🧐 🕵️ Primórdios da Problemística Policiária Portuguesa...👣👣 🔍
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PRIMÓRDIOS DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PORTUGUESA
2.ª PARTE - CICLO L. FIGUEIREDO
* * * * *
SECÇÃO “O LEITOR É SHERLOCK HOLMES?”
P R O B L E M A S P O L I C I A I S
O leitor é
Sherlock Holmes?
COMO OS GRANDES POLÍCIAS DESCOBREM
OS CRIMES MAIS MISTERIOSOS
QUERE O LEITOR FAZER DE «DETECTIVE»?
SECÇÃO “O LEITOR É SHERLOCK HOLMES?”
5.º PROBLEMA:
AS JOIAS DA BARONEZA
O número do “Diário de Notícias” de 5.ª feira, 8 de Agosto, publicou as primeiras notícias de um importante roubo de joias, no palacete da Baroneza da Alameda, nos Olivais.
Havia 4 anos, desde que enviuvara, que a Baroneza se retirara da sociedade. Na madrugada deste dia foi encontrada, sólida mas delicadamente amordaçada e amarrada no leito, tendo assistido assim ao roubo das suas joias avaliadas em 250 contos, que estavam guardadas no cofre embutido na parede no escritório da parte de traz do edifício, contíguo ao quarto de cama e que ligava ao 2.º andar da sua residência. O gatuno, aproveitara-se da ausência acidental da dama de companhia da Baroneza que dormia no quarto ao lado.
O cofre foi violado com “pé-de-cabra” à vista da sua proprietária e rapidamente esvaziado, por um homem alto, largo de ombros e de maneiras distintas que a polícia facilmente identificou como sendo o tristemente célebre “Morgado da Havaneza” (o Arséne Lupin português), gatuno de cofres que contava já tantos anos de prisão quantos anos frequentara na Universidade um curso superior.
A polícia inclinava-se, porém, a acreditar que o gatuno devia ter sido informado, se não auxiliado, por alguém da casa. Em oposição a esta hipótese estava a Baroneza, que afiançava a honestidade do pessoal, não querendo admitir que velhos servos fossem cúmplices no roubo. Nos interrogatórios a que os submeteram, todos protestaram a sua inocência e desconhecimento do caso.
No dia seguinte apresentou-se à polícia um caixeiro de praça que residia em Sacavém para prestar as seguintes declarações:
“Pouco depois da meia-noite, passei pela estrada que confina o palacete da Baroneza, levando a bicicleta à mão, por se ter avariado. Entre o arvoredo fronteiro vi um luxuoso automóvel Fiat sem ninguém que me deu a impressão de ter sido ali cuidadosamente escondido.
Vinte metros adiante, pareceu-se divisar um vulto que saltava o muro da propriedade. Ignorava então quem fosse o dono do palacete.
Encostei a bicicleta à valeta e trepei rapidamente a uma árvore. O luar permitiu-me ver que um homem caminhava furtivamente de um massiço de verdura para outro na direcção da casa. Era alto e vi distintamente que levava na mão um objecto que se ma afigurou ser um “casse-téte”.
Enquanto estava oculto por um caramanchão brilhou no telhado do prédio a luz de uma lanterna eléctrica descrevendo um movimento semicircular, logo seguido por dois idênticos. O nosso homem atravessou então o pateo com passo firme, contornando a seguir a casa por um dos lados. Não pensei que se tratasse de crime e admiti a hipótese de ser entrevista amorosa, rapto ou coisa parecida, confirmando a minha suposição a nitidez dos sinais que vira.
Agora que li o relato do “Diário de Notícias” acompanhado pela gravura do palacete, lamento não ter prestado mais atenção ao assunto e recolher tão depressa a casa”.
Desta preciosa informação resultaram novos interrogatórios do pessoal, que se prolongaram por mais de duas semanas. O criado de mesa, jardineiro, “chauffeur”, governante e criadas foram mais uma vez, devido às declarações que fizeram, considerados isentos de culpa.
Chegou, porém, à polícia uma vaga denúncia anónima de que o criado Macário, tinha relações com o “Morgado da Havaneza”.
Nesta ocasião, chamados a intervir na diligência, conseguimos namoriscar uma das criadas, sem que suspeitasse a nossa qualidade de “detective” e por ela soubemos que o “Macário” na 3.ª feira anterior ao roubo enviara para Lisboa uma carta pelo “chauffeur”, aproveitando a sua ida habitual à cidade.
