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terça-feira, 30 de setembro de 2025

👣 Primórdios da Problemística Policiária Portuguesa »»» PPPP »»» CORREIO POLICIAL - Domingos Cabral ☝ (Re)publicação -- "CORREIO POLICIAL" de: 16.JUL.2021

🧐 🕵️ Primórdios da Problemística Policiária Portuguesa...👣👣 🔍

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 *** 44.ª Edição! 🎓 📖

 


PRIMÓRDIOS DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PORTUGUESA

POR: DOMINGOS CABRAL

 

(CONTINUAÇÃO) - FINAL

CICLO REINALDO FERREIRA – “REPÓRTER X” 


*  *  *  *  *

 

Completámos, na passada semana, a reprodução dos denominados "Cinquenta Contos Misteriosos", de Reinaldo Ferreira - "Repórter X" - que o “Janeiro” começou a divulgar em 1 de Fevereiro de 1927, marcando o início da problemística policiária em Portugal.

     Encerramos assim, hoje, o Ciclo Reinaldo Ferreira, que constitui o primeiro capítulo dos primórdios da história da modalidade - com a inserção de mais um "Conto Misterioso" do autor... que afinal escreveu 51 e não 50..., e que, no jornal “O Primeiro de Janeiro”, antecedeu a publicação destes, como modelo, para melhor compreensão dos leitores para o que iria seguir-se...


     Aqui fica, pois, a transcrição do anúncio feito pelo Jornal na sua l.ª página, seguida do referido conto espécime.

 

*  *  *  *  *


“OS CONTOS MISTERIOSOS”

 

“É DIFÍCIL DECIFRAR OS “CONTOS MISTERIOSOS”?


“O JÁ CÉLEBRE CONCURSO QUE O “PRIMEIRO DE JANEIRO” VAI INICIAR NO PRÓXIMO DIA 1”

 

NÃO É DIFÍCIL!

 

LEIAM o conto que se segue – “MATARAM O JACOB”


“Conto specimen – Conto modelo – Este conto não entra no concurso”.

 

Publicado em “O Primeiro de Janeiro” 

Em 29 de Janeiro de1927

CONTO # 0

Problema Explicativo, extra concurso

MATARAM O JACOB!

 

*  *  *  *  *

 

“OS 50 CONTOS MISTERIOSOS” 

N.º 0 –  MATARAM O JACOB

 

      Naquela manhã, o bulício aritmico do manicómio, calara-se, abafado num semi-silencio de tragédia. Os próprios loucos, convulsionados continuamente pela epilepsia das suas tragédias – pareciam contagiados pelo pavor mudo que adensava os ares do Hospital.

        Havia um louco que tinha sido assassinado!

        Um guarda, ao abrir, de manhã, a cela 16 – encontrara um cadáver. A navalha do criminoso escrevera um grosso traço vermelho no pescoço da víctima.

       Quem tinha sido? A quem podia interessar a morte de um pobre alienado, sem fortuna, sem odios? Vieram detectives da polícia… E todos cruzavam os braços, como se o mistério daquela morte fosse um dogma!

*  *  * 

         Jacob de Lemos, se chamava o morto. Após uma mocidade que fôra de tragedia e de miseria – ele conseguira passar à realidade o maior dos seus sonhos.

Desde muito novo que se apaixonara pelo sport. E de todos os sports havia um que o injectava com as misteriosas morfinas do paraizo: o box.

        Jacob nascera “boxeur”, como podia ter nascido escritor ou musico. Uma atracção especial o levara aos espectáculos de pugilato, de preferência a qualquer outro. Quando os professores, atraídos pela sua vocação febril, tentaram ensinar-lhe a tecnica, pasmaram ante a destreza e o poderio do neófito.

        Mas no “box”, como em todas as profissões, não triunfa quem deve: triunfa o habilidoso, o que dispõe de maior soma de velhacaria ou de capital para a publicidade. Jacob era pobre – e o seu talento especialisado não bastava para o erguer ao quarto doirado da glória e da fortuna.

        Jacob tivera um amigo dedicado: Leopoldo Ramos.

