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segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

👣 Primórdios da Problemística Policiária Portuguesa »»» PPPP »»» CORREIO POLICIAL - Domingos Cabral ☝ (Re)publicação -- "CORREIO POLICIAL" de: 13.AGO.2021 🧐 A 2.ª Parte dos "PPPP" com o Ciclo L. FIGUEIREDO

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 *** 49.ª Edição! 🎓 📖

 

 

PRIMÓRDIOS DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PORTUGUESA

POR: DOMINGOS CABRAL

 

2.ª PARTE - CICLO L. FIGUEIREDO 


*  *  *  *  *

 

SECÇÃO “O LEITOR É SHERLOCK HOLMES?”

 

 

P R O B L E M A S    P O L I C I A I S

O leitor é

Sherlock Holmes?

COMO OS GRANDES POLÍCIAS DESCOBREM

OS CRIMES MAIS MISTERIOSOS

 

QUERE O LEITOR FAZER DE «DETECTIVE»?

 


*  *  *  *  *

SECÇÃO “O LEITOR É SHERLOCK HOLMES?”

4.º PROBLEMA:

A MORTE DO "BICHO AZUL"    

     Na conhecida taberna do "Canholas", afamada por servir de valhacouto a numerosos bandidos, reuniu-se uma noite em torno de uma mesa, e muito despreocupadamente, a temível quadrilha de "môsco" capitaneado pelo "Bicho Azul", para dividir o produto dos roubos ultimamente praticados.

     Á cabeceira da mesa sentou-se o "chefe", até então temido e respeitado, mas ultimamente mal visto por alguns dos quadrilheiros e sempre receoso das traições dos seus associados.

     Á direita deste tomou lugar o "Orelhas", seu lugar-tenente e rival na chefia da quadrilha, a cujo lado, também sentado, ficou o "Bola de sabão", hábil serralheiro, transviado do trabalho para a vida de banditismo e célebre pela exímia manufactura de chaves falsas. Á esquerda do chefe, sentou-se o "Rachado" assim conhecido devido à cicatriz que tinha no lábio inferior, sinal de facada com que anos antes fôra ferido em rixa sempre envolta em mistério, e ao lado deste o hercúleo "Canário".

     O "Bicho azul" dissera em confidência a alguns dos seus amigos que ninguém conseguiria prendê-lo, porque preferia a morte à prisão a que habilmente conseguira furtar-se nos últimos tempos.

     Em certa altura da partilha e devido a desinteligências a que o "Orelhas" não foi estranho, azedaram-se os ânimos, começou uma violenta discussão e luziram os canos das pistolas de que todos os membros da quadrilha estavam armados.

     Os factos que se seguem passaram-se simultaneamente. O "Orelhas" e o "Rachado" conservaram-se sentados de pistola em punho, levantando-se o "Canário" e o "Bola de sabão" - movimento que também foi esboçado pelo chefe. Na taberna entrou empunhando também a sua pistola o "Tacão", outro quadrilheiro que ainda não aparecera e cujas relações com o chefe era das piores. Estava este à direita e um pouco atraz do chefe, quando soaram tiros disparados por todos os quadrilheiros e aparecem à porta, atraída por eles, uma patrulha da Guarda Republicana, que intimou os bandidos a conservarem as posições que ocupavam, fornecendo informações para o esboço que publicamos.

 

      O momento em que dispararam os tiros, foi aquele em que o chefe se ia levantar, tendo virado ligeiramente a cabeça para um dos lados, quando foi atingido e cai redondamente morto no chão.

     Examinadas as pistolas, faltavam balas em todas, incluindo a do chefe, tendo ficado ligeiramente feridos alguns dos bandidos, mas sem que tal interesse ao assunto.

     Tendo-se, mais tarde, extraviado o relatório da autópsia, só se conseguiu achar a lauda em que estavam os desenhos dos perfis direito e esquerdo do "Bicho azul", mostrando o primeiro uma ferida penetrante com grande esfacelamento de tecidos próximo ao ângulo do maxilar inferior e o segundo uma ferida também penetrante de bordos regulares e correspondendo proximamente ao diâmetro de uma bala de pistola e situado no frontal esquerdo, conforme se vê na gravura.

     Os tecidos em volta das feridas não estavam chamuscados.

     O posto antropométrico forneceu a indicação das alturas dos vários membros da quadrilha:

     Bicho azul - 1,70; Orelhas - 1,75; Bola de Sabão 1,68; Canário - 1,83; Rachado 1,66; 0 Tacão - 1,52.

     Para se apurar como morrera o "Bicho azul" não havia outros elementos senão os que fornecemos e como era necessário destrinçar as verdadeiras responsabilidades dos membros da quadrilha neste caso, foram apresentados à polícia de investigação as seguintes perguntas, a que convidamos os leitores dos nossos problemas policiais, a responder:

 

     1.º - O "Bicho azul" foi assassinado por algum ou alguns dos seus companheiros ou suicidou-se ao pressentir a Guarda Republicana?

