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quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

👣 Primórdios da Problemística Policiária Portuguesa »»» PPPP »»» CORREIO POLICIAL - Domingos Cabral ☝ (Re)publicação - "CORREIO POLICIAL" de 09.OUT.2020

 🧐🕵️ Primórdios da Problemística Policiária Portuguesa...👣👣 🔍

📝🔦 https://reporterdeocasiao.blogspot.com/  🔐

 *** 4.ª Edição! 🧐 📖

 

 

PRIMÓRDIOS DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PORTUGUESA

POR: DOMINGOS CABRAL

 


Capa do livro O “Taxi” n.º 9297,

editado pelo Primeiro de Janeiro

Quando chegou ao seu termo o folhetim homónimo.

 

PRIMÓRDIOS DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PORTUGUESA

CICLO REINALDO FERREIRA – “REPÓRTER X”

CONCURSO DOS CONTOS MISTERIOSOS

 

Em 1927, com a publicação, no jornal “Primeiro de Janeiro, dos denominados “Contos Misteriosos” da autoria de Reinaldo Ferreira (“Repórter X”), iniciou-se a que hoje é conhecida como “problemística policiária” - contos (50) que integrarão o livro “Primórdios da Problemística Policiária Portuguesa”, a editar brevemente, e que decidimos também nesta “Página” reproduzir num ciclo dedicado àquele tão versátil jornalista/escritor/cineasta, que à época disfrutou de uma enormíssima popularidade.

 

Tendo na pretérita semana inserido o primeiro desses Contos, damos hoje sequência à série reproduzindo o que “O Janeiro” divulgou no dia 02-02-1927:

***

“Teve ontem um belo êxito o conto policial do nosso concurso. “O Primeiro de Janeiro” pode orgulhar-se de que foi o assunto monopolizador do espírito de todos leitores. “As rãs adestradas de Lidia Tadini” foi lida e relida; e à volta do seu enigma levantou-se uma verdadeira celeuma. Quem seria o matador das três rãs adestradas? Uns, os mais atentos à leitura, não tiveram dúvidas em indicar o autor da proeza. Outros hesitaram, enganados por falsas pistas. E contudo não é difícil... O autor da façanha está no conto; êle atravessa o episódio; é o único que tem verdadeiro interesse em terminar com o número sensacional do Teatro Apolo... (...) Não acusem nenhum dos personagens do conto sem vêr se esse personagem teria verdadeiro interesse em matar as rãs do music-hall...”

 

***

“Hoje publicamos o segundo conto do Concurso – “Os três capitães” – emocionante aventura d`espionagem, durante a nossa intervenção na grande guerra. Para o decifrar façam como no anterior; leiam com especial atenção as frases sublinhadas.”

 

N.º 2

“OS TRÊS CAPITÃES”

O capitão A..., que coleciona sobre o peito da farda as suas gloriosas condecorações da Grande Guerra - emprestou um livro de capa berrante e título sugestivo: “Os Mistérios da Espionagem”.

- Leia que é interessante - disse-me. Tem só uma falsidade: é o capítulo que se refere ao fuzilamento dum oficial portuguez. Se outra glória não nos trouxesse Flandres - ninguém nos pode regatear esta: a de não termos sofrido a vergonha de um traidor. Só uma vez adensou no meu espírito uma grave suspeita - e era falsa. Quer ouvir?

 E o capitão A.... contou-nos o seguinte episódio:

- Eramos três oficiais que nem de vista nos conhecíamos e que em França nos juntávamos sob o mesmo telhado, nos dias de repouso: o capitão José T..., o capitão Raul T... e eu. Alugámos uma casita a dois quilómetros da aldeia, na margem duma estrada longa e triste. O meu impedido Manuel, e

Mariana - uma holandesa de olhos de gato, que nos servia de cozinheira e por quem José estava enamorado - completavam a improvisada família.

“Nos primeiros tempos fomos desagradavelmente surpreendidos com as visitas frequentes de um misterioso ladrão que, aproveitando o nosso sono, se introduzia em casa e nos fazia enormes estragos na dispensa. As portas fechavam mal e as janelas não eram de confiança. Mas uns cadeados bastaram para nos libertar do gatuno - fruto natural da miséria que reinava na aldeia.

“Os nossos serões eram animados, ao princípio, pela cantoria dum gramofone. Mas a pobreza dos discos cansou-nos rapidamente - e a máquina falante foi arrecadada nas águas furtadas. O capitão Raul, muito lido em teosofia, propôs para nos entretermos, pôr em prática algumas experiências de espiritismo; e apesar dos protestos do capitão José, que era muito impressionável, começamos a passar as noites no meu quarto, à volta de uma mesa de pé de galo, sem resultados positivos. Duas semanas antes do 9 de Abril, o automóvel do coronel inglêz Donnald veio buscar-me. Chefiava eu então os serviços do correio secreto. Ao quartel-general entregaram algumas ordens escritas para eu cumprir no dia seguinte.

“De regresso a casa, guardei as cartas num pequeno armário. Os meus dois camaradas aguardavam-me com impaciência. O capitão Raul ia experimentar um novo sistema... de telefonia extra terrestre. Sentamo-nos os três no meu quarto, diminuímos a luz e espalmando as mãos sobre a mesa, iniciamos a sessão...

