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domingo, 23 de novembro de 2025

O CASO (sério) DA RUA das TRINAS ☝Edições Fora da Lei Novela de Dez Episódios -- 🕵️ Oito Autores - 2018 (TPL)

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EPISÓDIO 7 – E O MISTÉRIO ADENSA-SE…

Por: Rigor Mortis

 

     O Faustino entrou com a Isaura, ainda chorosa, com o braço por cima dos ombros da mulher e a mão na base do seio.

– Mete a mão no bolso e põe-te a mexer! – berrou Anjinho.

Apanhado com a boca – melhor, a mão – na botija, Faustino deu um salto e saiu porta fora.

– Então diga-me cá, porquê tanto choro por aquele traste do Tó Gula?

– Não é por ele, não, é pela mulher dele, a Adosinda! A minha melhor amiga! O Tó era um traste, sim, mas agora como é que vai ser com a Adosinda, ainda tão novinha?

– Parece que o seu marido andava às voltas com essa Adosinda, não?

Isaura levantou os olhos e mirou o Inspector.

– Não senhor, não acredito nisso!

– Então como é que ele sabia que as mamas dela estavam sempre quentinhas?...

– Ó senhor! Não sei quem é que lhe disse isso, se calhar até foi o Quim… Mas o meu Quim não fazia uma coisa dessas! Dei-lhe com o candeeiro nos cornos quando ele disse isso, é verdade, mas nem ele era capaz disso, nem a Adosinda o deixava fazer!

– Então quem é que acha que matou o Tó Gula? – disparou-lhe Anjinho,

– Ó senhor! – repetiu a Isaura. – Como é qu’eu posso saber?

– Foi o Quim? – segundo tiro do Inspector.

– Ai senhor! O meu Quim não era capaz de fazer isso! Ele não gostava nada das troças que o Tó andava sempre a fazer dele, mas matá-lo? Não senhor! Um dia era capaz era de lhe dar uma sova das grandes!

Percebendo que da Isaura não iria tirar nada de jeito, Anjinho chamou o agente Faustino e disse-lhe para trazer a Micas e pôr a Isaura em liberdade.

O Faustino trouxe a Micas do Cu Grande para o gabinete do Inspector Anjinho. Prudentemente, que a mulheraça metia respeito, nem lhe tocou, mas os olhos não se desviavam do seu traseiro monumental.

– Sente-se… Se couber nessa cadeira… – disse Anjinho, arranjando os papéis na secretária.


– Diz-me lá o que sabes das “bifas”. E quero a história toda, hein?

A Micas olhou de frente para Anjinho, com ar de desprezo.

– ‘Tás pr’aí todo empertigado, mas ‘inda nã percebeste nada, n’é? As tais “bifas” sã dois portugas que nã têm onde cair mortos. Andã p’los bares a f’zer de espiões só p’ra ver se catrapiscã ‘mas buchas e ‘mas jolas. Os maus da fita sã os que mandã neles, pá!

Anjinho não conseguiu perceber de que raio de sítio vinha o sotaque da Micas. Imaginou que a longa permanência da mulher por terras de França durante a guerra lhe tinha afectado o falar. E se calhar também o juízo…

– E quem é que manda neles? O gajo da PIDE?

– Pois… – Micas riu-se, e todo o seu corpo abanou como gelatina. – O gajo da PIDE, o boche, o padreca, quem quer que lhes dê ‘mas moedas!

– Troca lá isso por miúdos!

– ‘Tá bõ… Se tu for’s ter cõ eles e lhes der’s uns troc’s para que façã de espiões, eles também nã se fazem rogados. ‘Té armã uma de pancadaria, se q’ser’s!

– Naquela noite em que o Gula apareceu morto e tu ouviste as “bifas” a fazerem de espiões nos lavabos, quem é que lhes tinha pago para isso? – perguntou Anjinho, já desesperado.

