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ASSALTO NUMA NOITE DE JULHO
Necas e Lecas são dois dos mais temidos jovens sem eira nem beira que todos os dias andam à cata de dinheiro fácil, saído por artes pouco dignas dos bolsos dos turistas que pululam pelos lugares mais concorridos da cidade, sobretudo em julho, nas festas lá do burgo. Quando os foliões acorrem ao recinto dos espetáculos, Necas e Lecas acomodam-se por entre a multidão em busca da gente mais distraída e aparentemente abastada. Mal descobrem uma potencial vítima, com o perfil adequado, ou seja, uma pessoa não conhecida, com ar de forasteiro, lá estão eles prontos para o golpe. E raramente falham. Uma carteira de homem, recheada de dinheiro e de cartões de crédito, salta quase por artes mágicas dos bolsos do seu proprietário para as mãos de um deles, sem que ninguém se aperceba, pondo-se logo em fuga.
E quando não é uma carteira que voa milagrosamente dos bolsos de um incauto cavalheiro abonado para a posse de um dos jovens larápios, é um objeto de valor subtraído da mala de uma bem posta senhora que muda de dono. Eles são exímios a atuar e fazem-no muitas vezes aos olhos de cidadãos seus conhecidos, mais despertos, mas cobardes, que ficam calados por temor da reação agressiva dos dois jovens. Não há, na verdade, quem os conheça que não os tema, salvo raríssimas exceções. E as pessoas que constituem essas raras exceções eles conhecem muito bem e não os ousam confrontar. Tiveram, aliás, algumas pequenas contrariedades tempos atrás, porque se atreveram a fazer frente a algumas vozes mais grossas saídas de bocas de gente ágil, destemida e musculada, que lhes serviu de emenda para sempre.
Agora põem todo o cuidado na ação, não vá o diabo tecê-las e sofrerem os mesmos amargos de então. Não só escolhem muito bem as suas vítimas, como saem logo de fininho se alguém topa o esquema e levanta a sua voz contra o crime, mesmo que seja de mansinho. Mas apesar de todos os cuidados, chegou o dia em que o feitiço se virou contra o feiticeiro. Os dois jovens toparam um sujeito bem posto, com um valente chumaço na algibeira direita das suas calças de linho. Necas colocou-se sorrateiramente do lado direito do indivíduo, não sem antes olhar cuidadosamente em volta. Lecas, por sua vez, depois de analisar bem a zona envolvente e de tirar a pinta à gente que se encontrava próxima do alvo, dispôs-se atrás do sujeito, sobre a sua direita, e esperou que Necas desse o passo seguinte. E assim que este deu um encosto seco no ombro da presa, Lecas deitou a sua hábil mão esquerda no bolso do sujeito.
Mas em vez da ansiada carteira ou maço de notas, a mão de Lecas trouxe um lenço de cambraia que arrastava consigo algo metálico que não teve tempo de identificar. Ato contínuo, a mão de Lecas foi firmemente agarrada pela mão direita do assaltado, enquanto a canhota lhe desferiu um sopapo que o deitou por terra, agarrado ao queixo e com lamúrias de menino mimado. Depois de imobilizado, foi levado até à esquadra mais próxima pelo sujeito alvo do assalto, depois deste apanhar o seu crachat de inspetor da PJ caído no chão do recinto...
Ma(r)ta Hari
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UM DESEJO IRRESISTÍVEL SOB O SOL DE AGOSTO
Tó-Zé já está um homenzinho. Está na idade da imortalidade e de todos os disparates, em que não há impossíveis nem limites para os sonhos. Mas, felizmente, não é de muitos excessos. A não ser nas suas relações com as miúdas. Este ano já lhe contaram mais de dez namoradas, todas elas giras. E no início deste verão soube-se que chegou a andar com três ao mesmo tempo, o maroto. Mas mal agosto nasceu tudo acabou. Como sempre acontece, assim que chegou a data de partir para férias, rompeu com todas. Nessa altura, quer ser livre como os passarinhos que vê ao acordar através da janela do seu quarto, cantando só para ele. Este ano, porém, um dos seus mais irresistíveis desejos levaram-no a cometer um grande disparate.
Ela deixava-o louco. Há semanas que aparecia dengosa, invariavelmente à mesma hora, após o almoço, sempre que ele se sentava naquele banco do jardim a gozar as delícias do verão que há muito nascera. O sol, lá no alto, brilhava em quase todo o seu esplendor. E ela lá vinha, sorrateiramente, insinuante, levemente, esvoaçante. Aproximava-se do banco fronteiro e por lá ficava enquanto ele lia tranquilamente um livro. Aos poucos, ele foi ficando cada vez mais impaciente, com o desejo de se aproximar dela, sentar-se a seu lado e olhá-la de perto, admirar a sua frágil figura, inalar o seu cheiro... Qual seria o seu odor, o perfume do seu pequeno corpo?... Que calor ela irradiava, que sensações seria capaz de transmitir?...
O desejo de a conhecer melhor era muito, mas o medo de a perder para sempre também. Aos poucos foi ganhando coragem e um dia lá se levantou, discretamente, deixando o livro no seu assento à espera de qualquer reação dela. Da primeira vez que o fez, mal esboçou deslocar-se em sua direção, ela pressentiu a intenção de se sentar a seu lado e partiu. Ele fez nos dias seguintes várias tentativas e o resultado foi sempre o mesmo: A fuga! Adotou depois nova estratégia e manteve-se sempre no seu lugar, de olhos postos nela, com o livro esquecido a seu lado para que ela percebesse que já nada mais o interessava, se não ela mesmo. Mas ela, nada! Era como se ele ali não estivesse, não existisse, não fizesse parte do seu mundo.
Ele não convivia bem com aquela sua reação. Mas a verdade é que ela nunca deixou de aparecer no jardim. Sempre à mesma hora, bela, ligeira, atrevida, acomodando-se sempre no banco em frente ao seu, cerca de cinco metros mais além. Quando ela se distraiu, ele pegou na arma e... disparou. Em cheio. Desta vez ela não fugiu. Ali ficou, morta, caída sobre o banco de jardim, onde ele nunca se chegou a sentar apesar da vontade quase indomável de o fazer, só para estar um pouco junto dela. Poisou a espingarda de pressão de ar que o acompanhava sempre que passava as férias grandes, ali na terra dos seus avós, e apressou-se a pegar nela. Ela que o trazia há muito preso ao desejo de um arrozinho malandrinho de... pomba branca!
Inspetor Boavida
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🙆 BOM Domingo!
📑BOAS Leituras!
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