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EPISÓDIO 5 – MAS, AFINAL, QUEM MATOU O TÓ GULA?
Depois de ouvir as primeiras testemunhas, o inspetor Anjinho recostou-se na cadeira e suspirou profundamente. Um pouco mais descontraído, arregaçou as mangas, afrouxou o nó da gravata que apertava o colarinho da camisa já desabotoado, levou o inseparável cachimbo à boca e disparou no meio de uma forte baforada, de si para si, mas que todos lá fora ouviram: “Com estes nabos não vou chegar a lado nenhum. A morte do Tó Gula, ou Tónecas como as mastronças lhe chamam, não tem nada de passional ou de ajuste de contas doméstico!”
Apercebendo-se de que falara alto demais para quem trabalhava num meio sujeito a um permanente escrutínio subterrâneo, não se sabendo nunca quem conspira contra quem, sussurrou entre dentes: “Isto é coisa de camones, bifes, bolcheviques, boches ou… de judeus”. E, no mesmo tom, prosseguiu: “Muitos deles ficaram por cá, com medo de serem acusados de traição nas suas comunidades devido ao posicionamento adotado face à guerra que ainda mal acabou. E outros mantêm-se entre nós por razões políticas ou porque não têm para onde ir.
“Para o Anjinho, este caso poderia ter alguma relação com as próximas eleições para a presidência da República. Com a morte do general Carmona, os opositores ao regime desenvolviam contactos com os países aliados e com o novo Estado nascido da revolução de outubro de 1917 no sentido de obterem apoios a uma candidatura hostil ao ditador luso, no que eram apenas timidamente bem-sucedidos, por via não diplomática. A estes juntavam-se alguns dos judeus mais esclarecidos, que não perdoavam a Salazar a exoneração do cônsul Aristides de Sousa Mendes, que salvara muitos deles da chacina a que estavam praticamente condenados, dando uma espécie de apoio não declarado a tudo o que fosse passível de derrubar o ditador. Por sua vez, os alemães faziam o jogo contrário, pugnando nos meandros da política local por uma candidatura presidencial que fosse fiel às ideias de Mussolini e Hitler.
Salazar andava seriamente desconfiado de que toda essa estrangeirada, que nessa altura ficara por cá, estaria metida com os comunistas e com outras forças opositoras ao seu poder tirânico, que acabaria por sobreviver durante perto de 48 anos. Por essa razão, a PIDE não os largava e exigia que a Judite desse uma ajuda na defesa e salvaguarda da integridade física do candidato presidencial da União Nacional. Ao inspetor Anjinho coube, entre outras coisas, dar uma olhadela pelo verdadeiro bas fond de Lisboa, no eixo Madragoa-Cais do Sodré-Bairro Alto, por onde a estrangeirada se espraiava nas noites primaveris de 1951. Nesse submundo da noite lisboeta, Tó Gula andava, a mando de Anjinho, de olho nalguns mânfios sobre quem recaíam suspeitas de aproximação a certas figuras ligadas ao mundo do crime.
Mergulhado nestes pensamentos, o inspetor Anjinho quase se esquecera que ainda aguardavam, lá fora, que os chamassem para prestar depoimento, o senhor Euclides, o crónico e apaixonado presidente da popular União da Madragoa, e o charmoso Quim Zé, o homem que dirigia a Casa de Fados onde o falecido Tó Gula afinava a garganta ao som da guitarra em noites de glória fadista, muitas vezes ao lado das já consagradas Amália e Hermínia e do castiço Ti’ Alfredo. “Mas o que me interessa agora ouvir estes gajos?!” – exclamou Anjinho, ao mesmo tempo que atirava as folhas do relatório para cima da secretária, não evitando que algumas delas se espalhassem pelo chão. E enquanto se baixava para as apanhar, soltou um desejo: “Ainda se fossem as mastronças do Texas e do Califórnia, talvez valesse a pena!...”
De súbito, surpreendendo o inspetor Anjinho de rabo para o ar, irromperam pela porta do gabinete adentro as meninas Graça do Bico e Josefa dos Prazeres, logo seguidas do agente Faustino, que não conseguiu segurá-las, apesar de ter deitado as mãos às mamas de uma e ao rabo da outra, tendo sido logo sacudido com a força da experiência que ambas tinham no resgatar do corpo quando os homens das mãos que as prendem são pouco meigos ou desinteressantes. Tentando desculpar-se por as ter deixado escapar-se literalmente por entre os dedos, Faustino praguejou: “São escorregadias como as enguias e danadas como as cobras, estas cabronas!...” A um gesto crítico do inspetor, o agente saiu com o rabo entre as pernas.
