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quarta-feira, 15 de maio de 2024

👣 Primórdios da Problemística Policiária Portuguesa »»» PPPP »»» CORREIO POLICIAL - Domingos Cabral ☝ (Re)publicação - "CORREIO POLICIAL" de 27.NOV.2020

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 *** 11.ª Edição! 🧐 📖

 


PRIMÓRDIOS DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PORTUGUESA

POR: DOMINGOS CABRAL

 


PRIMÓRDIOS DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PORTUGUESA

(CONTINUAÇÃO)

CICLO REINALDO FERREIRA – “REPÓRTER X”

 

“CONCURSO DOS CONTOS MISTERIOSOS” N.º 9

“O DIA DE SAMORIM DE CALICUT”

(Episodio histórico da primeira viajem de Vasco da Gama à India) 

 

O “forte capitão”, junto ao leme, passeava, ávido, orgulhoso, a sua pupila clara pelo casario recortado de Calicut. As labaredas do sol indico faziam lantejoilar as frontarias policromas. Os braços das palmeiras pareciam reverberar de esmeraldas.

Mas, Alvaro Velho veio cortar aquela dôce e descuidada acalmia de uns minutos apenas com que Vasco da Gama se pagava das angustias e das incertezas de muitos meses de viajem.

- O degredado que foi a terra acaba de regressar.

O embaixador do rei de Portugal quis ouvir da boca do degredado as impressões do primeiro contacto com a população indu.

A sua passagem pelas ruas – contou – provoca o pasmo das gentes. E um mouro abordara-o carrancudo e hostil, para lhe dizer, num castelhano bárbaro:

- «Al diablo que te doy! Quien te trujo aqui?

Não era lisonjeira a expressão – e devia simbolisar os sentimentos de uma grande parte dos habitantes de Calicut.

- Já vos preveni, capitão – segredou-lhe Alvaro Velho. Os arabes, senhores do comércio do Oriente, não poderão vêr com olhos de bem a vossa magnífica proeza. A moirama tecerá aleivosias e intrigas para combater todos os outros estrangeiros que ousem vir a esta terra!

*

Foram longos, para a impaciência de Gama, os preliminares da audiência solicitada ao Samorim. Mandara avisar ao rajah de Calicut que era portador de duas cartas de El-Rei D. Manuel: uma escrita na sua linguagem, outra em mourisco. «Que se entendesse com os seus ministros – respondeu-lhe o rajah». «Que não» - retorquira Gama. – Era ele portador de uma embaixada, de cartas de credência e que só a El-Rei as entregaria».

Samorim cedeu. Foram traduzidas as cartas pelos mouros que ele escolhera para interpretes, na presença do capitão-mór portuguez. E ficou contente o rajah. E quis saber que mercadorias lhe oferecia o rei de Portugal e que mercadorias queriam os portuguezes levar da India.

Estavam lançadas as sementes para o tratado de comercio. Era este o remate triunfal da proeza do navegador. E Gama dispunha-se já a saborear, na intimidade do seu orgulho, a vitoria diplomática da sua missão quando Alvaro Velho, desconfiado e matreiro, lhe segredou:

- Prudência, capitão. Observastes bem o que se lia nas expressões dos mouros, que não podiam ocultar o despeito que lhes ardia n’alma? Ainda é cedo, para nos alegrarmos… Todas as cautelas são poucas para vos defenderdes das ciladas dos arabes…

*

Faltava apenas a prova documental do triunfo das negociações. Faltava a resposta do Samorim para que o capitão-embaixador a entregasse a El-Rei. Prometida estava há dias – e sempre uma evasiva a retardava. E naquela manhã, um emissário de rajah, portador da ola do seu soberano foi recebido pelo Gama, na camara da nau.

Contra todos os protocolos não vinha fechada a ola – e não a sabia ler o capitão-mór. E o emissário, gesticulou como um mudo, para fazer compreender que com ele vinham intérpretes.

