PÁGINA CULTURAL DE DIVERTIMENTO

Divirtam-se neste espaço onde não se ganha milhões de euros e ninguém fica rico! Este é um local de diversão e puro lazer onde a única riqueza se granjeia a fomentar e divulgar a amizade, a alegria e a liberdade de expressão — e lucrando-se, isso sim, montes de Companheirismo e Fraternidade! (RO)

quinta-feira, 15 de junho de 2023

CONTO POLICIAL A Única Testemunha Por: O Gráfico LUÍS RODRIGUES ”Célula Cinzenta” n.º 18 DEZ - 1989


CONTO POLICIAL

A Única Testemunha

Autor: O Gráfico

LUÍS RODRIGUES

”CÉLULA CINZENTA” n.º 18

DEZEMBRO - 1989

 

 


 

A

SENHORA D. Marquesa Filipa de Gusmão sempre foi uma mulher muito alegre e divertida até à morte do seu marido o Marquês de Gusmão. Porém, a morte misteriosa do cônjuge, ainda por descobrir pelos peritos da Polícia Judiciária, deixou-a totalmente entristecida e tão desmotivada em continuar a viver que já por diversas vezes tentara suicidar-se! Valeram-lhe os criados e o mordomo que nessa ocasião ainda viviam com ela, evitando tal horror. A Marquesa, entretanto, despediu todos os seus servidores, optando por viver sozinha, ficando com uma única companhia, o seu fiel cão, de raça galga, ao qual chamava “Doc”. Morando numa enorme mansão, herdada da fortuna do Marquês, Filipa de Gusmão raramente saía de casa a não ser para fazer as compras necessárias para a sua alimentação e do seu companheiro. Deixou crescer o cabelo loiro que possuía e jamais se penteou usando-o apanhado para trás e segurando-o atabalhoadamente com um gancho. O “Doc” cão muitíssimo esperto era cego de nascença, mas graças aos bons ensinamentos da dona agia como se tivesse vista.

A Marquesa vivia isolada no seu quarto, situado no primeiro andar da mansão e ali cozinhava para se alimentar. O lixo que se originava e os restos de comida eram lançados através de um dispositivo que era constituído por um enorme tubo que ia desde o quarto da Marquesa até uma fossa construída no quintal do rés-do-chão. O “Doc” estava treinado para quando ouvisse qualquer objecto cair no chão agarrá-lo com a boca e depositá-lo nesse tubo! A arrumação do quarto era constante devido a este facto. E, por vezes, bem se podia a marquesa queixar de alguns bons chinelos que seguiam aquele caminho!

Os dias passaram e a Marquesa começou a ter, enquanto dormia, intensos pesadelos. A ideia do suicídio voltou a assombrar-lhe a mente, mas... não tinha coragem para pôr termo à vida!... Pensou, então, uma vez que acordava durante a noite, dissolver veneno num copo de água para ingerir quando estivesse sob sonambulismo! O veneno produzia efeitos instantâneos de morte e assim se acabaria o seu sofrimento!...

Certa noite preparou tudo. Adormeceu com um copo cheio de água envenenada na mesa de cabeceira...

Eram duas horas da madrugada quando a Marquesa acordou estremunhada. Acendeu a luz do candeeiro que mantinha em cima da mesa de cabeceira. O cão, porém, não se atirou ao recém-chegado, visitante nocturno, porque lhe conheceu o cheiro. Tratava-se do antigo mordomo da mansão. Não visitava a Marquesa com boas intenções porque empunhava uma arma de fogo, munida de silenciador.

“-Dona Marquesa venho roubar o seu ouro!” -disse o mordomo.

E, de seguida, disparou um tiro certeiro no corpo indefeso da mulher que lhe atravessou o coração! O “Doc” nem disso se apercebeu. O mordomo, com a arma na mão direita, depois de perpetrar o crime, e antes de procurar as jóias da Marquesa, resolveu beber um gole da água existente no copo que estava ao lado do candeeiro, em cima da mesa de cabeceira...

O crime provocara-lhe sede!... 

...........................................................

 

O cão ouviu dois objectos, além de um corpo, caírem no chão...

Foi quantas vezes se dirigiu ao tubo do lixo!...

 


https://reporterdeocasiao.blogspot.com/

Sem comentários:

Enviar um comentário

Os seus comentários são bem-vindos. Só em casos extremos de grande maldade e difamação é que me verei obrigado a apagar.