Interrogado o “chauffeur” confirmou que fôra portador da carta mas que ela não tinha a ver com o roubo, porque sabia que era um anúncio para o “Diário de Notícias” e o dinheiro para o pagar que vinha fechado num subscrito e que o entregara num “guichet” da administração do diário. E acrescentou que o Macário lhe pedira para o entregar imediatamente, porque se tratava de incumbência de um amigo e que se esquecera de satisfazer há dias. Afirmava que a letra do envelope não era parecida com a do Macário e admitia a possibilidade de estarem todos doidos, por pensarem que houvesse relação entre o roubo e a remessa da carta. Não se cansava de repetir que fossem ver ao “Diário de Notícias” se não era verdade o que afirmava.
Levámos efectivamente o “chauffeur” à administração do jornal, mas os empregados nada adiantaram às nossas suposições por ser enorme o movimento de anúncios e não saberem qual fôra entregue por ele.
Não desanimámos, porém. Procurámos nas colunas do jornal do dia do roubo e encontrámos 6 anúncios que pela sua redacção achámos suspeitos de ocultarem qualquer mistério.
O leitor que examine e deduza para ver se consegue responder às seguintes perguntas:
1.ª — Foi ou não o criado Macário cúmplice do “Morgado da Havaneza"?
2.ª — Como teríamos nós "detectives" conseguido resolver o problema proposto?
******
SOLUÇÃO DO PROBLEMA:
1.º - O criado Macário foi cúmplice do “Morgado da Havaneza” no roubo das joias.
2.º - Dos anúncios que publicámos e que tinham sido publicados no “Diário de Notícias”, concluímos que a comunicação do criado estava incluída no que tinha por título “Trespasse”.
Aproveitando as palavras que figuram neste anúncio em 1°, 7°, 13°, 19°, 25°, 31°, 37°, 43° lugares, isto é, de seis em seis, encontramos o texto do aviso em cifra. Ligadas aquelas palavras via-se claramente que continham indicações suficientes para o roubo:
“Escritório trazeiras segundo norte negócio ocasião quarta 12”.
“Escritório trazeiras” designava evidentemente que o cofre onde se encontravam as joias cuja existência o gatuno conhecia estava nesta divisão da casa e na parede das traseiras do prédio.
“Segundo” significava o andar onde era aquela divisão e "norte" a orientação a fachada correspondente.
“Negócio ocasião” mostrava que era a altura de praticar o assalto, devido à ausência acidental da dama de companhia.
“Quarta” o dia da semana em que o roubo se devia levar a efeito e “12” a hora propícia.
O Macário foi interrogado para explicar a sua participação no crime e o motivo porque transmitiu ao cúmplice pelo anúncio as indicações citadas.
Disse então que não tencionava ajudar de qualquer forma na prática do roubo o “Morgado da Havaneza”, mas que este, tendo conhecimento da existência das joias, tomou sobre si o encargo do “trabalhinho” impondo-lhe, porém, que o avisasse da ocasião oportuna e o introduzisse no palacete da Baroneza depois de lhe fazer os sinais com a lanterna significando que tinha o campo efectivamente livre.
O “Morgado de Havaneza” possuía grande ascendente sobre o Macário que, até travar relações com ele, no ano anterior, se comportara sempre exemplarmente. O processo de transmissão pelo anúncio foi empregado para evitar que qualquer correspondência enviada directamente ao “Morgado da Havaneza” os pudesse descobrir.
***
Nota: Como já anteriormente tivemos oportunidade de referir, as soluções oficiais dos problemas de L. Figueiredo, pecam, por vezes, por insuficiente fundamentação, causando ao leitor/decifrador dificuldades e alguma (justa) frustração. São disso exemplo os problemas publicados na semana passada e o de hoje. Vejamos uma situação reportada a este:
Se nem do desenho que o problema anexa como indiciário para a obtenção da resposta pedida, nem o texto daquele enunciam a composição do anúncio publicado no “Diário de Notícias”, como poderia o solucionista partir da interpretação de determinadas palavras do mesmo para chegar à conclusão que o autor nos apresenta na sua solução?
Enfim, referimos a situação apenas para os que não, ou menos, conhecedores da problemística policiária não considerem que estas “deslealdades” constituem prática comum.
D.C.
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DOMINGOS CABRAL DA SILVA
»»» Publica-se aos dias 15 e último de cada mês! «««





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