     2.º - Por quantas balas foi atingido?

    3.º - Se os leitores opinarem pelo assassínio, teria sido um ou mais do que um dos quadrilheiros, ou actores da morte?

     4.º - Ainda nesta hipótese, qual ou qual deles?

     5.º - Como explicar a grande perda de tecidos na ferida do lado direito?

******

  

SOLUÇÃO DO PROBLEMA:

     1.º - O “Bicho azul” foi assassinado por um dos seus companheiros.

     2.º - Só por uma bala.

     3.º - Como consequência da resposta anterior foi morto só por um dos quadrilheiros.

     4.º - O “Canário”, devido à posição em que se encontrava no momento do crime, de pé, à esquerda e a certa distância do “Bicho azul” e à sua estatura. A direcção do tiro que vitimou o chefe, dada pela posição dos orifícios de entrada e saída da bala, confirma-o.

     5.º - Explica-se a grande destruição de tecidos no ferimento do lado direito e que é normal na saída de uma bala, que atravessa muito tecido ósseo, porque vai arrastando no trajecto fragmentos de osso, que são outros projecteis secundários, que devastam os restantes tecidos.

     O orifício de entrada de uma bala no corpo é sempre menor e de bordos regulares.

     Esta explicação, que constitui uma lição elementar de medicina forense e que um verdadeiro polícia amador não deve ignorar, é a base deste problema. A hipótese de suicídio tinha que ser logo posta de parte por não estarem chamuscados os tecidos circunvizinhos do orifício de entrada da bala e não ser natural que o "Bicho azul" disparasse o tiro do lado esquerdo e de cima para baixo. O "Rachado" também não podia ser o autor da morte pela direcção que a bala tomou, porque estava sentado. Os indivíduos colocados à direita e a patrulha da Guarda não podiam ter disparado o tiro que entrou pelo frontal esquerdo do "Bicho azul" na posição em que este se encontrava.

 

***

 

CONSIDERAÇÕES SOBRE AS 1.ª E 2.ª FASES DOS "PRIMÓRDIOS"

(Continuação)

     Abordemos, então, a questão de saber quem foi L. Figueiredo (o que se reveste de importante na história dos Primórdios da Problemística Policiária, uma vez que a ele se ficou devendo a segunda mais antiga experiência competitiva desta modalidade entre nós, e a primeira claramente assumida como “Secção de Problemas Policiais”.

     A verdade é que não possuímos elementos suficientemente credíveis para com credibilidade esclarecer esta questão e, dado o tempo entretanto volvido, não se afigura ser hoje fácil obter tal informação - apesar das diligências que nesse sentido termos vindo a efectuar...

     L. Figueiredo: Nome próprio? Pseudónimo? Conjecturando, com todos os riscos de fiabilidade que tal hipótese representa, achamos que se tratou efectivamente de pseudónimo. Primeiro porque na ficha técnica do “Notícias Ilustrado” não consta, à data, nenhum J. Figueiredo; depois porque, mesmo posteriormente, não foi conhecido ninguém com este nome que tivesse estado ligado ao policiário; ainda porque, nessa época, na modalidade o uso de pseudónimos era extremamente vulgar; porque um muito conhecido jornalista/ escritor durante muitos anos colaborador de revistas e magazines de temática policial, e autor - sobre vários pseudónimos - colaborava também regularmente no “Notícias Ilustrado” (um exemplo: “O Desejado”. Novela inédita por Mário Domingues, ali publicado no n.º 74 daquela Revista). A sua biografia regista, aliás, que - "a partir de 1926, as suas reportagens, artigos, comentários, contos e novelas aparecem publicadas na imprensa (...) de maior projecção...”, entre muitas outras, o “Diário de Notícias” (onde, no seu suplemento “Notícias Ilustrado”, surgiu a secção de L. Figueiredo...)

     Outros indícios:

- Mário Domingues partilhava uma longa e sólida amizade com Reinaldo Ferreira, estabelecida no Colégio Francês, em Lisboa, que ambos frequentaram, firmada em ideias, valores e projectos comuns, de que faziam partes as actividades policiárias;

     - Em 1930, Reinaldo Ferreira deu-lhe a chefia da redacção do seu semanário “Repórter X”;

     - Mais tarde Mário Domingues fundou e dirigiu o famoso semanário “O Detective”, que inseria uma Secção Policial - durante alguns anos tida como a primeira publicada entre nós.

     Fiquemos por aqui, sem a dúvida esclarecida: Terá sido L. Figueiredo pseudónimo de Mário Domingues? É uma hipótese - levantada e suportada não só por nós - que continuaremos a tentar confirmar...

 

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DOMINGOS CABRAL DA SILVA

 »»» Publica-se aos dias 15 e último de cada mês! «««  

 

 

1 comentário:

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