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Divirtam-se neste espaço onde não se ganha milhões de euros e ninguém fica rico! Este é um local de diversão e puro lazer onde a única riqueza se granjeia a fomentar e divulgar a amizade, a alegria e a liberdade de expressão — e lucrando-se, isso sim, montes de Companheirismo e Fraternidade! (RO)

sábado, 13 de janeiro de 2024

**** MEMÓRIAS DO POLICIÁRIO! - (Por: O Gráfico) - 061🔎JARTUR - João Artur Mamede 🎂 Faz Hoje 89 Anos!🕵️

 🔎 Memórias do Policiário – 061 🔍

 

  🧐 O Gráfico 🕵️

 

https://reporterdeocasiao.blogspot.com/

 


Memórias do Policiário – 061

👨 Jartur Mamede

89 Anos! 🎂

13 de Janeiro de 1935 - 2024

🔖 Produtor – Decifrador

 

📜 Desenhador 🖊

 

 

61 EDIÇÕES das Memórias do Policiário – O Gráfico para se comemorar os oitenta e nove anos do consagrado POLICIARISTA e fervoroso fã da BANDA DESENHADA (bd) e... não só (!), João Artur Mamede (JARTUR, JARTUR MAMEDE, MR. JARTUR e... outros pseudónimos!)

FAZ HOJE, precisamente 89 anos, nascido a 13 de Janeiro de 1935. Muitos parabéns, muitos anos de vida com muita saúde para continuar a alegrar-nos com a sua digníssima presença e árduo trabalho de pesquisa e tudo o mais de Problemística Policiária... as suas “escavações”, como muitíssimo bem refere, são de uma preciosidade extrema para a história do POLICIÁRIO em Portugal! Bem-haja. UM DIA BASTANTE FELIZ!

SAUDAÇÕES POLICIÁRIAS.

O Gráfico

 

 


 

»»» FAZ HOJE... 89 ANOS... o JARTUR! «««

 

 


A primeira vez que o vi pessoalmente, este grande fenómeno do Policiário, insigne amigo e distinto Policiarista e tive a oportunidade de conviver com ele foi no 10.º CONVÍVIO “MISTÉRIO… POLICIÁRIO - MUNDO DE AVENTURAS” (SESIMBRA) – 7.Agosto.1976 e ambos, eu bastante menino, iniciado recentemente na secção nobre do “Sete” e o Jartur consagrado Policiarista, ambos assinámos, naquele dia, uma MOÇÃO dirigida ao Ministério da Comunicação Social no intuito de que o “M. A. – M. P.” fosse considerado de Interesse Turístico Nacional em função dos Convívios Policiários e da dinamização feita pelo “Sete de Espadas” na secção “Mistério... Policiário”, do “Mundo de Aventuras”! Já íamos em dez Encontros. Eu tinha 18 anos... o João Artur Mamede... 41.

Nos finais de Outubro de 1984, por ocasião de um Convívio Policiário em Famalicão pernoitei em sua casa, no quarto da sua filha “Cló” espaço que tinha sido um anterior gabinete de desenho do pai e naquela altura já as paredes do compartimento estavam repletas de livros guardados em caixas de cartão, tais como das colecções Condor, Ciclone, Yataca, Tigre e muitos mais!

Depois a amizade manteve-se por muito anos, com dedicatórias e muitas homenagens recíprocas, lembro-me de um dia o confrade Jartur ter afirmado que a minha secção no Jornal de Almada era a mais fraterna e familiar existente (estávamos em 1984), também mereceu distinção nos POLIGRÁFICOS -prémios “O Gráfico” -e merecida elevação numa das “Supertaças Policiárias” realizadas no citado Jornal de Almada!

Foi com o Jartur Mamede que eu ganhei o gosto de oferecer prémios, muitos, em torneios Policiários e passados muitos anos, muitos, mesmo, fui dar com ele, o ano passado, em Sintra com mais um vistoso troféu, na mão, para ser atribuído de uma forma especial à extraordinária Policiarista Detective Jeremias.

