sábado, 1 de julho de 2023

*** MEMÓRIAS DO POLICIÁRIO! - (Por: O Gráfico) - 041 HOMENAGEM AO MESTRE MANUEL CONSTANTINO!

🔎 Memórias do Policiário – 041 🔍

 

🕵️ O Gráfico

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O Gráfico - Especial

📜 HOMENAGEM 📜

🔎 Manuel Constantino 🔍

 

Torneio de Entretenimento Problemística Policiária

Em memória de notáveis Policiaristas:

Sete de Espadas, Detective Misterioso

M. Constantino, Detective Invisível

 

Manuel Constantino

Antelóquio da Etapa n.º 3

HOMENAGEM

 

 

…Chegámos às 41 edições das Memórias do Policiário – O Gráfico e surge-nos a tarefa de escrever sobre Manuel Botas Constantino no intuito de celebrar a sua homenagem no “2.º Torneio de Entretenimento de Problemística Policiária”, numa espécie de antelóquio da terceira etapa deste certame Policiário que será divulgada amanhã, dia 2 de Julho!

Pois é... estávamos aqui, durante duas ou três semanas, a elogiar este insigne Policiarista, a reunir ideias, extractos e a compilar as suas obras e... (quase) nada diríamos sobre a grandeza da sua dinamização, paixão e divulgação em favor do Policiário, na sua generalidade, pois estamos perante um dos mais dedicados e distintos cultores da Literatura Policial, a todos os níveis e na presença de um estudioso, decifrador e produtor, também da Problemística Policiária! Tal como disse Salvador Santos no recente Convívio Policiário de Sintra... “...o Manuel Constantino escreveu, seleccionou e publicou... ene, ene, ene, ene, ene, ene, ene, de obras sobre o Policiário e... Policial...” e recordamo-nos de Ensaios, Contos, Crónicas, Biografias, Estudos sobre Escritores Policiais, Antologias, Ficção Científica, etc.

Dez anos, antes de eu nascer, em 1948, já M. Constantino que também usou os pseudónimos de Constantino, Mário Campino e Zé da Vila escrevia problemas policiários e um deles foi “A Mala Desaparecida” mas além das suas “Investigações em Cinzento” ficou outrossim célebre com as produções do “Avô Palaló” (um dos primeiros problemas foi “Lição Dedutiva do Avô Palaló”) cujo seu fã incondicional se identificou como o Policiarista “ZÉ” (Viseu).

SAUDAÇÕES POLICIÁRIAS.

O Gráfico

 

 

Amigos do Peito

O POLICIARISTA Domingos Cabral (Inspector Aranha) talvez tenha sido o seu melhor amigo e compincha nas actividades policiárias aquele que melhor e de mais perto o conheceu levando-o a afirmar que apesar de ficar contente com o reconhecimento das suas qualidades, Manuel Botas Constantino, formado em Economia e Finanças (21 de Abril de 1925 - 30 de Novembro de 2019) sentia-se incomodado, como se algo de mal tivesse feito, quando recebia elogios sobre as suas obras e trabalhos policiários! Para o “Inspector Aranha” o M. Constantino foi o mais completo e melhor produtor de problemas policiários pela beleza dos seus escritos e dificuldades de decifração.

O Gráfico

 


 

Problemística Policiária

Associação Policiária Portuguesa

Manual da Enigmística Policiária

Escreveu: Manuel Constantino - 1995

 

O homem encontra no enigmático algo que lhe excita o espírito e lhe motiva a curiosidade.

Posto perante um mistério, todas as faculdades se lhe alertam e, atentas, se debruçam em torno do problema.

Sente prazer íntimo em seguir passo a passo todas as pistas até alcançar o objectivo.

Satisfaz-se ao conseguir rodear as dificuldades, tanto como vencer obstáculos que se apresentam intransponíveis.

E quanto mais a precisão dos factos não se permite que se vislumbre sombra de uma estrada, maior é o apego e o desenvolvimento do cérebro, maior é a satisfação da vitória.

