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domingo, 1 de junho de 2025

🎓 Borda D`Água do Conto Curto - ☝Edições Fora da Lei 🗝 Edição -Ano 2019 -CONTOS Variados com 12 Autores!

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NOITE INTERMINÁVEL EM TOBAGO

Chegara a Tobago numa tarde de Março, sozinha, a suar por todos os poros, apenas com o seu nome bíblico e um saco de plástico de supermercado na mão, contendo escassos pertences, pois a sua pequena trolley-bag preta havia-se extraviado pelo caminho, não chegando ao seu aeroporto de escala, em Londres. Após uma longa e extenuante viagem, surpreendeu-se ao sentir um bafo quente no rosto e ao avistar uma paisagem exuberante logo ao pisar a pista do aeroporto. Era a sua primeira viagem intercontinental e vinha de muito longe, do seu rectangulozinho à beira-mar plantado, junto ao oceano Atlântico. Sabia que a prima do seu amigo e correspondente, de há quase duas décadas, iria esperá-la e lá estava ela a acenar-lhe, na zona das chegadas, com um largo sorriso nos lábios. Apresentaram-se e Cherise levou-a dali, na sua carrinha. Sentaram-se a descansar, numa improvisada esplanada de estrada, onde tomaram uma bebida de fim de tarde e conversaram longamente. Gostou da casa colonial, em tons fortes de rosa e azul, onde iria pernoitar, sem a companhia de ninguém. Sara apercebeu--se que aquela residência estava num sítio ermo e calmo, perto do mar. Tinha dois pisos. Cá em baixo estava a salinha de visitas, pequena e acolhedora, onde acendeu o aparelho de televisão, porque achou desde logo aquele silêncio confrangedor. Lá em cima havia três quartos, a cozinha, onde arrumou as compras na geleira, e uma minúscula toilette, a cujos lavabos se dirigiu, para iniciar a lavagem dos dentes. Reparara que o relógio da cozinha marcava já onze horas da noite. Encontrava-se ainda na casa de banho e a preparar-se para se ir deitar quando ouviu um barulho estranho que vinha de baixo. Espreitou pela exígua janela e vislumbrou um par de vultos junto à porta exterior. Não demorou a dar-se conta de que se tratava de dois homens magros, aparentemente jovens, e com um aspecto assustador, visto que eram negros e trajavam de negro, segurando uns paus compridos. Sara notou que mexiam nervosamente na maçaneta, tentando rodá-la. Teve uma reacção imediata e foi pé ante pé trancar a porta do quarto e apagar a luz. Trancou-se igualmente por dentro naquele WC e esperou, com o coração a bater descompassadamente. Tentou encontrar ali algo com que se pudesse defender, caso eles conseguissem arrombar as portas e entrar. Pegou no reservatório de loiça do autoclismo e sentiu-se ridícula. Estava completamente à mercê deles. Ganhou coragem e voltou a espreitar. Os dois nativos continuavam por lá, na mesma azáfama e com um automóvel preto por perto. Manteve-se silenciosa, imóvel, mas com tremores incontroláveis, uma sensação de pânico e frio gélido. Olhou inúmeras vezes para o seu relógio de pulso e viu os minutos e as horas a passar muito lentamente. Temeu o pior. Pensou que o mais certo seria vir a ser surpreendida de um momento para o outro, ver a porta metida para dentro, ver-se atacada e violada. Não iria mais regressar ao seu país natal. Houve uma altura em que se foram embora no carro preto e ela quase respirou de alívio, alimentando ainda uma esperança. Mas cedo regressaram. Rezou para que a manhã surgisse depressa e a rua voltasse à normalidade, com as pessoas a ir para o trabalho. Sentia-se tão tensa e exausta, com uma enorme necessidade de repousar, porém o medo nem permitia que fechasse os olhos. Entretanto, começou a ouvir-se uns batuques ao longe, o que tornou a situação ainda mais assustadora. Finalmente amanhecera. Assegurou-se de que eles já lá não estavam, assim como o carro. Desceu as escadas e telefonou ao amigo, a contar o sucedido. Ele prometeu voar nesse mesmo dia de Trinidad e ir ter com ela. Ao chegar, enlaçou-a fortemente num abraço fraterno e baptizou-a de “The Adventure Girl“.