É sempre difícil escrever sobre estes Mestres do Policiário porque nada se diz... mesmo que se escreva demasiado porque a sua grande obra é gigantesca tanto em prol da valorização do Policiário como Pessoa em saber Estar e Ser na Vida, sempre amigo do seu amigo e foi assim que eu cresci, e os mais novos, também, a aprender os bons procedimentos e a venerarmos estes nomes que engrandeceram o Policiarismo e igualmente fizeram de nós homens bons e de valores altíssimos! Abstenho-me de mencionar outros nomes, para não me esquecer de nenhum merecedor de uma vénia, mas tenho-o feito, aos poucos nas minhas memórias!

O JARTUR faz hoje, 89 anos, mas CONTINUA EM FORMA, como ele próprio o diz:   

 

Meus bons Amigos:

Cá estou eu, plácido e sereno, nas minhas prospecções "misterioleiras", com a preciosa ajuda dos "felizardos" que me vão oferecendo algumas dicas... ou pedaços de "papiros" palpáveis e proveitosos!

O trabalho continua.

Abraços do Jartur

 

Pois é Amigos!

Pouco menos de 12 horas após uma notícia de escavações, aqui vai outra, não menos trabalhosa! Antes pelo contrário.

Dando alguma arrumação aos amontoados de publicações que jazem nas prateleiras das estantes, encontrei o n.º 1 da revista "CRIME" que o Dr. ARTUR VARATOJO fez editar em 1974. Vi que publicava um conto/problema policiário e comecei a pesquisa. Não me lembrava da existência de números posteriores, conversei com o Domingos Cabral (as tuas melhoras meu Grande Amigo) e ambos ficámos cheios de dúvidas. Entrei no Catálogo Colectivo da Biblioteca Pública Municipal do Porto, e constatei que a colecção poderia ter mais números editados. Fui "LÁ", e trouxeram-me seguidinhos, do # 1 ao # 12. Colhi os elementos necessários à elaboração do seu historial, (onde está assinalada a presença do Mr. Jartur) e já estou a "matraquear" o respectivo trabalho. Espanto! O "Sete de Espadas" teve ali uma sucursal da sua "Mistério e Aventura", com alguns problemas de sua autoria... e a maneira de os reconhecer!

Abraços, Amigos, e não esperem pela demora... Ou esperem sentados!

Jartur Mamede

 

Caros AMIGOS:

Apenas dois ou três dos mais chegados, conhecem com certa minúcia a efervescência da pesquisa. Recentemente, encontrei entre as benéficas teias de aranhas - já que as suas construtoras, nos livram  dos insectos devoradores incansáveis dos nossos livros e revistas.

(Um dia contar-vos-ei o que se passou quando o Ross Pynn esteve cá em casa). Encontrei, dizia eu, alguns exemplares do "mensário de desporto mental e literatura de mistério" cozinhado por um grupo de malta entusiasta, criativa e fixe algarvia, numa Edição da Casa de Cultura da Juventude de Faro. Ali apareceram alguns problemas policiais que desejo preservar, e por isso tenho que manusear toda a coleção, para elaborar o seu historial. Do n.º 1 (Agosto.1982) ao n.º11 (Junho.1983) faltam-me os n.ºs 9 e 10. Aqui deixo o apelo, a quem me possa "scanear" os famigerados. Em especial "o Gráfico" e o "D. Chicote", estão aí?

Jartur Mamede  

 

O “AHPPP – ONLINE” (Arquivo Histórico da Problemística Policiária Portuguesa) é uma das suas grandiosas Obras Policiárias que regista para os vindouros Policiaristas! Eternamente grato.

 

JOÃO ARTUR MAMEDE, JARTUR, é, mais uma vez e merecidamente, um dos homenageados no novo Concurso de Problemística Policiária -TORNEIO CULTORES DO POLICIÁRIO -a decorrer desde o dia 1 de Janeiro no blogue do “Repórter de Ocasião”!

O Gráfico (RO)

 

 

Blogue RO – 13 de JANEIRO de 2024

https://reporterdeocasiao.blogspot.com/

 

 

O Gráfico  (21 de Novembro de 1993)

"Nunca é tarde para se entrar no reino encantado da Problemística Policiária, produzindo e decifrando, convivendo e conhecendo-se gente de todos os lugares e fomentando novas e salutares amizades. Daqui não tiro eu o meu pé!