Segundo Bergson, um problema que inspira atenção é uma representação duplicada de uma emoção, sendo ao mesmo tempo a curiosidade, o desejo e a alegria antecipada de o resolver. É o desafio posto que impele a inteligência diante das interrogações, vivifica, ou antes vitaliza os elementos intelectuais com os quais fará corpo até à solução.

A própria vida cifra-se em constante mistério, um enigma constante que a humanidade procura solucionar o melhor e mais rapidamente possível. O obscuro nunca nos desampara, desafia-nos.

De prazer espiritual que se sente em desvendar incógnitas, desvanecimento de sobressair, simples divertimento, tudo conduz a que os homens do povo na sua singeleza através de simples adivinhas que andam de boca em boca, os letrados com bem urdidos trabalhos, os sábios na esfera da humanidade, acorram ao seu cultivo e decifração.

 

 


O Avô Palaló

Opinião de: ZÉ (Viseu)

 

O AVÔ PALALÓ – UM HERÓI DE CONSTANTINO

 

Avô Palaló é, para mim, a personagem mais modelada da problemística policiária portuguesa. A sua grande riqueza psicológica é indissociável do facto de ter sido, assumidamente, inspirada no próprio avô materno do seu autor.

Cada situação que o Avô Palaló é chamado a resolver é a essência de uma novela que Constantino gostaria de ter escrito, sempre, mas que nunca teve espaço para publicar, nas secções policiárias em que colaborou. São momentos de vida, onde tomamos conhecimento com uma vasta galeria de personagens realmente ligadas ao autor (pais, familiares, amigos e empregados do avô) colocadas no autêntico espaço físico do Ribatejo de há quase 80 anos. Por isso, aí encontramos as grandes cheias do Tejo, as lezírias, os touros, os campinos, os trabalhos agrícolas das terras do seu avô – os rituais da vida rural da infância do menino Manuel! Infância que foi, notoriamente, muito moldada pela figura tutelar e patriarcal do avô, que o ajudou a criar, a formar e até lhe salvou a vida.

Para homenagear esse avô, M. Constantino criou esta personagem de investigador, que resolve todos os casos do dia-a-dia com uma técnica que podemos definir como intuitiva/dedutiva. Partindo de uma aguda intuição para observar e entender, rapidamente, o que o rodeia, Palaló vai construindo a solução do problema de uma maneira natural – revestindo o esqueleto da intuição com os pormenores da dedução.

Da brilhante obra de Mestre Constantino, os problemas de Palaló são, claramente, os meus preferidos, até pelo valor literário (e etnográfico) das suas descrições.

 


 

 

PROBLEMA POLICIÁRIO

LIÇÃO DEDUTIVA DO AVÔ PALALÓ

Um Original de:

 M. Constantino

 

 

O

NOVO ANO ESCOLAR iniciara-se há sete dias. Manelzito, ao contrário do costume, não estava atento. Suspirava pelo toque do pequeno sino, à entrada da escola. Mal a dona Guilhermina puxou o badalo, saiu disparado… Sacola de serapilheira a tiracolo, na qual o livro único não calava o traquinar do lápis na ardósia! As pernas magras, apertadas nos calções curtos, impediam passadas mais longas; contentou-se com passos miudinhos, num frémito dançar das ancas.

Quando puxou o cordel que abria a pequena porta incrustada no grande portão de zinco, já ia a gritar: – “vó”… “vó”, quero pão com “chóriço”! Vou ter com o “vô” às Milheiras…

Avó Júlia sorriu docemente (ela bem sabia que o neto não usufruía aquele mimo em casa da filha, onde, sem ser uma casa de faltas, os enchidos, logo que saíam do fumeiro, eram limpos e mergulhados em azeite, em potes de barro, para poderem ser usados, com peso e medida, durante todo o ano. Toucinho, sim, nas três formas: assado, em torresmos ou curado)... Deu-lhe o acepipe, com um grande beijo no alto da cabeça, e recomendou: – Vai devagar, filho…

