🧐 🕵️ Primórdios da Problemística Policiária Portuguesa...👣👣 🔍
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PRIMÓRDIOS DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PORTUGUESA
2.ª PARTE - CICLO L. FIGUEIREDO
* * * * *
SECÇÃO “O LEITOR É SHERLOCK HOLMES?”
P R O B L E M A S P O L I C I A I S
O leitor é
Sherlock Holmes?
COMO OS GRANDES POLÍCIAS DESCOBREM
OS CRIMES MAIS MISTERIOSOS
QUERE O LEITOR FAZER DE «DETECTIVE»?
Terminada que foi, na passada semana, a reprodução dos denominados “50 Contos Misteriosos”, de Reinaldo Ferreira – “Repórter X” (cuja publicação se iniciou em Fevereiro de 1927 em «O Primeiro de Janeiro», do Porto, e marcou o surgimento da problemística policiária em Portugal) - sequenciamos a história dos primórdios desta modalidade de desporto cerebral com a republicação dos problemas com que L. Figueiredo, em 25 de Agosto de 1929, lhe começou a dar continuidade no “Notícias Ilustrado”, suplemento do “Diário de Notícias”.
Antes disso, porém, será interessante dar a conhecer como a existência desta Secção veio tornar-se mais conhecida, em tempos recentes. Fê-lo, da seguinte forma, um dos mais conceituados policiaristas portugueses ("Jartur", pseudónimo de João Artur Mamede - que também se iniciou como Seccionista em 1957 e é, de há uns anos a esta parte, o responsável pelo Arquivo Histórico da Problemística Policiária Portuguesa):
“Há uns anos atrás, na minha busca constante de velhos jornais, revistas e livros, (...) encontrei e adquiri, na Feira de Vandoma, no Porto, uma dezena de velhas encadernações que recolhiam anos consecutivos da Revista “NOTÍCIAS ILUSTRADO”, Edição Semanal do “DIÁRIO DE NOTÍCIAS”. (...) “Até que surgiu a ocasião de me regalar com a folheação daquele excelente material, apercebendo-me então que ali se encontravam exemplares da Série II, desde o seu n.° 1, de 17 de Junho de 1928 até ao n.° 382, de 6 de Outubro de 1933.
Como se depreende, trata-se de um semanário de actualidades, com colaboradores de grande mérito, donde ressaltam o director: Leitão de Barros, e a directora-gerente: Carolina Homem Christo.
Para além desses dois grandes vultos das Artes e das Letras portuguesas, apareciam pelas páginas profusamente ilustradas, a maior parte dos escritores e artistas nacionais, então famosos, e muitos outros que ali despontavam, mas viriam a ser talentos em variadas actividades culturais.
Quando observava as páginas do n.° 62, de 18 de Agosto de 1929, chamou-me a atenção um artigo com ilustrações, em que Fernando Pessoa narra “A Origem do Conto do Vigário”.
Porém, o que motivou este escrito foi ter encontrado nas páginas do exemplar seguinte o n.° 63, de 25 de Agosto de 1929, a Secção de Problemas Policiais “O Leitor é Sherlock Holmes?”
(...) A página era ilustrada por um desenho com anotações relacionadas com a solução do problema, apresentando-se o género da Secção, e davam-se “conselhos” e indicações para resolver o 1.° problema... proposto à argúcia dos leitores”.
* * *
Passemos, então, à reprodução do cabeçalho e do desenho correspondentes ao 1.º número da secção em referência:
1.º PROBLEMA: “O ASSASSINATO DO PATACAS”
Um dos mais interessantes problemas policiais que se tem apresentado nos últimos tempos foi o do célebre assassinato do traficante de estupefacientes "Patacas", ocorrido numa curva da estrada de Mafra a Malveira e que foi comunicado à polícia por um carroceiro de Cheleiros que passou por aquela estrada depois da prática do crime.
Eram 4 horas da manhã quando na citada curva o carroceiro descobriu um automóvel de “sport” com dois homens mortos no banco da frente.
Estranha companhia, pensou a polícia, ao chegar ao local do crime, porque o corpo do debruçado sobre o volante era o do célebre “Patacas”, indivíduo cadastrado, conhecido da polícia e por ela ultimamente procurado por o considerar implicado num caso de comércio ilícito de estupefacientes. O outro cadáver era o do não menos célebre bandido “Bigode de latão”, inimigo fidalgal do seu companheiro na morte!
O “Patacas” fora atingido na testa e acima do olho esquerdo por uma bala de cavalaria “Enfield” e que o sub-inspector de saúde verificou que devia ter morrido poucos segundos depois ser atingido pelo tiro.
No chão, ao lado direito do automóvel (consulte-se a gravura) estava uma carabina “Enfield”, mostrando a autópsia realizada ulteriormente que pertencera a essa cavaleria a bala que penetrara no craneo do “Patacas”.
A polícia dificilmente achou explicação para o facto de o "Bigode de latão" ter morto por dois tiros de bala que o atingiram no pescoço do lado direito.