– Sê lá! Como eles ‘tavã a falar ‘quele inglês de Quadrajais, s’calhar os camones!

“Isto não vai mesmo dar a nenhum sítio”, rosnou Anjinho para si mesmo.

– Faustino! Leva-me esta gaja para a pildra e fecha a loja! Se alguém me procurar diz-lhe que fui para casa. Mas amanhã logo pela manhã quero cá o raio do padreca, dê lá por onde der!

Pegou no chapéu, atirou a gabardine sobre o ombro esquerdo e saiu do gabinete, batendo com a porta.

Estacou na sala de espera, vendo que ainda lá estavam alguns dos que tinham sido arrebanhados no velório e não tinham chegado a ser interrogados.

“Para quê?!” rosnou, “para me dizerem o mesmo que os outros?!”

– E mandem-me estes gajos para casa, já!

Frustrado e ao mesmo tempo furioso, consigo mesmo e com tudo e todos, Anjinho começou a descer a rua. A meia hora de caminho até casa ia fazer-lhe bem, pensou, apesar do calor. O dia tinha estado abafado, próprio de Junho, mas sempre a ameaçar chuva.


    – Raios partam este tempo!

Enquanto andava, tentou pôr os pensamentos em ordem.

“As tais “bifas” se calhar sabem de alguma coisa, para dizerem o que disseram precisamente na noite em que o Gula foi morto. Mas não parece que tenham sido elas – eles! – a matá-lo. Se nalguma coisa a Micas era boa, era a perceber o tipo das pessoas. E ela parece certa que aqueles dois eram só uns paus mandados de baixo calibre! Quem é que lhes terá pago naquela noite?! Terá sido uma história de espiões? Ou uma vingança de algum dos muitos que olhavam de atravessado para o Tó Gula? O Quim Costa, o João da Bica, o Toino Coxo, sei lá!... E o Novena? O padreca sabia das aventuras femininas todas do Gula, isso era seguro, pelas confissões que lhe fizeram as mulheres do bairro… Teria decidido pôr um ponto final nesse arrazoado?... Ou estaria enrolado com a PIDE?! Não seria caso único…”

“Mas porque é que a PIDE haveria de querer o Tó morto?! Mesmo sabendo que o gajo trabalhava para mim, a verdade é que andávamos todos ao mesmo! Se calhar o Tó também lhes fazia algum arranjinho, sem eu saber… ‘Tá bem, eles não gostaram de saber que o Tó servia dois patrões, mas os dois patrões eram da mesma casa, carago! Ou será que o Tó servia ainda outro patrão?...”

Ao atravessar a rua ouviu um grito, ao mesmo que se dava conta de um enorme chiado. Virou-se e viu um carrinho de rolamentos que descia a rua a toda a velocidade, com dois miúdos empoleirados. Mesmo à justa, deu um salto para trás, enquanto o carro passava a rasar, com os miúdos em altas gargalhadas…

– Raios partam estes putos!

Respirou fundo e olhou à volta. Várias pessoas olhavam para ele embasbacadas, as mulheres com a mão na boca. Tinha-se safado à justa de um trambolhão dos grandes!

Uma dessas pessoas, a uns quinze metros atrás, chamou-lhe a atenção. Gabardine cinza vestida, fechada, com o cinto bem apertado apesar do calor, mãos nos bolsos, chapéu mole puxado para a testa, mal se vendo os olhos. Mesmo assim, notou as feições duras, fechadas. Parecia um tipo saído directamente das páginas de um romance de Dashiel Hammett.

Como todos os outros, olhando para ele.

Um segundo depois o homem virou-se e afastou-se em passo rápido, virando a esquina e desaparecendo da vista.


     – Mas que diabo?!... 

 




 

VOLTAREMOS NO PRÓXIMO DOMINGO, 30 de Novembro, com o Episódio n.º 7,5 - SETE E MEIO por: A. RAPOSO.🧐


 


👌 FELIZ Domingo!


📔BOAS Leituras! 


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