 


👏🔎🎓📑 Nada é eterno, inalterável, constante, tudo muda..., mas a resiliência do Policiário em Portugal, nascida em 1927 e eternizada por “SETE DE ESPADAS” (JOSÉ MANUEL PIEDADE THARUGA LATTAS”) em 1975, no meio de outros (descendentes) cultores -e são bastantes! -deste interessante, sublime e inquestionável desporto mental revelador de capacidades distintas intelectuais, é de todo mágica, fantástica e inolvidável e ainda estará longe o dia... em que cessará inequivocamente todo o seu dinamismo conversor, acima de tudo, deveras e de sobremaneira, de amizades longas e duradouras de vidas com paixão aliadas ao conhecimento, cultura e fraternidade! – O Gráfico (2023)

 

 


ARQUIVO HISTÓRICO DA PROBLEMÍSTICA

 POLICIÁRIA PORTUGUESA

CONVÍVIO DA BEIRA ALTA

 

VISEU

23 de Setembro de 1984

 

(Lido pelo autor,

Jartur, após o almoço.)

 

O “policiário” e a “banda desenhada”

Encontraram-se um dia num jornal!

Foi há muito tempo - era ainda um puto -

Vinham lado a lado, de forma destacada,

No «Mundo de Aventuras» e no «Camarada»,

No «Cavaleiro Andante» e no «Jornal do Cuto».

 

Em muitas publicações andaram juntos,

Gerando apaixonados, praticantes, fãs,

Desenhadores, produtores, decifradores!

Alguns, morreram já… fiéis defuntos…

Mas muitos somos ainda, felizmente juntos,

Produzindo obras cheias de valores!

 

E o tempo foi passando… E o cansaço veio!

E o gosto do mistério foi esmorecendo…

Ficando, todavia, activo… na lembrança!...

Porém, passados alguns anos o gosto sobreveio!

Juntaram-se de novo os Homens bons do meio,

E foi o renascer!... De novo, nova esperança!

 

Porque um jovem, um dia, de barba branca e cãs,

Impondo-se cumprir o seu real fadário…

Ressuscitou em si a força adormecida!...

Juntou à sua volta… muitos novos fãs!

Trabalhou em noites, tardes e manhãs,

E ao “POLICIÁRIO”, deu de novo vida!

 

Foi há 33 anos.

23 de Setembro de 1984

Agora, já lá vão 39 anos.

                                                             Jartur Mamede

 


10º Convívio “Mistério… Policiário” (Sesimbra)

[7 de Agosto de 1976]

MOÇÃO

 

Considerando que os Convívios «Mundo de Aventuras» e «Mistério Policiário» têm mostrado ser até esta altura, forte incentivante do Turismo Interno Português.

 

Vimos solicitar por este meio a todos os presentes que nos dêem o seu apoio assinando esta petição, para que se vá junto do Ministério da Comunicação Social a fim de que o «M. A. – M. P.» seja considerado de Interesse Turístico Nacional

 

Sesimbra, 7 de Agosto de 1976

 

Ass:
Belém Valente

Detective Invisível

Dr. Molezas

Primo I

Jorge Magalhães

O Gráfico

Homem-Aranha

Satanás

M. Silva

Primo II

Vítor Hugo

Viking

Celeste Beltrão

Investigador Bazooka

Detective Misterioso

Inspector Zarabatana

Miss X

FM

Maria José

Magalhães

Big Ben

Lanterna Vermelha

Godévora

Peter Pan

Jartur

Durandal

Sobral

Sete


 

Sexta-feira, 13

LIMPEI O SEBO AO SAUL

 

Alguém… com uma chamada anónima, participou à PJ que o Jartur, com uma faca de matar porcos, limpou o sebo ao seu camarada Saul.

Foi detido, e interrogado pelo inspector Jota Ele Yésse.

E assim confessou o delito:

- Tínhamos combinado o “assalto”.

