🧐 🕵️ Primórdios da Problemística Policiária Portuguesa...👣👣 🔍
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PRIMÓRDIOS DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PORTUGUESA
(CONTINUAÇÃO)
CICLO REINALDO FERREIRA – “REPÓRTER X”
* * * * *
“OS 50 CONTOS MISTERIOSOS”
N.º 46 – A ÁGUIA CAPTIVANa penumbra do templo, de altas e arrendadas paredes de sandalo, os brazidos dos perfumadores sagrados picavam o próprio fumo azul com o oiro de centenas de estrelinhas.
Ao fundo, acocorado sobre uma banqueta anã, entre budhas de quatro braços – o “sumo” o “Deus-Vivo”, pançudo, com o umbigo enjoiado por um enorme diamante, craneo esferico, a calva untuosa e os olhitos semi-cerrados que melhor sabiam ver o invisível do que o palpável – parecia dormitar…
Tintaneou o gongo - e da sombra dum portal surgiram vários sacerdotes, de negras vestes – e de tão inexpressivos rostos como os dos budhas, espalhados pelo templo.
Cercaram o “sumo”. O “sumo” continuou na sua catapléctica imobilidade. Eles não o fixaram com o seu vesgo olhar; o “sumo” não os olhou tampouco… Dir-se-hiam cegos todos.
Os seus lábios apenas tremeram; e as palavras que dos lábios saíram eram apenas murmúrios.
- Deus! Injuriaram-te…
- Quem me injuriou?
- Não… sabemos… Mas injuriaram-te…
- Como me injuriaram?
- Matando a “Águia-Captiva”!
O rosto do “Deus-Vivo” nem se crispou… Os olhos afectaram uma infinita insensibilidade.
Houve um silencio. Depois indagou:
- Não morreria a “Águia-Captiva” de morte natural?
- Não, Deus, não! Nós vimo-la… Tres feridas abriram no seu corpo… Tres fios de sangue pintam fogo na noite da sua plumagem negra… Tres balas cometeram o sacrilegio…
Outro silencio. “Deus-Vivo” reflectia ou esmolava aos Deuses d’alem-ceu um conselho para a vingança.
- Nenhum dos meus filhos teria ousado atacar a sagrada Águia… Pela cidade de Tserkin não andam loucos que fossem provocar a Nossa Colera… Só estrangeiros podiam cometer este atentado…
E um dos sacerdotes, abemolando ainda mais a voz, propoz:
- Iremos prégar a guerra santa contra os diabos brancos… O povo assaltará a hospedaria da Ponte, onde estão os estrangeiros… E a agonia de cada um dos sacrílegos será tão longa… tão longa, como alta é a torre que eles violaram.
Os olhos do “Deus-Vivo” relampaguearam, um só instante… As vestes negras dos sacerdotes agitaram-se ao de leve.
- Não!
E ordenou:
- Yonkong! Tu, que já estiveste em Pekin e lidaste com estrangeiros e os conheces, tu és o escolhido para a missão de Divino Castigo. Vai tu sósinho á hospedaria da Ponte… Minh’alma te guiará… Nós só queremos a morte do sacrílego – a morte rápida… As torturas aguardam-no. Além da Morte numa agonia eterna… Mata-o – porque mata-lo é entrega-lo á Justiça dos Céus! Mas… cuidado! Que só morra o sacrílego e não outro…
E Yonkong, sussurrou:
- E se eu me equivocar?
- Não te equivocas! A nossa alma apontará á tua inteligência o verdadeiro culpado…
* * *
Tserkin era a cidade da seita… Nela habitava o “Deus-Vivo”, o sumo sacerdote… E a uns kilometros da Porta Amarela erguia-se a torre gigantesca da “Águia-Captiva”… Media talvez, cem metros… E, no topo, numa jaula gradeada com fortes bambus, vivia a “Águia”…
Nenhum acesso existia para o topo da torre… Todas as semanas reuniam-se os sacerdotes e do templo saía a escada dos trezentos degraus que apoiavam a torre… Um dos sacerdotes subia com a água e a carne para a alimentação da Águia… E depois recolhiam a escada ao templo – e mais ninguém, em Tserkin, podia contemplar sequer a “Águia-Captiva”.
* * *
Yonkong entrou na hospedaria da Ponte…
Havia oito estrangeiros… Quatro mulheres - e quatro homens. Os homens eram todos militares – enviados á China em missões especiaes dos seus governos…
Estavam todos reunidos em redor de uma mesa, jogando… Um deles ganhava… Um deles ia perder a vida, dentro de poucos minutos…
Havia um capitão da artilharia franceza; um tenente da engenharia americana; um major da aviação britânica e um coronel do Estado Maior italiano...
E Yonkong, oculto por detraz de uma coluna e olhando, uma por uma, as insígnias das armas dos quatro oficiaes, não hesitou em apontar a pistola a um deles… Estralejou um tiro… Ouviu-se o baque dum corpo… O matador da “Águia-Captiva” estava castigado…
* * *
Quem era ele…?
NOTA: Foi mantida a grafia da época (1927)
GENTIL MARQUES RECORDANDO
REINALDO FERREIRA
(Continuação)
”O MÊS DE OUTUBRO NA VIDA
DE UM HOMEM...”
Pois foi em Outubro (de 1911) que Reinaldo Ferreira e Mário Domingues se conheceram no velho “Colégio Francês”.
