🧐 🕵️ Primórdios da Problemística Policiária Portuguesa...👣👣 🔍
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PRIMÓRDIOS DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PORTUGUESA
(CONTINUAÇÃO) - FINAL
CICLO REINALDO FERREIRA – “REPÓRTER X”
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Completámos, na passada semana, a reprodução dos denominados "Cinquenta Contos Misteriosos", de Reinaldo Ferreira - "Repórter X" - que o “Janeiro” começou a divulgar em 1 de Fevereiro de 1927, marcando o início da problemística policiária em Portugal.
Encerramos assim, hoje, o Ciclo Reinaldo Ferreira, que constitui o primeiro capítulo dos primórdios da história da modalidade - com a inserção de mais um "Conto Misterioso" do autor... que afinal escreveu 51 e não 50..., e que, no jornal “O Primeiro de Janeiro”, antecedeu a publicação destes, como modelo, para melhor compreensão dos leitores para o que iria seguir-se...
Aqui fica, pois, a transcrição do anúncio feito pelo Jornal na sua l.ª página, seguida do referido conto espécime.
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“OS CONTOS MISTERIOSOS”
“É DIFÍCIL DECIFRAR OS “CONTOS MISTERIOSOS”?
“O JÁ CÉLEBRE CONCURSO QUE O “PRIMEIRO DE JANEIRO” VAI INICIAR NO PRÓXIMO DIA
1”
NÃO É DIFÍCIL!
LEIAM o conto que se segue – “MATARAM O JACOB”
“Conto specimen – Conto modelo – Este conto não entra no concurso”.
Publicado em “O Primeiro de Janeiro”
Em 29 de Janeiro de1927
CONTO # 0
Problema Explicativo, extra concurso
MATARAM O JACOB!
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“OS 50 CONTOS MISTERIOSOS”
N.º 0 – MATARAM O JACOB
Naquela manhã, o bulício aritmico do manicómio, calara-se, abafado num semi-silencio de tragédia. Os próprios loucos, convulsionados continuamente pela epilepsia das suas tragédias – pareciam contagiados pelo pavor mudo que adensava os ares do Hospital.
Havia um louco que tinha sido assassinado!
Um guarda, ao abrir, de manhã, a cela 16 – encontrara um cadáver. A navalha do criminoso escrevera um grosso traço vermelho no pescoço da víctima.
Quem tinha sido? A quem podia interessar a morte de um pobre alienado, sem fortuna, sem odios? Vieram detectives da polícia… E todos cruzavam os braços, como se o mistério daquela morte fosse um dogma!
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Jacob de Lemos, se chamava o morto. Após uma mocidade que fôra de tragedia e de miseria – ele conseguira passar à realidade o maior dos seus sonhos.
Desde muito novo que se apaixonara pelo sport. E de todos os sports havia um que o injectava com as misteriosas morfinas do paraizo: o box.
Jacob nascera “boxeur”, como podia ter nascido escritor ou musico. Uma atracção especial o levara aos espectáculos de pugilato, de preferência a qualquer outro. Quando os professores, atraídos pela sua vocação febril, tentaram ensinar-lhe a tecnica, pasmaram ante a destreza e o poderio do neófito.
Mas no “box”, como em todas as profissões, não triunfa quem deve: triunfa o habilidoso, o que dispõe de maior soma de velhacaria ou de capital para a publicidade. Jacob era pobre – e o seu talento especialisado não bastava para o erguer ao quarto doirado da glória e da fortuna.
Jacob tivera um amigo dedicado: Leopoldo Ramos.
Leopoldo Ramos, rapaz rico, sincero nas suas paixões, vira-o uma vez. Soube das dificuldades que tinham sido, à volta do futuro “boxeur”, um arame farpado. Ofereceu-se para o auxiliar, contando com o seu dinheiro, o caminho triunfal que lhe pertencia. Alugou-lhe “rings”, fez-lhe cartazes, subornou-lhe reclamistas. E em dois anos, Jacob, campeão de Portugal, era vigiado pelos grandes emprezarios estrangeiros.