O leitão assado, tostadinho e crocante, envolto numa embalagem de plástico, volteava, preso por um pedaço de corda, no alto do mastro dum moliceiro, que espetaram no adro da Capela de S. Gonçalinho, para constituir uma das brincadeiras populares e burlescas, das cavalhadas em honra do milagreiro Santo. Como é costume na freguesia, o mastro, com cerca de dez metros de altura, fora previamente revestido duma camada de sebo, para impedir que os concorrentes alcançassem o cobiçado troféu, antes de destruírem pela sujidade, a roupa grosseira e coçada com que se lançavam à aventura.

O Saul, que na ocasião não tinha ainda aquela saliente barriga de prosperidade, que o fazia alvo das viúvas e divorciadas do distrito, munido duma faca pendurada à cintura, como a arma dum pirata das caraíbas, artilhou os pés descalços com um robusto cinturão negro que fanara em Tancos, e abraçou o roliço e escorregadio mastro, tentando vencer a altura que o separava da nossa ambicionada e cobiçada merenda. Resfolegando, subia quarenta centímetros e escorregava trinta e cinco, fincando-se com os pés, em torniquete, para raspar a possível camada de sebo que lhe dificultava a subida, e a acumular contra as calças sebosas e fedorentas, de tecido camuflado, que escaparam no espólio.

Depois de umas dezenas de tentativas, em que subindo e escorregando, e iludindo a aproximação de eventuais antagonistas, limpou mais de uma arroba de quilos de sebo do mastro, e perdeu uns dez quilos de sebo do seu próprio corpo, conseguiu finalmente pôr a manápula sebosa, na amarra da embalagem.

Com estrema dificuldade, conseguiu resgatar o eventual manjar do topo do mastro, e com os poderosos dentes cravados na apetitosa embalagem, deixou-se escorregar até ao chão, onde, abraçado ao troféu, estendido durante alguns minutos, tentou refazer-se da cansativa tarefa, antevendo a mastigação da crocante pele do leitão, bem provida de apetitosa carne.

Entretanto, muni-me da faca de matar porcos, e limpei-lhe o sebo!

 


Jartur Mamede

Sexta-feira, 13 de Agosto de 2021

 

Que esta brincadeira também sirva como homenagem

ao meu “hermano” ESPALLARDO, autor do desenho anexo.

 

 


Problema Policiário

O MISTÉRIO DO TRIDENTE FATAL

Mr. Jartur

6 de Março de 1958

 

 

Atiramos as sacas para o banco posterior do carro e entrámos depois, puxando para nós as portas que o sol tornara escaldantes.

Entre o mar e a estrada por onde o potente veículo quase voava, estendia-se a praia. Era uma centena de metros de areia fina e aloirada, formando graciosas dunas que o astro rei embelezava com os seus maravilhosos reflexos.

Transposta a suave curva duma duna que dois rochedos coroavam, surgiu, a alguns metros, um vulto feminil que corria para a estrada, acenando com os braços na nossa direcção. Marcos e eu entreolhámo-nos, enquanto ele fazia parar o carro junto à berma da estrada, na intenção de saber o significado daqueles sinais que tão formosa rapariga fazia correndo para nós.

Era, bastante esbelta e bela a jovem que parou junto a nós, extenuada, com os compridos cabelos aloirados soltos ao vento, chicoteando-lhe os ombros e o colo que o «maillot» deixava a descoberto. Após alguns momentos em que tentou refazer-se da fadiga, a escultural mulher pediu-nos que a auxiliássemos, pois algo de terrível acontecera a seu noivo.

Enquanto nos acompanhava, ao local do drama, uma barraca de tecido multicolor montada atrás duma pequena duna, a jovem foi contando o que acontecera.

