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TINÓNI!... TINÓNI!...
O jovem, trabalhador nas obras de construção, vivia com muitas dificuldades, e muito amor ao filhito de seis anos. Ganhava pouco nas obras, mas ajudava-o a fazer face aos seus encargos, o dinheirito que recebia por algumas tarefas de electricista ou canalizador, de que alguns vizinhos ou amigos o incumbiam, para o ajudar.
E era grande a sua tristeza, quando o seu pequenote lhe pedia algum dos brinquedos que via na televisão do infantário, já que na sua modesta casa esse luxo não havia, pois há alguns meses tivera que se desfazer do aparelho.
Era véspera de Natal!
O Carlos estava à entrada do “Super”, apertando com amargura a sua última nota de 20 euros. Vacilava, entre comprar alguns produtos alimentares para casa, ou adquirir a “camioneta dos bombeiros”, que já algumas vezes, choramingando, o filho lhe pedira.
Entrou no estabelecimento. Não se decidira ainda pela secção a visitar; se a mercearia ou a zona de brinquedos. Optou por esta. Algumas prateleiras já se encontravam bastante desguarnecidas. A instalação sonora e os écrans gigantes, espalhados por toda a área comercial, publicitavam brinquedos para a criançada.
Ao ser anunciado que o acesso às caixas encerraria dentro de meia hora, estugou o passo. Finalmente, encontrou a camioneta de bombeiros, ambicionada pelo miúdo, que sempre respondia, quando lhe perguntavam o que queria ser quando fosse grande:
– Bombeiro! – observou o preço; 19,99€. Ainda lhe sobraria um cêntimo!
Encaminhou-se para a fila de caixas de cobrança, e ocupou o último lugar de uma
delas. Só quando à sua frente, se encontravam apenas dois clientes, teve espaço suficiente para colocar na passadeira, a sua singela aquisição. Pousou-a com emoção.
Notou, que na correnteza de saídas das caixas, havia um número desusado de pessoal da “segurança”. Era normal isso acontecer, na época de Natal, quando as grandes superfícies têm uma maior afluência de clientes. Mas desta vez, exageravam!...
Quando o cliente que o precedia efectuou o pagamento e retirou os sacos do terminal, a simpática menina da caixa 7, cumprimentou, como era habitual proceder com todos os utentes: – Boa tarde, senhor!... Deseja um saco?
– Obrigado, menina! Só levo esta caixa… – disse ele com certo amargor na voz, que ameaçava sumir-se por causa da sua comoção.
A simpática moça, pegou na embalagem, e orientou para o feixe de leitura o código de barras visível na caixa. A máquina emitiu o sinal acústico de registo válido.
– São dezanove e noventa e nove, senhor. – Ela pegou na nota de vinte euros que o cliente lhe entregou. Passou para o comprador a moeda da demasia, acionou a tecla de pagamento efectuado… e de súbito, soaram na aparelhagem brados estridentes e harmoniosas notas de música natalícia. Apressadamente, dois elementos da segurança da loja se acercaram do boquiaberto cliente, que retiraram com firmeza, mas sem violência da saída da caixa, conduzindo-o ao Gabinete do Director, que lhe disse:
– PARABÉNS! – Você é o nosso cliente « UM MILHÃO »… e vai receber…
Não apenas «UM MILHÃO»... Para já, é seu este telemóvel topo de gama… e pode chamar toda a sua família, para nos acompanhar na «Ceia de Consoada»!…
Jartur
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VINGANÇA NUMA MANHÃ DE FEVEREIRO
O meu velho tio Ambrósio era muito chato. Implicava com tudo e por nada. Até os putos que brincavam na rua, junto à sua janela, o incomodavam. Era raro o dia em que não abria a janela para gritar com os pulmões que lhe restavam: “Pirem-se daqui, catraios. Vão jogar à bola para outro lado e deixem-se de gritarias. Arre, que uma pessoa nem consegue dormir uma sesta descansado. Qualquer dia perco a cabeça e corro convosco ao estalo.”
A embirração com os miúdos era tal que, a partir de determinada altura, passou a guardar aquele quarteirão da rua onde morava, impedindo-os de reinar. Ficava ali especado, de mãos cruzadas atrás das costas, como se fosse um polícia de giro. Os moços mais espigadotes ainda lhe faziam frente, teimando em imitar na perfeição as habilidades de Figo e dos seus pares, até que a bola lhes escapava e ia parar aos pés do velho Ambrósio...
Eu cheguei a contar dez bolas arrecadadas num canto do seu quarto, todas elas surripiadas aos jovens aspirantes a génios dos relvados, que, nessa altura, o brindavam com mimos pouco agradáveis, mas merecidos: “Devolva a bola, seu jarreta d’um raio. Qualquer dia fazemos-lhe a folha, seu velho caduco d’uma figa.” O Ambrósio enfurecia-se e remoía baixinho as piores pragas que lhe vinham à cabeça calva e já vermelha de a tanto coçar.
Certo dia, era fevereiro – lembro-me como se fosse hoje –, o Ambrósio estava de sentinela à porta de casa, pronto a dar caça aos que se atrevessem a fazer da rua um parque de brincadeiras, um palco de tropelias e algazarras, um campo de futebol.
O tempo estava frio e húmido e soprava um vento forte e agreste. Tinha chovido durante toda a manhã e não se via vivalma na rua. O meu velho tio batia o dente, mas não largava o seu posto.
De súbito, como se saíssem do denso nevoeiro que acordara a cidade e que continuava a impedir que o sol inundasse as ruas, quatro moços caminhavam em direção a Ambrósio. “Lá vem o bando dos quatro” – pensou o velho. Vinham de rostos cobertos, um deles com um lenço que só lhe descobria os olhos, outro com uma mascarilha, os outros com meias enfiadas na cabeça. Colocaram-se em fila diante do Ambrósio e todos à uma sacaram de pistolas.
O meu tio tremeu que nem varas verdes. A cara encheu-se de uma palidez de pânico quase transparente, que deixava ver as magras veias sem pinga de sangue. Os seus dentes batiam mais do que o descompassado coração, o suor caía em bica pelas faces gretadas, a boca secava, secava, secava, até que se abriu num grito sufocado pelo medo. De olhos muito abertos e boca escancarada, Ambrósio gelou quando um dos miúdos gritou: “Um, dois... disparar!”.
Esguichos de água fria encheram a boca de meu tio! Era terça-feira de carnaval...
Inspector Mokada
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