“Deitem-se! Perdão… Sentem-se!” – disse Anjinho, já refeito da situação vexante em que foi encontrado pelas meninas Graça e Josefa, que alternavam todas as noites entre o Texas e o Califórnia, coordenando um grupo de raparigas que davam o corpo ao manifesto, às vezes também de rabo para o ar, como o inspetor, uma das muitas posições aliás em que se especializaram sem que alguma vez tivessem lido o Kama Sutra, um tipo de literatura ilustrada que o regime de Salazar jamais aceitaria que fosse comercializada entre nós. Mesmo assim, havia quem a lesse e defendesse, argumentando que a pornografia e a obscenidade deviam apenas ser julgadas de acordo com o seu mérito artístico, sustentando até que a censura e a proibição deste tipo de livros do gozo dos sentidos constituía um atraso no progresso humano.
Nada interessadas numa discussão filosófica sobre a bondade deste tipo de literatura, que pouco tinha a acrescentar àquilo que sobre a matéria elas sabiam, de um saber feito de aulas práticas quase sempre isentas de prazer físico ou de qualquer gozo dos sentidos, as meninas Graça e Josefa estavam ali para dar à luz o que sabiam sobre a morte do amado Tó Gula, um homem por quem tinham um fraquinho e que as tratava como verdadeiras princesas. “Inspetor, as meninas do Texas e do Califórnia acham que sabem o que se passou com o Tó Gula” – disse a Graça. “Uma delas, a Micas do Cu Grande, ouviu uma conversa suspeita entre dois bifes” – afirmou a Josefa. Após um breve silêncio, à espera de maior precisão sobre o assunto que as levara à Judite, o inspetor não se conteve mais: “Digam lá o que sabem, porra!”
A Micas havia escutado no lavabo das meninas uma conversa entre dois cavalheiros vestidos de mulheres, que falavam num inglês pouco escorreito. E a Micas sabia bem do que falava. Ela estivera dois anos a servir nas linhas da frente, entre 1944 e 1945, como entertainer dos combatentes, e conhecera muito bem a língua (e não só!) dos homens nascidos no reino de George VI. E sabia na perfeição como eles se expressavam, mesmo em ocasiões de muito stresse e em todas as mais ingratas posições. E nisso das posições, ninguém melhor do que ela para saber do que eles são capazes. Foi isto mais ou menos o que inspetor passou para o relatório do que disse a Micas do Cu Grande, que havia traduzido para português o arrazoado que os travestis trocaram nos lavabos: “O gajo anda a pedi-las, anda”; “Cá por mim, devia ser esta madrugada”; “Vou deixá-lo de rastos, vais ver”; “O Tó nem sabe o que lhe espera”.
O inspetor Anjinho tinha absoluta convicção de que alguém havia descoberto que Tó Gula estava indiretamente ao serviço da União Nacional, através da Judite, na prevenção de qualquer situação que pusesse em causa a segurança do candidato presidencial que Salazar havia escolhido para suceder a Carmona, pelo que decidiram fazer-lhe a folha. Mal sabia, porém, o Presidente do Conselho que, mais tarde, Craveiro Lopes acabaria por demonstrar uma certa simpatia pelos oposicionistas. Só que nessa altura era com aquele general da Força Aérea que o homem de Santa Comba Dão acreditava conseguir gerar consensos que facilitassem a prossecução das suas políticas, sem grande oposição, não fazendo a mínima ideia de que passados exatamente dez anos ele estaria associado ao golpe de Botelho Moniz.
Absorto nos seus pensamentos, de mão esquerda pousada na perna direita da Graça enquanto a direita segurava o seu fumegante cachimbo que a Josefa acariciava para se aquecer do frio e humidade que se fazia sentir no gabinete, Anjinho deu um salto da cadeira quando se ouviram gritos no corredor. “Estou farto de estar aqui e tenho muito que fazer! Está quase na hora de começar o treino e eu tenho as duas bolas comigo!” – berrava o presidente do União. “E eu, e eu… Tenho dois aspirantes a fadistas à minha espera para ensaiar e nunca mais sou ouvido!” – rosnava o homem da Casa de Fados. E no fim de alguns palavrões, impróprios para ouvidos sensíveis, gritaram em uníssono: “Nós sabemos muito bem quem matou o Tó Gula!” E logo concluiu a Graça do Bico: “Eles também conhecem as bifas!...”
VOLTAREMOS… NO PRÓXIMO DOMINGO, 16 de Novembro, com o Episódio n.º 6 - NÃO ATA NEM DESATA E COMPLICA-SE por: VERBATIM.🧐
👌 FELIZ Domingo!
📔BOAS Leituras!








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