– Cheguei de manhã, com o meu noivo, e aqui tencionávamos passar o resto do dia, devendo regressar a casa com um amigo que por aqui passaria nesse propósito. Depois de termos dado um passeio pela beira do mar, o Alfredo foi deitar-se a ler junto à barraca, enquanto eu fui refrescar-me um pouco. Mergulhando no mar afastei-me da praia e, tão distraída andava praticando o desporto que mais admiro, que não dei pelo que se passava ao pé da barraca. De súbito, ouvi uma detonação. Olhei na direcção da praia e vi um homem, de pé no sítio onde o meu noivo ficara. Notando que não se tratava de Alfredo, gritei e nadei para terra, enquanto o homem fugia, correndo, em direcção à estrada. Só quando saí da água, é que vi que meu noivo estava no mesmo sítio, deitado, mas com qualquer coisa espetada na cabeça. Corri para junto dele, gritando o seu nome, mas não obtive resposta. Então, baixando-me e encostando o ouvido às suas costas notei com horror que estava morto. Desatei a chorar, abraçada a ele, e só me levantei quando ouvi o ruído do vosso carro. Então, corri esbaforida e… o resto já os senhores sabem.

Entretanto, havíamos chegado junto à barraca e a jovem tentou reter um soluço que por fim soltou, fitando sem ver, o corpo daquele que fora seu noivo. Enquanto eu tentava consolar a pobre moça, o meu amigo ajoelhou-se junto ao cadáver e colou-lhe o ouvido um pouco abaixo da omoplata esquerda, chegando também à conclusão que a rapariga citara.

Depois, olhando o corpo apenas coberto por um calção de tecido elástico, Marcos Dias observou com atenção o tridente que ao chegar vira espetado na nuca do desventurado banhista. Dos três orifícios abertos em linha, onde mergulhavam as pontas do arpão, saía ainda algum sangue que escorrendo pelo pescoço se ia juntar ao outro que a areia fina absorvera. Com cerca de setenta centímetros de comprimento, aquele instrumento de caça submarina estava encurvado a meio e tinha ainda presa no extremo, uma ponta de fio de pesca. Impressões digitais, não as havia.

Na areia, à roda do corpo, nada de anormal se notava. Pegadas, havia-as por toda a parte, mas seria impossível atribuí-las aos respectivos pés, já que todas eram disformes e idênticas, por causa da inconsistência do terreno.

Marcos prosseguia nas suas perscrutadoras observações e eu continuava cumprindo a minha missão consoladora. Fiz sentar a jovem junto da barraca e tentei fazer estancar as lágrimas que, deslizando pelas faces que o sol já bronzeara um pouco, lhe caíam nas pernas e rolavam pela pele limpa e sedosa, confundindo-se com algumas gotas de água marinha que o calor ainda não evaporara.

Desviando o olhar do pequenino caderno onde fizera alguns apontamentos, Marcos volveu-o para mim e perguntou, dirigindo-se à jovem.

– Sabe se o seu noivo teria alguém interessado na morte dele?

– Creio bem que… não! Apesar de que…. ele é muito rico. Nunca se sabe…

– Sim, compreendo! – cortou o detective, enviando um olhar mais atento, pela primeira vez, ao corpo harmonioso da linda rapariga. E depois, continuou. – Vejamos. A menina sabe se lhe roubaram alguma coisa? Talvez da barraca!?

– Não sei!... Depois que vim do mar ainda não entrei nela.

Marcos Dias parou junto de mim. Curvou-se para entrar na barraca e começou a remexer o seu conteúdo, pedindo à rapariga que visse se faltaria alguma coisa.

– Parece que está tudo. – Afirmou endireitando a roupa sobre o colchão pneumático e metendo na saca cilíndrica o barrete de natação, ainda húmido.

Terminado o exame no interior da barraca, Marcos saiu e voltou a examinar o corpo, impelido por súbito pensamento. A cabeça do pobre rapaz caía sobre um romance de Françoise Sagan, que as suas mãos crispadas seguravam ainda.

– A senhora… – ia a dizer o investigador.

– Oh! Desculpe não lhe ter dito ainda. Chamo-me Maria José e vivo a poucos quilómetros daqui. Canto no restaurante «Oásis».

– A senhora – recomeçou a dizer Marcos Dias – não reparou se o homem que se afastava era algum seu conhecido? Posso até lembrá-la que poderia tratar-se do amigo que viria buscá-los para os conduzir a casa.