“Segundos depois ouvimos uma voz efeminada, uma voz que se assemelhava a um estertor, uma voz quasi não humana... Um frio horrível nos gelou os dorsos... Seria possível que as almas dos mortos chegassem a comunicar connosco? E Raul, muito calmo e sorridente quis dirigir uma pergunta ao espírito. Mas o espírito explicava-se bem:

- Um crime se cometeu nesta casa e não impune! Esta casa é maldita! Foi nesta casa que me assassinaram há trinta anos! Se querem ter a prova vão à cozinha, tirem os tijolos e encontrarão um esqueleto...

Raul pedia mais detalhes... Pedia nomes... E o espírito, indiferente, repetia a mesma lenga lenga. O impedido e Maria entraram, assustados, no compartimento, atraídos pela voz do outro mundo. Suplicamos-lhes silêncio. Durante cinco minutos a mesma voz insistiu nas mesmas acusações. Depois calou-se... Não houve forma de a fazer falar de novo.

José estava ansioso para sair dali. Parecia asfixiado. - Vamos à cozinha... 

Vamos...

Encolhi os ombros, incrédulo. Mas Raul fez coro com o tenente - e lá fomos todos à busca do esqueleto. Não era trabalho fácil... Foi necessário quebrar os tijolos... José saiu para ir às águas-furtadas buscar um velho machado: Mariana foi ao quintal procurar uma pá para tirarmos a terra que servia de leito aos tijolos. Raul e o impedido encarregaram-se de reunir na cozinha todos os candeeiros da casa. Eu fiquei sósinho, durante alguns minutos. Depois recomeçamos todos juntos o trabalho. Mas foi inútil. O esqueleto não aparecia.

- O espírito estava a mangar connosco – e eu tenho que levantar-me cedo - disse, ao voltarmos ao meu quarto.

Por uma sucessão de ideias olhei para o armário onde guardava as cartas do coronel inglez... Calcule V. Como fiquei ao vê-lo arrombado. Soltei um grito de pânico.

- Fomos burlados! - disse.

E compreendi logo que o espírito fôra apenas um pretexto para me afastar do quarto. Eu fôra vítima de uma proeza de espionagem. Passei revista aos feixos e cadeados que asseguram as portas e janelas.

Estavam todos intactos. Portanto o espia encontrava-se dentro da casa. Passei uma minuciosa revista a todos os compartimentos. Ninguém... Mas espere... Essa revista não foi totalmente vã: atraz de um biombo encontrei o gramofone -o nosso antigo divertimento, há muito abandonado numa mansarda. Quem o trouxera para ali? E como visse que tinha um disco colocado, fi-lo funcionar. E o disco repetiu o que horas antes nos dissera o espírito - “Um crime se cometeu nesta casa! Esta casa é maldita, etc...”

“Estava provado, pois, que a alma do outro mundo era o gramofone; que o gramofone me fizera sair do meu quarto à busca dum esqueleto; que o ladrão do documento não saíra da casa...

“No dia seguinte fui comunicar aquela catástrofe ao coronel inglez que não lhe deu grande importância nem me incomodou... Mas a minha desconfiança tornara-se tão pesada no fundo de todos os meus pensamentos que quarenta e oito horas depois abandonava a casa e a companhia dos meus camaradas - e ia instalar-me, sósinho, numa hospedaria da aldeia.

***

Calou-se o capitão A... - e eu inquiri, curioso:

- E chegou a saber quem tinha sido o ladrão das cartas?

- Sim... mas mais tarde, já nas vésperas do regresso a Portugal. E ninguém mo denunciou. Uma noite entretive-me a relembrar, em todos os detalhes, aquele episódio, raciocinei, conduzido pela recordação da voz que impressionára o disco do gramofone – e cheguei ao convencimento que o ladrão das cartas era...

 

De quem era aquela voz que impressionára o disco do gramofone?

Quem podia praticar a espionagem em casa do capitão A?

Quem foi o ladrão das cartas?

***

Raciocinem; procurem o espia entre os personagens do conto; releiam o que está em itálico.

 

***

NOTAS:

1 – Já transmitimos esta informação, mas será conveniente voltar a fazê-lo: Nos “Contos Misteriosos” que estamos a reproduzir é respeitada a ortografia em vigor à data de sua publicação original – 1927. 

2 – O “Janeiro” recebia e classificava as respostas dos leitores concorrentes aos “Contos”, mas não publicava as soluções dos mesmos. Assim, para não frustrar a curiosidade dos que nos acompanham, elaborámo-las nós – embora de uma forma muito abreviada. Assim, aqui fica a respeitante ao enigma divulgado na passada semana: “As rãs adestradas de Lidia Tadini”:

Quem matou as rãs foi Morano, o empresário do vizinho Novelty - o único dos suspeitos que de tal ato beneficiava. Lidia, o seu marido, o seu empresário e o proprietário do teatro rival - O Apolo - todos perdiam nitidamente com o seu desaparecimento.

Repare-se nos seus desabafos - apresentados no texto em itálico: “Ele só ganha dinheiro quando eu quero” e “o meu vizinho tem a mania de me prejudicar”.

E como o fez? Obviamente, através do “pateo do seu teatro (...) que abre uma janela para o palco dele”...

 






 

 

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