Manelzito há muito tirara a fisga da sacola. Com a boca cheia, atravessou a Rua do Paço, parou um momento a ver uma junta de bois a puxar um carro com um grande casco de vinho, enveredou pela Rua dos Aliados até à Rua das Milheiras, onde, então, findava o casario da vila. Dum lado, a parede do pátio do Vasco, ao qual se seguia o olival da Marquesa; do outro, um pequeno muro caído; depois, as hortas até ao Pupo. Ao lado do muro, um gato amarelo estava entretido com um carreiro de formigas…

Adiantou-se. O gato não se mexeu; era demasiado novo para conhecer as diabruras dos rapazes. Manelzito deixou cair uma ínfima migalha no formigueiro; logo as formigas, como que conversando entre si, iniciaram o arrasto. O gato interveio, com uma patada. Manelzito acordou do feitiço, pisou o rabo do gato, que saltou no ar com um miado angustioso, desfez o vaivém do formigueiro com a ponta de um graveto e dirigiu-se para a horta das Milheiras, numa corrida frouxa. Um cão saiu de um valado lateral e ladrou-lhe. Apanhou uma pedra e procurou atingir o animal, que se refugiou para além da sebe, lançou-se pela rua de areia solta, perseguido pelo latir de “apanha não apanha” do rafeiro, que voltava à carga. Enfiou em corrida pelo portão da horta… foi até ao tanque e ao casarão!

A voz do Avô veio dos canteiros do feijão verde, emaranhados nas canas de apoio que encobriam a altura de um homem.

– Estou a regar. Vem ter comigo!...

– Mas eu não o vejo, vô…

– Vai até ao tanque e é fácil encontrares-me…

Ágil, subiu para a pia e desta para a borda do tanque, sem nada ver – apenas a água sussurrante corria da pia…

– Vô, vô… não consigo ver-te!

Ficou sentado, a balançar as pernas. Pouco depois, o rosto curtido e inteligente do Avô Palaló saiu do feijoal. Ajudou-o a descer e, em tom chocalheiro, foi dizendo:

– Fizeste asneira, rapaz. Não precisavas subir ao tanque! Só precisavas puxar pela cabeça, pensar… E explicou porquê.

Recebeu a explicação, distraído. A atenção já se dirigia para a fisga e um pássaro que viera para o interior do telheiro…

– Vô… vô, está ali um ninho de cuco… Eu vi-o…

– Nova asneira, rapaz…

Chegou a altura de perguntar: Em que consistiam as asneiras apontadas pelo Avô Palaló? Justifique as respostas.

 

 

A Solução do Autor:

 

 

P

ARA o Manelzito encontrar o avô, não necessitava de subir ao tanque. Bastar-lhe-ia seguir a água que saía do tanque até ao local da rega; era como seguir o rio, da nascente à foz.

 

Por outro lado, segunda asneira, esta dupla: Naquele período do ano (Outubro de 1950, primeira semana do novo ano lectivo – as aulas começavam no dia 7), já não havia cucos entre nós. Como ave migratória, já haviam partido, em busca de climas mais quentes.

 

E, também, nem ninhos fazem, limitando-se a pôr os ovos nos ninhos dos outros pássaros, e eles que lhes choquem os ovos e criem os cucos nascidos!

 

Logo, Manelzito não poderia ter visto um cuco (em meados de Outubro), a voar para o seu ninho (não o faz).

 


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OPINIÃO
LP (Luís Pessoa)

 

MANUEL BOTAS CONSTANTINO foi um dos vultos mais importantes do Policiário, não tanto como decifrador, mas como produtor de excelência e ensaísta de enorme qualidade.

 

A homenagem que lhe podemos fazer é relembrar os seus escritos e tentar que a sua memória no Policiário jamais seja esquecida.