– Oh! creio que não. Mas se o senhor quiser interrogá-lo, ele é o director da orquestra que me acompanha. Poderá encontrá-lo no «Oásis», pois nesta ocasião deve estar a ensaiar.

Marcos expeliu pelas narinas uma certa porção de ar e, aproximando-se de mim, disse qualquer coisa que me deixou incrédulo.

– Não! Não pode ser! – repliquei quando recuperei a fala. – Ele…

Mas, Marcos fez-me interromper a frase. Olhando a jovem que continuava sentada na areia, com a cabeça entre as mãos e os cotovelos sobre as pernas agora impecavelmente bela, pois já secara toda a água, disse-me, com uma expressão caricata que só eu compreendia.

– Bem! Têm de ficar aqui um bocado, enquanto eu vou ao «Oásis» falar com o senhor suspeito. Depois irei buscar uma ambulância e as autoridades locais, pois os senhores da polícia costumam querer cumprir as formalidades usuais.

O meu amigo afastou-se pela praia em direcção ao automóvel e eu, colocando sobre o corpo uma colorida toalha que tirara da barraca disse à jovem, ensaiando uma pronúncia cativante:

– Vá!... Não chore mais. Em breve o caso ficará resolvido e o culpado será castigado.

Aproveitando o tempo que Marcos levaria a regressar da cidade, resolvi refrescar-me um pouco e convidei a rapariga a acompanhar-me, Maria José rejeitou o convite, pois pretendia descansar alguns minutos. Do lado oposto da duna, oculto da «viúva», despi o dispensável.

Segundos depois, corria pelo suave declive da areia e lancei-me ao mar, aproveitando uma vaga que corria para a praia. Ao entrar na água, senti a cabeça bater em qualquer coisa que me pareceu um rochedo, mas que afinal não passava de um grande peixe. Agarrei-o, julgando-o vivo. Porém, logo notei que estava morto e quase em decomposição, com os intestinos a sair por rasgão que tinha no ventre. Segurando o peixe e nadando com uma das mãos, tal como Camões salvando os Lusíadas, voltei à praia onde o coloquei com cuidado, pois pensava pregar uma partida ao Marcos, quando ele regressasse.

 

Entretanto, Marcos Dias chegava ao «Oásis». Mandou chamar o director da orquestra que o gerente do restaurante disse ter chegado poucos minutos antes, e começou sem rodeios.

– O senhor pode dizer-me porque só agora chega para o ensaio, quando afinal já há mais tempo aqui devia estar? Creio que isso terá alguma relação com um crime que há pouco cometeram e eu tenho de resolver.

– Perdão, senhor! Não sei de que se trata. Quanto ao meu atraso, confesso que não tenho provas do que lhe vou afirmar. Fui-me deitar um pouco na praia, depois do almoço, e sem querer adormeci. Quando acordei, já eram seis horas e vim logo para aqui.

– Pois bem. – exclamou Marcos Dias – O noivo da Maria José foi morto num local quase deserto, junto ao mar, e o senhor era a única pessoa que sabia onde eles se encontravam.

– Isso é verdade! – respondeu o outro. – Mas também é verdade que o sítio onde eu estive é muito distante do lugar onde fiquei de ir buscar a cantora e o Alfredo.

– Está bem! Depois veremos isso. Para, já, faça favor de me acompanhar… Ah! A propósito: o senhor não se dedica à caça submarina?

– Não, senhor detective. E, por sorte, nem sequer sei nadar.

– Pronto, vamos. – E, abrindo a porta do Mercedes, Marcos Dias disse ao seu interlocutor: – Passaremos pela polícia e levaremos uma ambulância para remover o corpo.

O carro arrancou velozmente, provocando no rosto do músico algumas contracções que expressavam receio. Quando o carro, cada vez mais veloz, entrou na estrada principal, João da Doura, assim se chamava o chefe da orquestra exclamou:

– Lamento imenso a morte do meu amigo, a tal ponto que serei capaz de despender algum dinheiro para que seja feita justiça. Quanto a mim, as pessoas que me viram na praia devem comprovar as minhas afirmações.