        Leopoldo Ramos, rapaz rico, sincero nas suas paixões, vira-o uma vez. Soube das dificuldades que tinham sido, à volta do futuro “boxeur”, um arame farpado.  Ofereceu-se para o auxiliar, contando com o seu dinheiro, o caminho triunfal que lhe pertencia. Alugou-lhe “rings”, fez-lhe cartazes, subornou-lhe reclamistas. E em dois anos, Jacob, campeão de Portugal, era vigiado pelos grandes emprezarios estrangeiros.

*  *  * 

        Jacob tinha um rival. Carvalhinho, rapaz da sua idade, luctador também triunfante, das mesmas dificuldades, estreara-se no “ring” na mesma época. Só um detalhe os diferenciava: é que Carvalhinho tinha muito menos “vocação” do que Jacob.

        Possuidor de uma enorme riqueza muscular, Carvalhinho estava destinado, aparentemente, à supremacia do boxe em Portugal. Mas faltava-lhe a inspiração, a virtuosidade da arte, o golpe inesperado, a esgrima milagrosa do sôco.

        E em três tentativas – três vezes Carvalhinho fôra vencido por Jacob.

 *  *  *

        Um dia Jacob aceitou o desafio lançado por Bluch, o campeão negro de Cuba. Ao segundo “round”, o árbitro contou até dez, sem que o negro se levantasse do estrado. E Jacob fora levado em triunfo. E o vencedor de campeões não contava com uma casca de tangerina que estava á porta do seu camarim.

        Escorregou e bateu com a cabeça numa porta de ferro.

        Oito dias depois entrava no manicómio.

        O protector de Jacob, nas épocas de glória, não o quis abandonar nas horas de desgraça. Levava-o de automóvel ao manicómio e tomou a responsabilidade do pagamento por um quarto particular.

        Um ano depois, o protector, Leopoldo Ramos, entrou na sala de jantar do seu palacete – visinho ao manicomio, e, como uma visão vermelha de pesadelo, viu sentado na cabeceira da meza, o seu protegido: o “boxer” Jacob.

        Atontado com a surpreza, perguntou:

        - Que quer isto dizer? Deram-te alta no Hospital?

        E o louco, de olhos esgaziados, respondeu:

        - Não. Fui eu que fugi. Fugi porque tinha umas contas a liquidar contigo. Fôste tu que puzeste a casca da tangerina à porta do meu camarim. Não posso ter tranquilidade enquanto não te vir morto a meus pés.

        Leopoldo compreendeu que a amisade do “boxeur” transformara-se em odio de loucura. Agil, conseguiu esquivar-se ao “corp-corp” – e fechou-o na casa de jantar. Chamou a polícia – e horas depois Jacob reentrava no manicomio…

 *  *  * 

        Constou que Jacob melhorava… Que a sua cura era uma questão de mezes. E o rival, o então já célebre Carvalhinho, começou a amarelecer:

        - Se Jacob volta ao “ring”, adeus gloria…

*  *  *  

        Outro ano rolou no abismo do tempo!

        Leopoldo, o protector de Jacob, deixara de ser o rapaz alegre de sempre. E uma madrugada, regressando dum “cabaret” onde tentara distrair-se, ao entrar no patamar de sua casa, viu dilatar-se da sombra, uma figura sinistra: era Jacob.      E, como no ano anterior, perguntou:

        - Tu, Jacob? Que quer isto dizer? Deram-te alta?

        - Não! Fugi… É que eu não posso ser feliz enquanto pensar que o homem que poz a casca de tangerina à porta do meu camarim, vive em liberdade. Has-de morrer às minhas mãos!

        E o louco esboçou o ataque. Leopoldo conseguiu saltar para o passeio. Naquele momento passava, lugubre e sonolenta, uma patrulha da Guarda. E Jacob voltou ao manicomio.  

*  *  *  

        No “hall” do manicomio, um grupo discutia o trágico acontecimento: Carvalhinho, Leopoldo, o crítico Anselmo – e o agente Romoaldo. E toda a vida de Jacob, passou, como um “film” cinematografico, no murmúrio da conversa. E o agente Romoaldo, que se deixara enervar pelo que ouvia, exclamou:

        - Não é difícil descobrir o assassino de Jacob…

        - ?

        - O assassino de Jacob está neste grupo.

        Entreolharam-se, pálidos uns, rubros outros, vexados por aquela acusação cega que caía sobre eles.

