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domingo, 19 de outubro de 2025

O CASO (sério) DA RUA das TRINAS ☝Edições Fora da Lei Novela de Dez Episódios -- 🕵️ Oito Autores - 2018 (TPL)

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EPISÓDIO 2 – O VELÓRIO DO TÓ GULA

Por: A. Raposo

 

(Contado pelo consagrado detective Tempicos e grafado pelo seu criador A. Raposo)

     A Igreja de S. Paulo fica no largo do mesmo nome, junto à rua mais animada de Lisboa – Rua Nova do Carvalho – que tem um arco a sustentar a Rua do Alecrim a qual desagua no Cais de Sodré. O verdadeiro bas-fond de Lisboa.

O falecido Tó Gula cresceu e fez-se homem entre os bares “Califórnia” e “Texas Bar” baluartes educadores da juventude, aquela que não conhecera a Universidade. Aí fizera sala após os jogos do seu clube União da Madragoa – bebendo umas cervejolas na boa companhia das senhoras que ali paravam na esperança da chegada ao Tejo de uma esquadra Americana Tó Gula passava ali belos serões que muitas vezes se animavam em arraiais de forte pancadaria entre os naturais e os camones bêbados. De facto, fora em vida guarda-redes do União, no verão, à noite ainda fazia uma perninha a cantar no bairro alto, numa casa de fados com petiscos e tinto do Cartaxo. Por isso aos domingos de jogo quase adormecia entre os postes, na Tapadinha, no campo cedido pelo Atlético Clube de Portugal do qual o União era filial.

Tó Gula era bem-apessoado – dono de uma bela cabeleira preta que ele cobria de brilhantina e forçava o cabelo à frente numa poupinha que deixava de quatro as miúdas do bairro, era a moda da época. As senhoras mais íntimas dos bares chamavam-no de “o meu Tónecas” e ele gostava.

Porém a vida é curta e para Tó Gula ainda foi mais. Aos 25 anos já jazia no seu caixão, na sala-velório da Igreja de S. Paulo. Barbaramente assassinado, na noite anterior, por autor desconhecido.

A sala era pequena e tinha sido roubada ao espaço da sacristia por um padreca esperto, conhecido por Novena, que tinha ali uma fonte de rendimento segura que dividia com o sacristão.

À roda do caixão duas filas de bancos corridos onde se alinhava apertadinho o pessoal.


    O choro ouvia-se na rua pois entre irmãos e irmãs Tó Gula tinha sete.

Além da família juntava o pessoal do Clube Futebol e da Casa de Fados. Uma boa parte já ficava na rua, o que permitia fumar um cigarrito e até contar umas anedotas, muito tradicional nos velórios.

Uma moça roliça e de fartos seios que vendia esticadores para o colarinho, pentes e outras minudências à porta da Ribeira chorava como uma vitela desmamada, pois tinha pelo Tó uma paixão assolapada.

A viúva do Tinhoso contribuía com um chorinho manso, ao lado do Presidente do União, o Senhor Euclides, que insistia em meter no caixão, as chuteiras, a camisola e a bola do falecido. O pessoal do Fado tinha outro projecto. Uma coroa em forma de guitarra, salpicada de papoilas, insistia em meter no féretro o Sr. Quim Zé da casa de fados. A algazarra começou e ultrapassou os choros.

Às tantas a coisa começou a ferver exactamente quando uma delegação de senhoras dos bares Texas e Califórnia chegavam de vela em riste e cantando o padre-nosso.

No meio da confusão o amigo João da Bica, caindo de bêbado, chegou--se ao caixão, abraçou o morto e começou a chorar alto e bom som. Ninguém conseguia retirá-lo de cena.

O abraço ao falecido foi de tal forma forte que Tó Gula ficou despenteado e meio saliente do féretro, como se estivesse a espreitar o pessoal sentado à sua volta.

Dona Isaura não aguentou a pressão e deu-lhe o badagaio e tombou no chão frio da sala. O pessoal começou a arrastar a Dona Isaura e o Quim Costa, seu homem, não gostou da brincadeira. Gritou com o vozeirão de vendedor de peixe:

– Alto e pára o baile! A minha Isaura não vai assim de rastos para a rua. Chamem a Polícia. Chamem o guarda-noturno. Chamem o caraças!

O Padre Novena que pensava dar missa de corpo presente, não aguentou mais a situação e disse para quem o quis ouvir:

– Deus me perdoe, mas ninguém mexe no morto nem na dona Isaura, vai tudo para a rua e puta que os pariu! Ai, valha-me Deus!

 







 

VOLTAREMOS NO PRÓXIMO DOMINGO, 26 de Outubro, com o Episódio n.º 3 - JOGOS DE PODER, por: DETECTIVE JEREMIAS.🧐


 


👌 FELIZ Domingo!


📔BOAS Leituras!

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