 

Manuel Constantino que se orgulhava de também ter passado por Almada, formado em Economia e Finanças, justificava-se que preferia a produção em lugar da decifração porque devido à sua carreira profissional não dispunha de tempo para decifrar e porque gostava de participar em todas as secções existentes... produzindo um problema policiário para cada um dos torneios de cada secção conseguia, desta maneira, participar em todas elas. – O GRÁFICO

 

 

A Homenagem ainda em Vida!

 

Opinião de: Inspector Aranha

 

CONSTANTINO – UM GRANDE NOME DO POLICIÁRIO PORTUGUÊS

 

M. Constantino (principal nome literário de Manuel Botas Constantino, já que também escreveu sob os pseudónimos de “Mário Campino” e “Zé da Vila”) é, incontestavelmente, um dos maiores nomes de sempre do Policiário Português, nomeadamente no campo da produção.

Nascido em Almeirim em 21.04.25, terra onde ainda vive e ama devotadamente, passou pelo Ensino Secundário e Universitário, até se formar em Economia e Finanças, no I.S.E.F., entrando, profissionalmente, no Ministério das Finanças, onde desempenhou os cargos – não correspondendo a ordem às funções – de Jurista, Perito, Gestor Tributário, Chefe de Repartições de Finanças, Professor de Direito Fiscal, Delegado do Ministério Público junto do Supremo Tribunal, Agente do Ministério Público de 1.ª Instância, etc. .

Desempenhou, entre outros, os cargos de Vereador da Câmara Municipal de Almeirim e de Deputado Municipal, Presidente da Assembleia dos Bombeiros Voluntários, Director do CRIAL (Centro de Reabilitação Infantil de Almeirim) e Director do Jornal “O Almeirinense”.

No Policiário iniciou-se em 1945, como solucionista e produtor, tendo pouco depois criado e dirigido Secções nas revistas “Altura”, “Palavras Cruzadas”, “Auditorium”, “Charadista” “Matuto” e “Tempos Livres” e nos Jornais “O Enigmista” e “O Almeirinense”.

Colaborou também activamente nas revistas especializadas “Selecções Mistério” – da qual foi um dos Coordenadores de edição – “XYZ Magazine” e “Célula Cinzenta”, esta editada pela Associação Policiária Portuguesa. Nesta, da qual foi um dos fundadores, integrou os Órgãos Directivos, ocupando, em diversos mandatos, os Cargos de Presidente da Assembleia-Geral, Presidente da Direcção e Presidente do Conselho Fiscal.

Excepcional produtor de problemas policiais, assinou, ao longo dos anos, muitos dos melhores destes enigmas entre nós publicados (30 dos quais se encontram compilados em livro), tendo-se, nesta modalidade, sagrado Campeão Nacional, para além de conquistado muitos outros certames.

Sempre sob os temas policiais e de mistério, a sua paixão de sempre, escreveu, ao longo de mais de 60 anos de intensa actividade – que felizmente ainda mantém – milhares de páginas de ensaios, manuais, biografias, crónicas, contos, etc. Destaquemos a “História da Narrativa Policiária”, a “Antologia Portuguesa de Contos Policiais” (ambas em 2 volumes), o “Grande Livro da Problemística Policiária”, o “Manual da Enigmística Policiária”, “Antologia dos 150 Anos da Literatura Policial (1841 a 1991), “Os Elementos Fundamentais na Narrativa Policiária Clássica”, etc. etc. Lastimavelmente, grande parte das suas obras de maior fôlego nunca conheceram divulgação pública, já que são demasiadas extensas para poderem serem publicadas nas (hoje poucas) Secções Policiais existentes, e por não haver entre nós (pensam os Editores) um público interessado nestes temas suficientemente numeroso para justificar comercialmente a sua edição em livro... E assim se perde, ingloriamente, uma vasta obra.

Eis, necessariamente de forma muita resumida, o perfil biográfico de M. Constantino – um grande nome do Policiário Português.

Domingos Cabral (Inspector Aranha)

 

 

 

Um Mestre, um exemplo.

 Obrigado pela inspiração.

Artur Costa (Cobalt 60) - Março de 2012

 

 

Blogue RO – 01 de JULHO de 2023

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