Entre os dois cadáveres e encostado ao corpo curvado do “Patacas” de forma que a coronha assente sobre o assento de coiro do carro estava junto da sua coxa direita com o cano encostado no “para-brisas” achou-se uma carabina “Winchester”.
A autópsia do "Bigode de latão" mostrou que as duas balas que o vitimaram pertenciam a uma carabina “Winchester”.
Que se teria passado? Um estranho e feroz duelo? Como explicar que o maior inimigo do “Patacas” tivesse sido encontrado morto dentro do seu automóvel?
Qual deles teria morrido primeiro? Não houve forma de colher impressões digitais nas espingardas.
O “Patacas” levava luvas calçadas, não as tendo o “Bigode de latão”.
A polícia verificou a existência de muitas pegadas no local do crime, tendo-a utilizado para a solução parcial do mistério que o envolvia.
Os rastos dos pneus foram também minuciosamente estudados, tendo concorrido bastante para o esclarecimento do caso.
Os agentes de investigação sabiam que as vítimas tinham bastantes inimigos, mas não poderiam nunca supor vir a encontrá-los assassinados em tão extraordinárias circunstâncias.
Que pensar? A que conclusões chega o leitor no final deste relato?
As perguntas a responder são:
1.ª – Quem matou o "Patacas"?
2.ª – Quem matou o “Bigode de latão”?
3.ª – Quem foi morto em primeiro lugar?
4.ª – Como se explica o facto do "Bigode de latão" se encontrar no automóvel do “Patacas”?
5.ª – Porque motivo o “homem desconhecido”, cujas pegadas se veem na gravura, se dirigiu para o carro?
* * * * *
“CONSELHOS E INDICAÇÕES PARA RESOLVER O PROBLEMA QUE PROPOMOS À ARGÚCIA DOS LEITORES”
“O crime de que o leitor se vai ocupar é o primeiro de uma série que publicaremos todos os sábados, julgando necessário esclarecê-lo inicialmente sobre as precauções a tomar durante a resolução dos problemas policiais e que sempre deve conservar bem presentes.”
1.º – Não desprezar os mais insignificantes pormenores, mesmo que por vezes pareçam não interessar grandemente para o caso;
2.º – Ler com a máxima atenção a descrição da forma misteriosa como se apresenta o crime;
3.º – Atender às perguntas que são feitas no fim:
4.º – Examinar cuidadosamente o desenho apresentado, notando bem os seus mínimos detalhes;
Qualquer indício pode, por insignificante que se julgue, constituir por si a “chave” do enigma, em fornecer qualquer auxílio de que depois se venha a lançar mão. O leitor que observe, deduza, raciocine como um verdadeiro polícia, sem pretender adivinhar. Não se considere em mau caminho sem ter gasto o tempo que a resolução do problema deve consumir.
SOLUÇÃO:
1.º – O “Bigode de latão” foi o assassino do “Patacas”. Fez fogo com a carabina “Enfield”, emboscado na sebe do lado norte da estrada no sítio onde se veem as suas pegadas.
2.º – O “homem desconhecido” matou o “Bigode de latão”. Atirou com a carabina “Winchester” emboscado na sebe do lado sul da estrada depois do “Bigode de latão” ter subido para o carro.
3.º – O “Patacas” foi morto em primeiro lugar.
4.º – O corpo do “Bigode de latão” foi encontrado no carro do “Patacas”, porque depois de o ter assassinado correu do esconderijo para o automóvel, para evitar que este seguisse sem direcção, o que chegou a conseguir, como se nota numa pequena extensão dos rastos dos pneus, que depois de se apresentarem irregulares, correspondendo aos momentos em que o carro foi sem governo, pela morte do “Patacas” se regularizam depois, ocasião em que o “Bigode de latão” dirigiu o carro para tornarem a ser irregulares depois da morte deste até que o automóvel parou junto à sebe marginal da estrada.
5.º – O “homem desconhecido” dirigiu-se para o automóvel colocando dentro dele a carabina “Winchester” entre o “Patacas” e o “Bigode de latão” para fazer crer que os dois inimigos se tinham batido em duelo e apagando simultaneamente as impressões digitais da carabina.
Apesar de o “homem desconhecido” nunca ter sido descoberto pela polícia, ficou a certeza de que ele pertencia a uma quadrilha, que tinha aterrorizado aquela região, explicando-se o caso da seguinte forma: sabia-se, embora em segredo, que o “Bigode de latão” jurara matar o “Patacas”. O “homem desconhecido” que pertencia a um grupo de bandidos rival do capitaneado pelo “Bigode de latão” teve conhecimento do plano deste, do local e dia em que o devia pôr em prática. Tendo-o seguido, matou-o, tentando desnortear a polícia com a colocação da carabina entre os dois cadáveres e abandonando o local do crime com a certeza da impunidade.

DOMINGOS CABRAL DA SILVA
»»» Publica-se aos dias 15 e último de cada mês! «««
 
 
 






 
 
Excelente.
ResponderEliminarGostei muito!
ResponderEliminarImpecável! Muito bom.
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