Cris (Maria Cristina de Aguiar)

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A ALEGRIA DAS PEDRINHAS

Johnny despertou ao sabor da brisa da manhã e da maré que subia na areia da praia.

Não lhe ocorreu nada nesse lento acordar. Reclinou um pouco para cima o corpo deitado e limitou-se a olhar em redor. Por fim fitou a linha do horizonte e a imensidão de céu e de mar à sua frente. O murmúrio das ondas era um rumor agradável e no zénite o Sol já ia alto. Onde estaria? Estranhamente não se lembrava de nada, de onde vinha e quem era. Mas esse facto não pareceu preocupá-lo. Era como se voltasse a ser criança de novo e recomeçasse os seus passos neste mundo outra vez. Sentia-se leve e tranquilo e havia um bem-estar ali, naquele momento, de que ele não se lembrava alguma vez ter sentido. Pôs-se de pé e começou a caminhar, descalço, na areia da praia. Olhou de novo para todos os lados, agora já completamente desperto. Do lado direito apenas o oceano, primeiro o recife de águas rasteiras e de um azul marinho brilhando em remoinhos à luz do Sol; mais ao longe orlando a costa, o azul escuro do mar profundo. Daquele lado e para a frente e para trás, nada mais a não ser o Céu, o Sol e o Oceano. Johnny olhou então para o lado esquerdo e viu uma paisagem difícil de descrever. As sensações que perpassaram pelo seu ser foram igualmente estranhas de descrever; por um lado essa impressão única de estar longe, muito longe de casa, onde quer que ela fosse; outra era a de ter estado ali algures noutro tempo. Havia um recorte de montanha vulcânica que se impunha por entre a densa vegetação um pouco por todo o lado. Havia uma atmosfera tranquila, havia rumores de pássaros e aves pelo ar no pano de fundo que era o rumor do oceano. Era como se aquele local tivesse estado ali sempre à sua espera e Johnny tivesse finalmente a oportunidade de ir ao seu encontro. Naquele momento, sem se lembrar de quem era ou de onde viera, sentiu-se feliz. Não se lembrava de se ter sentido feliz assim. Sem se dar conta um largo sorriso de bonomia preencheu o seu rosto. Apesar de não saber o que fazia e como chegara ali, o seu estado de espírito era de total apaziguamento. Não havia passado nem futuro. E no entanto lembrou-se do medo, da insatisfação, das dúvidas que com ele sempre viveram. Mas ali nada disso havia, sabia que podia confiar naquele Deus, na beleza das coisas, na alegria que transbordava dentro de si. Sempre fora um ser de emoções, mas a sensibilidade trouxera o medo também, o defender-se de tudo o que lhe podia fazer mal nunca lhe permitira realmente libertar-se. Amava o estar vivo e ainda o poder partilhar com os outros essa alegria.

Finalmente chegara ao topo da montanha. E o que para Johnny era simplesmente mais desconcertante naquele lugar era a candura do estar, a inocência do olhar, a confiança inabalável de sorrir. Johnny agachou-se por momentos, respirando levemente. As ondas do mar subiam na areia molhada; havia uma infinidade de despojos trazidos pela maré, entre os quais uma colecção multicolor de conchas e pedrinhas. Johnny ajoelhou-se e começou a senti-las, uma a uma, tal qual fossem pedras preciosas. Naquele momento, o mundo ficou em suspenso e estava preso nas suas mãos. O Sol veio brincar e fez as pedrinhas esvoaçarem num mágico cintilar. Johnny quis ficar ali para sempre, como se fosse um pescador de pedrinhas. Poderia apanhá-las, escolhê-las, por dias a fio, até, quem sabe, encontrar a pedra perfeita. Então deixar-se-ia adormecer, como se lhe contassem uma história antiga de mil anos, do princípio dos tempos e embalado pelo singelo rumor do oceano embarcaria docemente rumo à eternidade.

 Peter Pan

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»»» NA PRÓXIMA EDIÇÃO, 8 de Junho de 2025, apresentaremos mais dois CONTOS, de Maio e Junho de 2019, da Autoria de A. Raposo e Rigor Mortis.

 


 

🙆 BOM Domingo!

📑BOAS Leituras!

2 comentários:

  1. Vou ler mais logo, mas serão bons como sempre🎗️

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  2. Contos muito bonitos, bem escritos e o 2º quase me transportou àquela praia! Parabéns aos escritores👏👏

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