aproveitando, como sempre, para lançar o seu charme e consolo a alguma viúva mais carente à qual contava a bravura do povo tripeiro no apoio a D. Pedro IV. Nesse domingo o seu olhar atento de lince predador não pode deixar de reparar numa rapariga morena, sentada 2 bancos à frente do seu, de formas redondas e muito atraente, vestida de modo modesto, que quando voltava da comunhão o ofuscou com brilho do objeto, refletido pelas lâmpadas e velas que ardiam nos antigos candelabros, no bico do seu provocante decote – uma bela gargantilha em nada condizente com a condição modesta do seu vestuário. No final da missa, Alves da Selva aguardou por ela no cimo das escadas da igreja e uma vez mais a pretexto da vida heroica do rei liberal e a sua ligação à cidade, elogiou a joia que a moça tão orgulhosamente trazia ao peito dizendo-lhe que nesse dia até o coração de D. Pedro IV, envolto em formol na sua urna de prata que repousa na igreja, bateu mais forte quando viu a formosura da bela rapariga e a beleza da joia que ostentava, ao qual ela respondeu: “– O meu coração já tem dono e isto é uma vulgar joia de imitação!”
Alves da Selva não tinha dúvidas, aquela era a joia roubada. Fácil foi obter a informação sobre quem era o namorado. Pela troca de 2 cigarros RITZ que restavam no maço de tabaco amarrotado no bolso do seu casaco domingueiro, o sacristão da igreja cuspiu toda a informação que precisava para descobrir o meliante. Para finalizar deixo aqui parte do seu depoimento que face às evidências apresentadas fez questão de descontraidamente cantar uns versos de Fernando Farinha:
“Quis brincar com o destino
Convencido que era forte
E ele pregou-me a partida
De ter de andar toda a vida
Ao desafio com a sorte;
Iludido, não sabia
Que a vida tem o seu perigo
E hoje triste, quem diria
Já não brinco com o destino
Ele é que brinca comigo”
Caro leitor, quem foi o autor do roubo da ourivesaria da rua da Paz?
Solução do Autor:
FADO DO LADRÃO ENAMORADO
Um Original de: Bernie Leceiro (Matosinhos)
“Nunca fui grande ladrão / Nunca dei golpe perfeito / Acho que foi a paixão / Que me aguçou o jeito”, assim canta Rui Veloso a letra de Carlos Tê no seu “Fado do Ladrão Enamorado”, o que poderia ser o epilogo perfeito para o depoimento do autor do roubo à ourivesaria da rua da Paz, mais não é do que parte da música que deu o mote e o enredo para a escrita deste enigma policiário fazendo a ligação a um personagem enigmático cantada por outro autor que muito admiro.
Há músicas que conquistam a nossa empatia pela mensagem que transmitem, outras conquistam-nos pela beleza do seu instrumental, há ainda aquelas com as quais nos identificamos por falarem de determinado estado de espírito ou ponto de vista que partilhamos. No entanto, existem outras músicas, com que simpatizamos, não por nenhum dos motivos nomeados atrás, mas porque gostamos, sem saber bem porquê, dos personagens por elas trazidos e pela simbiose que eles criam com o instrumental que lhes serve de base.
No mundo da ficção, sempre nutri uma especial empatia por aqueles criminosos e larápios que nos eram apresentados de uma forma quase poética pelos seus criadores. Como se a forma quase lírica com que eles nos eram apresentados nos fizesse gostar deles, mesmo que não aprovássemos o que eles faziam. Jeremias, o fora-da-lei de Jorge Palma, é um desses personagens. O produtor de bombas caseiras que as considerava eloquentes e que, ao contrário da maioria dos criminosos, não se sentia vítima da sociedade. Aquele que se vestia de negro, que gostava do quente da aguardente e da forma como os homens se engasgavam quando pronunciavam o seu nome. Jeremias ganha a nossa simpatia no imediato. Não pelo que representa, mas, uma vez mais, pela forma original como foi criado e pela criatividade com que nos foi apresentado. Eu gosto destes foras da lei, aqueles que só existem nos filmes e nas músicas.
Do álbum O Lado errado da Noite de 1985, Jorge Palma canta assim (a negrito, as evidências do problema):
“Vou falar-vos dum curioso personagem: Jeremias, o fora-da-lei
Descendente por linhas travessas do famigerado Zé do Telhado
Jeremias dedicou-se desde tenra idade ao fabrico da bomba caseira
Cuja eloquência sempre o deixou maravilhado
Para Jeremias nada se assemelha à magia da dinamite
A não ser talvez o rugir apaixonado das mais profundas entranhas da terra
Só quando as fachadas dos edifícios públicos explodirem numa gargalhada
Será realmente pública a lei que as leis encerram
Há quem veja em Jeremias apenas mais uma vítima da sociedade
Muito embora ele tenha a esse respeito uma opinião bem particular
É que enquanto o criminoso tem uma certa tendência natural p’ra ser vitimado
Jeremias nunca encontrou razões p’ra se culpar
Porque nunca foi a ambição nem a vingança que o levou a desprezar a lei
E jamais lhe passou pela cabeça tentar alterar a constituição
Como um poeta ele desarranja o pesadelo p’ra lá dos limites legais
Foragido por amor ao que é belo e por vocação
Jeremias gosta do guarda roupa negro e dos mitos do fora-da-lei
Gosta do calor da aguardente e de se seguir remando contra a maré
Gosta da maneira como os homens respeitáveis se engasgam quando falam dele
E da forma como as mulheres murmuram: o fora-da-lei
Gosta de tesouros e mapas sobretudo daqueles que o tempo mais maltratou
Gosta de brincar com o destino e nem o próprio inferno o apavora
Não estando disposto a esperar que a humanidade venha alguma vez a ser melhor
Jeremias escolheu o seu lugar do lado de fora”
“Como sempre vimos referindo, os campeões da Problemística Policiária são apenas aqueles que conseguiram uma melhor participação nas competições, por disporem de melhores condições de tempo ou por eventualmente levarem mais a sério a sua participação, porque quando fazemos do Policiário o nosso prazer principal, no fim de cada dia, já somos verdadeiramente campeões. -Luís Pessoa (LP)
Agradecimento
Blogue RO – 21 de AGOSTO de 2023
https://reporterdeocasiao.blogspot.com/
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