Desceram os intérpretes à câmara. Eram três – e pela variedade dos seus tipos dir-se-hia que os haviam escolhido a capricho. Um era alto, agigantado, de perfil fino e cutis clara – mas estrábico, dum estrabismo invergente, que impressionava; o outro, bronzeado e de pele brilhante que parecia untada; o terceiro era um pigmeu corcunda de pouco mais de um metro de alto – um gnomo tão pencudo que o extremo do nariz parecia roçar pelo queixo.

Foi traduzida a ola em castelhano. Dizia Samorim que aceitava o tratado de amizade e comercio e que de Calicut podia levar muita canela, cravo, gengibre, pimenta e pedras preciosas – a troco de ouro, prata, coral e escarlata que El-Rei D. Manuel lhe enviasse.

Conteve o forte capitão os ímpetos da sua alegria. Buscou um tubo de metal, dentro do qual guardou a ola, fechando o tubo com a tampa onde se via desenhada a Cruz de Cristo. Vieram os portuguezes palestrar com os intérpretes mouros e com o comissário do rajah. E Gama, de pé, apoiara a mão espalmada no tubo metálico que estava vincado no topo da meza.

Demoram-se os mouros em conversas balofas – e só abandonaram a câmara uma hora depois.

Gama quedou-se só com Alvaro Velho.

- Ainda duvidaes do nosso triunfo? Indagou o capitão.

- Até que as nossas naus singrem de novo para Portugal, estarei na dúvida. Temo esses árabes, traiçoeiros e capazes de todas as vilanias para que não possaes cumprir a vossa missão…

- Nada há de que arrecear Alvaro Velho. A ola do rajah está aqui!

Desapoiou o tubo metálico do tampo da meza e abrindo, introduziu dois dedos para retirar a carta. Se o tivessem pintado de cal, mais branco não ficaria o rosto do navegador. A carta tinha desaparecido!

*

O capitão-mór sentou-se antes de encarar de frente o roubo que lhe tinham feito. E ao sentar-se, levara consigo, fechado na mão, o tubo de metal! E viu então que a madeira do tampo da meza onde o tubo estivera apoiado estava fendida. Levantou-se e foi examiná-la de perto. Alguem a furara por debaixo, auxiliado por uma lamina extraordinariamente fina e poderosa. De um relance, visionou o que se passára… os seus dedos ratearam, rápidos, o extremo do tubo. Tambem estava cortada a circunferência de metal que lhe servia de fundo.

- Vejo agora claro, como se tivesse sido testemunha! - exclamou Gama, apertando a barba loira. Aproveitando a cheia de gente que me invadiu a câmara, o ladrão ocultou-se sob a meza. Não era difícil calcular onde eu pousara o cilindro que tinha, de pé, sob a palma da minha mão. A madeira não é grossa. A lâmina perfurou o tampo da meza e abriu o espaço suficiente no fundo do tubo para, com o auxílio da mesma lâmina, puxar a ola e roubá-la…

Dobrou-se para debaixo da mesa.

- Ali está ainda a serradura, prova de que não me equivoquei. Habilidoso deve ser o malandrim, para ter operado sem o menor ruído… Mas, o que mais me faz pensar é como ele conseguiu ocultar-se num espaço tão pequeno, como é este que vai da tampa da mesa ao chão.

Reflectiu um instante e ordenou:

- Depressa, Alvaro… Corre… Que não deixem sair da nau os mouros…

- Prudência! – repetiu Alvaro Velho… Lembrai-vos da gravidade de uma acusação mal baseada!

- A minha acusação vai ser firme. Só um dos três mouros podia ocultar-se sob a meza para praticar tal façanha.

Esse mouro foi…

*

Releiam as linhas em itálico, vejam qual dos tres mouros podia ter-se ocultado sob a meza e encham o coupon.

*   *   *   *   *

Esta transcrição respeita a publicação original.

 


 





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1 comentário:

  1. Que giro, haver uma rua com o nome do jornalista🎞🕶📢🎙🎤🎥📸📷

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