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Jacob tinha um rival. Carvalhinho, rapaz da sua idade, luctador também triunfante, das mesmas dificuldades, estreara-se no “ring” na mesma época. Só um detalhe os diferenciava: é que Carvalhinho tinha muito menos “vocação” do que Jacob.
Possuidor de uma enorme riqueza muscular, Carvalhinho estava destinado, aparentemente, à supremacia do boxe em Portugal. Mas faltava-lhe a inspiração, a virtuosidade da arte, o golpe inesperado, a esgrima milagrosa do sôco.
E em três tentativas – três vezes Carvalhinho fôra vencido por Jacob.
* *
*
Um dia Jacob aceitou o desafio lançado por Bluch, o campeão negro de Cuba. Ao segundo “round”, o árbitro contou até dez, sem que o negro se levantasse do estrado. E Jacob fora levado em triunfo. E o vencedor de campeões não contava com uma casca de tangerina que estava á porta do seu camarim.
Escorregou e bateu com a cabeça numa porta de ferro.
Oito dias depois entrava no manicómio.
O protector de Jacob, nas épocas de glória, não o quis abandonar nas horas de desgraça. Levava-o de automóvel ao manicómio e tomou a responsabilidade do pagamento por um quarto particular.
Um ano depois, o protector, Leopoldo Ramos, entrou na sala de jantar do seu palacete – visinho ao manicomio, e, como uma visão vermelha de pesadelo, viu sentado na cabeceira da meza, o seu protegido: o “boxer” Jacob.
Atontado com a surpreza, perguntou:
- Que quer isto dizer? Deram-te alta no Hospital?
E o louco, de olhos esgaziados, respondeu:
- Não. Fui eu que fugi. Fugi porque tinha umas contas a liquidar contigo. Fôste tu que puzeste a casca da tangerina à porta do meu camarim. Não posso ter tranquilidade enquanto não te vir morto a meus pés.
Leopoldo compreendeu que a amisade do “boxeur” transformara-se em odio de loucura. Agil, conseguiu esquivar-se ao “corp-corp” – e fechou-o na casa de jantar. Chamou a polícia – e horas depois Jacob reentrava no manicomio…
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Constou que Jacob melhorava… Que a sua cura era uma questão de mezes. E o rival, o então já célebre Carvalhinho, começou a amarelecer:
- Se Jacob volta ao “ring”, adeus gloria…
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Outro ano rolou no abismo do tempo!
Leopoldo, o protector de Jacob, deixara de ser o rapaz alegre de sempre. E uma madrugada, regressando dum “cabaret” onde tentara distrair-se, ao entrar no patamar de sua casa, viu dilatar-se da sombra, uma figura sinistra: era Jacob. E, como no ano anterior, perguntou:
- Tu, Jacob? Que quer isto dizer? Deram-te alta?
- Não! Fugi… É que eu não posso ser feliz enquanto pensar que o homem que poz a casca de tangerina à porta do meu camarim, vive em liberdade. Has-de morrer às minhas mãos!
E o louco esboçou o ataque. Leopoldo conseguiu saltar para o passeio. Naquele momento passava, lugubre e sonolenta, uma patrulha da Guarda. E Jacob voltou ao manicomio.
* * *
No “hall” do manicomio, um grupo discutia o trágico acontecimento: Carvalhinho, Leopoldo, o crítico Anselmo – e o agente Romoaldo. E toda a vida de Jacob, passou, como um “film” cinematografico, no murmúrio da conversa. E o agente Romoaldo, que se deixara enervar pelo que ouvia, exclamou:
- Não é difícil descobrir o assassino de Jacob…
- ?
- O assassino de Jacob está neste grupo.
Entreolharam-se, pálidos uns, rubros outros, vexados por aquela acusação cega que caía sobre eles.