– Sim! Deixe-me pensar um pouco… depois veremos.

 

Uma hora depois, enquanto o culpado era conduzido ao quartel da «Judiciária», Marcos Dias e Jartur aproximavam-se da cidade.

No olhar dos dois amigos, um atento à estrada outro à paisagem que se estendia em redor, reflectia-se a alegria do dever cumprido.

 

PERGUNTAS:

Quem foi o culpado?

Quais foram os pormenores acusadores encontrados pelo detective?

Como se teria passado o caso? Exponha o seu raciocínio.



Solução do Autor

O MISTÉRIO DO TRIDENTE FATAL

Mr. Jartur

 


 

Não existem dúvidas de que a solução deste problema é clara e única. Para a conseguir nada mais é preciso do que pura dedução, confrontando as declarações dos depoentes com as coisas e os factos que o detective viu e foram descritas no problema.

 

Ora, temos como culpado, aliás como culpada, a noiva de Alfredo. Para uma acusação mais concreta, há que ter em atenção o número de mentiras existentes nas suas declarações e, também, o número de pormenores que ditam a sua culpabilidade. Inicialmente vou focá-los todos, sem ordem. Depois, mais adiante, farei a reconstituição do caso apontando, então, outros pormenores devidamente explicados.

 

a) Primeiro que tudo, há a anotar o facto de Maria José ter dito que ouvira uma detonação. – Este é o seu primeiro erro, visto que os arpões da caça submarina são disparados pela força de elásticos e nunca por qualquer carga explosiva. Um possível silvo do tridente não lhe chegaria aos ouvidos, visto que, por muito calmo que o mar estivesse, o rumor das ondas o abafaria. Como adiante se prova, a rapariga andava com a cabeça protegida por uma carapuça, o que mais ainda dificultaria a audição.

 

b) Marcos Dias viu que o arpão estava encurvado pelo meio, o que prova que este não fora disparado por qualquer «zarabatana», visto que estas possuem umas guias para dar direcção ao projéctil e, a ser assim, a haste do tridente não deslizaria.

 

c) Depois de disparado, o arpão não se entortaria., pois a pressão exercida seria centrada no sentido longitudinal e nunca transversal de modo a encurvar-se.

 

d) Mas, o pormenor mais acusador, é aquele que a jovem construiu ao afirmar que estivera chorando abraçada ao noivo. Acusador, digo eu, pois «as lágrimas caíam-lhe nas pernas e rolavam pela pele limpa e sedosa, confundindo-se com algumas gotas de água que o calor ainda não evaporara». Comparando a afirmação e o facto deparamos com os seguintes erros: A ter estado ela abraçada ao corpo, por conseguinte deitada no chão, além de a areia fina lhe secar as coxas e as pernas que assentara no solo, ter-lhe-ia ficado, colada à pele húmida, uma grande quantidade de areia que nós sabemos ser fina e alourada. Mais atesta a veracidade desta dedução, o facto de, como diz o autor do problema, os cotovelos estarem sobre as pernas agora impecavelmente belas, pois já secara toda a água.

 

e) Outro pormenor bastante acusador é o facto de «à volta do corpo nada de anormal se encontrar». Isto desmente a rapariga ao dizer que não entrara na barraca pois, como sabemos, ela metera na saca o barrete de natação quando ali entrara a ver se faltaria alguma coisa, como o detective lhe indicou. Ora, se ela tinha a carapuça na cabeça, como atestam os seus cabelos soltos ao vento; se não a tinha nas mãos, o que sabemos porque ao correr ela acenava com os braços; nem, corno já disse, se encontra à volta do corpo, é porque a Maria José já havia colocado esse objecto dentro da barraca. Para o fazer, podia na realidade não ter entrado antes na barraca; porém, a mentira continua, visto que ela afirmou ter corrido para o corpo e ter ficado abraçada a ele até ao momento em que se erguera para correr para a estrada.

 

Então, quando é que pós o barrete dentro da barraca, pois não há dúvida de que nadara com ele? A prová-lo está a carapuça molhada e os cabelos soltos No caso de ter nadado sem o capacete – o que é improvável sabendo-se que o seu cabelo é comprido – este estaria empastado e não lhe chicotearia o colo e os ombros.