Residia Reinaldo no terceiro andar do número 29 da Avenida Almirante Reis, um prédio que ainda existe, tal como nessa altura, com uma porta verdosa e um perfil então ligeiramente aristocrático para os prédios da época.
(Pormenor curioso, para os interessados: na parte debaixo do mesmo prédio, no número 29-A encontra-se actualmente a "Agência Funerária Alfredo Magno & Carlos Gomes, Lda.". Para Reinaldo Ferreira, supersticioso como era, isso seria de muito mau presságio...)
Foi também em Outubro de 1912, se a memória não me engana, que Reinaldo Ferreira, Cristiano Lima e mais dois ou três companheiros - todos na força dos seus quinze anos, e inspirados pelo prefácio escrito por Batalha Reis no livro "Prosas Bárbaras" de Eça de Queiroz - quiseram fundar um cenáculo...
”E alugou-se para o efeito um quarto, sem mobília, na Rua Dona Estefânia. A mobília sairia das nossas casas...!
(Outra observação digna de registo e de interesse: nesse tempo, o jovem Cristiano Lima chamava ao jovem Reinaldo Ferreira “O Zola da Avenida Almirante Reis”...)
A Tertúlia não durou muito tempo - mas a amizade manteve-se através de todas as vicissitudes da Vida!
Foi ainda em Outubro de 1913 que se verificou o reencontro de Mário Domingues com Reinaldo Ferreira. Ambos se tinham empregado. O Mário como praticante de uma Companhia de Seguros. O Reinaldo como empregado de escritório, numa fábrica de tecidos, lá para as bandas de Alcântara.
Claro que um emprego destes não podia amoldar-se ao talento de Reinaldo Ferreira. Em breve o largou, para se dedicar apenas aos seus escritos.
Então já colaborava em revistas francesas de Cinema e recebia orgulhosamente em sua casa envelopes endereçados a "Mr. Reinaldo Ferreira - Avenida Almirante Reis, 129 -3°, Lisbonne".
Em Outubro de 1913, também - e com 17 anos incompletos - entrou para a redacção do jornal "A Capital", levado por esse grande jornalista chamado Hermano Neves (pai do Dr. Mário Neves) - que como já referi na minha crónica anterior - criando a primeira secção de Cinema na Imprensa Diária Portuguesa.
E sempre o mês de Outubro com ele...
Em Outubro de 1925 alcançou um dos maiores triunfos da sua carreira de repórter. Regressou da Rússia, onde escrevera sucessivas reportagens de nível internacional, e proferiu uma importância conferência na sede do Sindicato dos Profissionais da Imprensa, em Lisboa. Um ano mais tarde, em Outubro de 1926, publicou a famosa entrevista de Reinaldo Ferreira com o "Repórter X" (vendo-se os dois na mesma foto, um em frente do outro, por hábil truncagem) - trabalho que deu volta ao Globo, traduzido e adaptado em vários países.
E ainda um ano depois, em Outubro de 1927, Reinaldo Ferreira entrevistava sensacionalmente a bordo de um iate, o poderoso Mr. Singer, rei universal das máquinas de costura, que conseguira escapar até então à perseguição dos melhores jornalistas de todo o Mundo.
Igualmente em Outubro - mas de 1928, no dia 28 (comemorou-se o 50.º aniversário da efeméride o ano passado - e ninguém deu por isso) foi Reinaldo Ferreira homenageado com um grande banquete no Palácio de Cristal, no Porto.
Em Outubro de 1930, assinalou-se outro relevante acontecimento na vida de Reinaldo Ferreira: a sua partida para Londres, já então consagrado como o melhor repórter do seu tempo!
E em Outubro de 1932 ganhava como autor teatral, apresentando no velho Teatro Apollo a sua peça "Táxi 9297", sobre o assassinato da actriz Maria Alves, que também serviu de tema para um filme com o mesmo título e realizado por ele próprio. Fama, aliás, que se cimentaria nas lides teatrais e sempre no mês de Outubro, com a estreia do "O homem da cabeleira branca", em 1930, no também velho Teatro Gymnásio e com a peça "O homem que mudou de cor", no São Luís, em 1935.
(Para a atenção dos leitores mais curiosos esta peça baseava-se numa novela com título idêntico que ele publicara primeiramente na revista espanhola "Blanco y Negro" e depois traduzira em português. O seu grande amigo Mário Domingues sempre julgou que lhe servira precisamente de inspiração para essa obra...).
Mas ao assunto, terei de voltar ainda, afinal de contas, em próxima crónica.
(Texto de 1979)
DOMINGOS CABRAL DA SILVA
»»» Publica-se aos dias 15 e último de cada mês! «««
INFORMAMOS OS LEITORES, ESPECIALMENTE AQUELES QUE TÊM PERGUNTADO PELAS "SOLUÇÕES" DOS "CONTOS/PROBLEMAS POLICIÁRIOS", QUE NO FINAL DE TODAS AS PUBLICAÇÕES... APRESENTAREMOS AS "RESPOSTAS" (PLAUSÍVEIS), MESMO QUE RESUMIDAMENTE... PELO QUE TODOS OS FÃS DESTES "PRIMÓRDIOS" DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PODEM CONTINUAR A TOMAR NOTAS DAS SUAS PRÓPRIAS OPINIÕES... PARA, DEPOIS, COMPARÁ-LAS... COM AQUELAS DEDUÇÕES/OPINIÕES!!
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