        - Fale claro – exigiu o crítico Anselmo. Quem julga o senhor que foi o assassino de Jacob?

        E o agente, sem hesitar, respondeu:

        - O assassino de Jacob foi…

*  *  *   

        Viram? Já reflectiram quem podia ser, quem podia ter interesse na morte do boxeur Jacob? Carvalhinho ou Leopoldo?

 

*  *  *  *  *

NOTA: Foi mantida a grafia da época (1927)


*  *  *  *  *

 

 

        Amanhã diremos quem foi o assassino de Jacob, e então todos compreendem que é fácil decifrar.

 

        E na realidade, no dia seguinte, lá estava a

        Solução do Problema Explicativo

        MATARAM O JACOB!

        Afinal quem assassinou o «boxeur» enlouquecido?

        O rival Carvalhinho ou o protector Leopoldo?

        Quem foi o assassino de Jacob?

 

*  *  *  *  *  

                              

        Foi o protector Leopoldo.

        Porquê? Vão já compreender. Sigam o nosso raciocínio.

        Qual dos dois tinha maior interesse no desaparecimento do louco? Carvalhinho via nele um rival perigoso, mas Leopoldo via nele o seu algôz. A ideia fixa do louco fazia persegui-lo, com ânsias de morte… E por isso Leopoldo andava «cabisbaixo, pálido, preocupado…» Era natural que mais dia menos dia Jacob conseguisse fugir e pôr em prática a sua vingança de louco. Havia só uma maneira de se libertar daquela perseguição: era matar Jacob – o seu protegido de véspera…

 

*  *  *  *  *

 


 

Notas finais relativamente ao Ciclo  

 Reinaldo Ferreira  

O ciclo que aqui designámos por (de) Reinaldo Ferreira que “durante mais de três meses - pondo de parte uma ou outra falha, quando havia notícias de tomo - o concurso, em regra, teve honras de primeira página. O conto era acompanhado de um cupão, destinado a ser preenchido pelos concorrentes, recortado e colado numa caderneta”.

Por sua vez, os pequenos enigmas serviram ao "Repórter X" como mote de várias narrativas que viria a escrever mais tarde.

A partir do conto n.º 33, saído em meados de Março, o "Janeiro" anunciou que já estavam à venda, na Administração do jornal, as cadernetas em que deviam ser colados os "coupons", o seu preço de 1$00, e a capa, ilustrada, evocava personagens dos "contos misteriosos". Findo o certame, o periódico, em 8 de Abril, tornou pública a sua intenção de repetir os "contos" que, pelo "engrossamento dos pedidos", mais frequentemente eram referidos como tendo "escapado à leitura dos concorrentes", e mais dizia que, brevemente, seria fixado o prazo para a entrega das cadernetas. Duas semanas depois (22/4), já estava instalado o serviço e recepção e, passado um mês (22/5), o "Janeiro" punha à venda os jornais com todos os "coupons".

O afluxo de cadernetas deve ter excedido as expectativas porque só em 1 de Outubro é que se procedeu ao sorteio. Realizou-se às 16 horas, em sessão a que presidiu Artur de Sousa, chefe de contabilidade da administração do periódico, secretariado pelo jornalista António Sarmento e pelo concorrente António Augusto Silva. No dia seguinte, o "Janeiro" fazia descer o pano sobre o sensacional certame, relatando como decorrera a assembleia e divulgando "a relação dos números premiados; foram distribuídos 42 prémios para "Cadernetas simples , e 6 outros para "Cadernetas duplas”.

 

(Texto reproduzido do livro 

 "O Porto do "Repórter X", de Joel Lima)

 



 

DOMINGOS CABRAL DA SILVA

 »»» Publica-se aos dias 15 e último de cada mês! «««  

 

 

 

 

INFORMAMOS OS LEITORES, ESPECIALMENTE AQUELES QUE TÊM PERGUNTADO PELAS "SOLUÇÕES" DOS "CONTOS/PROBLEMAS POLICIÁRIOS", QUE NO PRÓXIMO DIA 15 DE OUTUBRO (Edição n.º 45) APRESENTAREMOS TODAS AS "RESPOSTAS" (PLAUSÍVEIS), MESMO QUE RESUMIDAMENTE. 

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