 

f) A ter estado a jovem abraçada ao corpo, os seus cabelos longos teriam, sem dúvida, chegado ao sangue e então ficariam manchados, como devia ficar também o «maillot» ou o corpo da rapariga.

 

g) O arpão, entortado, prova-nos que fora espetado por alguém que o agarrara pela haste e, ao desferi-lo sobre a vítima, lhe dera, sem querer, um movimento lateral que motivara o empeno.

 

Quanto a pormenores acusadores ficar-nos-emos por aqui, se bem que poderíamos ainda expor algumas hipóteses que nos provariam a anormalidade do caso como, por exemplo o facto de Maria José ter ficado abraçada ao corpo, quando a sua reacção deveria ser de horror, o que levaria a procurar, desde logo, alguém que a auxiliasse. Esperar junto do defunto que o acaso trouxesse alguém para a ajudar, é ter muita calma, uma calma da qual não dera provas durante a presença do investigador.

 

É, pois, a altura de reconstituir o caso, expondo o raciocínio que me pareceu mais lógico.

 

Terminado o passeio pela praia, que sem dúvida fizeram após a sesta, Maria José foi, na realidade, para a água onde viu, boiando, um peixe morto com um tridente espetado no ventre. Então, assaltou-lhe a mente uma ideia: desfazer-se do noivo, ao qual desde há muito vinha sugando dinheiro, e de quem agora já se sentia cansada. Extraiu o arpão do corpo do peixe e, saindo da água, colocou o tridente sobre a areia, em sítio onde a água não chegasse.

 

O noivo, futura vítima, continuava interessado pela obra de uma boa escritora. Assim a jovem pôde, durante alguns minutos, estudar mesmo enquanto nadava a maneira de cometer o delito sem se inculpar. E, então a ideia chegou.

 

Saindo da água, a cantora tirou da cabeça o barrete de borracha e com ele agarrou o tridente já quase enxuto. Razão pela qual nele não havia impressões digitais. Subiu a praia, silenciosa, e aproximando-se de Alfred o que nada notava, já pelo interesse concentrado na leitura, já pelo ruído quase nulo dos passos da criminosa. (Podia até ter-lhe falado o que, aliás, o não surpreenderia nem faria mudar de posição). Curvou--se um pouco, apontou o tridente e… A vítima nem se mexeu pois, os bicos da arma fatal, dando-lhe morte imediata. (Se repararmos na posição do livro e das mãos da vítima, fácil nos será concluí-lo). A rapariga olhou mais uma vez à sua volta e aproximou-se da barraca na intenção de «surripiar» o que quer que fosse. Naturalmente, sem notar que o fazia, pousou a carapuça. Mal tinha acabado o seu trabalho, ouviu na estrada o deslizar do automóvel. Teve uma ideia súbita e correu, acenando aos ocupantes do veículo.

 

Esta hipótese, que é a mais lógica, pode, no entanto, divergir em alguns pontos, o que não influi na boa e única solução do caso para a qual devem ser tomados em conta todos os pormenores focados nas alíneas a), b), c), d), e), f) e g) e ainda os apontados na reconstituição do caso.

 

Quanto ao outro suspeito, nada tem a ver com o crime. As suas declarações nada têm de duvidoso e há ainda a salientar o facto de ter estado na praia, a dormir, como comprovarão as pessoas que ele disse terem estado na praia e que, por certo, são suas conhecidas.

 






 





 





















 



4 comentários:

  1. Parabéns ao Sr. Mamede e ao RO pelo belíssimo texto

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  2. Muitos parabéns ao Jartur, uma pessoa que tem marcado o Policiário na decifração, na produção, na orientação e na investigação.

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  3. Parabéns ao Jartur! Um grande abraço...

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  4. MUITOS PARABÉNS SAÚDE E FELICIDADES🎂🕵️‍♂️🍷🍾🤍

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Os seus comentários são bem-vindos. Só em casos extremos de grande maldade e difamação é que me verei obrigado a apagar.