- Fale claro – exigiu o crítico Anselmo. Quem julga o senhor que foi o assassino de Jacob?
E o agente, sem hesitar, respondeu:
- O assassino de Jacob foi…
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Viram? Já reflectiram quem podia ser, quem podia ter interesse na morte do boxeur Jacob? Carvalhinho ou Leopoldo?
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NOTA: Foi mantida a grafia da época (1927)
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Amanhã diremos quem foi o assassino de Jacob, e então todos compreendem que é fácil decifrar.
E na realidade, no dia seguinte, lá estava a
Solução do Problema Explicativo
MATARAM O JACOB!
Afinal quem assassinou o «boxeur» enlouquecido?
O rival Carvalhinho ou o protector Leopoldo?
Quem foi o assassino de Jacob?
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Foi o protector Leopoldo.
Porquê? Vão já compreender. Sigam o nosso raciocínio.
Qual dos dois tinha maior interesse no desaparecimento do louco? Carvalhinho via nele um rival perigoso, mas Leopoldo via nele o seu algôz. A ideia fixa do louco fazia persegui-lo, com ânsias de morte… E por isso Leopoldo andava «cabisbaixo, pálido, preocupado…» Era natural que mais dia menos dia Jacob conseguisse fugir e pôr em prática a sua vingança de louco. Havia só uma maneira de se libertar daquela perseguição: era matar Jacob – o seu protegido de véspera…
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Notas finais relativamente ao Ciclo
Reinaldo Ferreira
O ciclo que aqui designámos por (de) Reinaldo Ferreira que “durante mais de três meses - pondo de parte uma ou outra falha, quando havia notícias de tomo - o concurso, em regra, teve honras de primeira página. O conto era acompanhado de um cupão, destinado a ser preenchido pelos concorrentes, recortado e colado numa caderneta”.
Por sua vez, os pequenos enigmas serviram ao "Repórter X" como mote de várias narrativas que viria a escrever mais tarde.
A partir do conto n.º 33, saído em meados de Março, o "Janeiro" anunciou que já estavam à venda, na Administração do jornal, as cadernetas em que deviam ser colados os "coupons", o seu preço de 1$00, e a capa, ilustrada, evocava personagens dos "contos misteriosos". Findo o certame, o periódico, em 8 de Abril, tornou pública a sua intenção de repetir os "contos" que, pelo "engrossamento dos pedidos", mais frequentemente eram referidos como tendo "escapado à leitura dos concorrentes", e mais dizia que, brevemente, seria fixado o prazo para a entrega das cadernetas. Duas semanas depois (22/4), já estava instalado o serviço e recepção e, passado um mês (22/5), o "Janeiro" punha à venda os jornais com todos os "coupons".
O afluxo de cadernetas deve ter excedido as expectativas porque só em 1 de Outubro é que se procedeu ao sorteio. Realizou-se às 16 horas, em sessão a que presidiu Artur de Sousa, chefe de contabilidade da administração do periódico, secretariado pelo jornalista António Sarmento e pelo concorrente António Augusto Silva. No dia seguinte, o "Janeiro" fazia descer o pano sobre o sensacional certame, relatando como decorrera a assembleia e divulgando "a relação dos números premiados; foram distribuídos 42 prémios para "Cadernetas simples , e 6 outros para "Cadernetas duplas”.
(Texto reproduzido do livro
"O Porto do "Repórter X", de Joel Lima)
DOMINGOS CABRAL DA SILVA
»»» Publica-se aos dias 15 e último de cada mês! «««
INFORMAMOS OS LEITORES, ESPECIALMENTE AQUELES QUE TÊM PERGUNTADO PELAS "SOLUÇÕES" DOS "CONTOS/PROBLEMAS POLICIÁRIOS", QUE NO PRÓXIMO DIA 15 DE OUTUBRO (Edição n.º 45) APRESENTAREMOS TODAS AS "RESPOSTAS" (PLAUSÍVEIS), MESMO QUE RESUMIDAMENTE.
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