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INQUIETAMENTO NO PRINCIPADO
Vem a galope o cavalo bem arreado, e estranhamente sem cavaleiro. Passa em frente dos fidalgos, submergidos na sua ociosidade, e acelera em direcção aos nobres plebeus acantonados em frente à taberna saboreando uns copos de tinto.
Queda? Acidente? Crime? Eis as perguntas que ferviam na cabeça de toda a gente que assistiu à passagem meteórica do impetuoso corcel.
É o dia do torneio de tiro aos pratos que a associação desportiva organiza todos os anos.
Os disparos das caçadeiras faziam eco pelas inóspitas montanhas do principado.
Entretanto uma algazarra surge no adro da igreja. Era o porta-voz da polícia, – à espera da reforma antecipada – cumprindo um costume arcaico ainda em vigor no principado, a anunciar de megafone do alto do púlpito para a aglomeração popular:
– Evadiu-se do calabouço o Flagelo do Mal.
A notícia espalhou-se como fogo em palha seca. Com o tão astuto e perigoso bandoleiro – titular da alcunha esquisita – à solta, a apoquentação sobre o paradeiro do cavaleiro aumentou. Um grupo de perseguição organizou-se para localizar o cavaleiro apeado. Outro se fez para encontrar o cavalo.
Entrementes, os desempates entre os participantes do torneio candidatos a prémios, aumentava o ritmo das detonações. Teria o bandido a monte ou outro malfeitor, se aproveitado da atroada do tiroteio, para fazer discretamente como sendo apenas mais um, o seu tiro criminoso?
Entretanto com um soberbo alheamento intelectivo, o grupo de estudiosos, que sabia de um enxame de abelhas que não regressava de um lupanar, resolveu dissecar o provérbio “Em Julho abafadiço fica a abelha no cortiço”, porém adiaram para data incerta a divulgação das suas descobertas bizarras.
O chefe da polícia estava em desespero. O cavalo foi encontrado, sereno, num pasto viçoso, molhado de vez em quando pela água expelida dos aspersores da rega automática. Pertencia à linda princesa. Porém as buscas foram infrutíferas para o montador. Nem vivo nem morto.
O palafreneiro da corte, desconhecendo o resultado das buscas, publicou em todos os “média” da altura, que se dava alvissaras, a quem encontrasse o cavalo da princesa que tinha escapado, antes do teste de equitação.
Já se sabendo do puro-sangue lusitano, e não havendo equitador, o risco de crime, ou acidente evaporou-se tal e qual como a crença comum de ganhar a lotaria.
Os camponeses ceifavam a seara, os hortelões cuidavam do grelo e da couve de bruxelas. No final do mês porém o salário foi recebido em aipos e melões. Os ferreiros, não cunharam moeda, dado que após investigação não havia ferro nem carvão.
No abafadiço mês de Julho
Quebrou-se o punho da foice
O feijão apanhou gorgulho
O palafreneiro descuidou-se
Inspector Moscardo
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MORAL DA HISTÓRIA
PARA A PROCURA DA VERDADE, NUNCA É CEDO NEM É TARDE.
AS NOITES QUENTES DE AGOSTO
ou As Condessas Redondas
Conto dedicado a A. RAPOSO & LENA e a todos os moradores do Conde de Redondo)
Com a chegada de Setembro, acabadas as férias de Agosto, tudo em Lisboa parecia voltar à chata normalidade. Ali, na zona do Conde de Redondo, tudo corria sem alterações de maior. Cada vez menos lugares para estacionar os carros, as casas com preços de aluguer cada vez mais caros, o lema era "quem está bem deixa-se estar e a vida vai andando".
A nossa história tem como protagonistas um simpático casal de lisboetas moradores no bairro há mais de 15 anos, ela Lutegarda Gonçalves Crespo, esposa legítima de Balbino Gonçalves Crespo, sediados num terceiro andar na rua Ferreira Lapa. O acaso fez com que viessem a ser amigos de um outro casal, ele Honorato Gomes Freire, e ela Maria Zulmira Gomes Freire, mais conhecida por Mizú, moradores na rua Bernardo Lima, ali bem pertinho.
A extraordinária coincidência dos apelidos e dos nomes das ruas estarem todos relacionados com a toponímia do bairro, tornaram-nos amigos. E como as senhoras, com o passar do tempo, não tivessem evitado o arredondar de maneira bem visível as formas antigamente juvenis, a vizinhança tinha começado a alcunhá-las satiricamente de "As Condessas Redondas".
Corria uma quente manhã de Setembro. Lutegarda atendia à porta o sr. Ângelo, o guarda nocturno, que todos os meses vinha receber a sua mensalidade. -"Já não vinha cobrar há dois meses, minha senhora, mas afinal podia ter cá vindo no mês passado porque, ao contrário do que me tinha dito, a senhora esteve cá em Agosto."
– “Eu?” – surpreendeu-se Lutegarda. – “Sim, quando eu andava por aí nas minhas rondas, vi-a muitas vezes na varanda a fumar um cigarrinho com o seu marido, naquelas noites que estiveram tão quentes. Era sempre por volta da meia-noite. E, deixe-me dizer-lhe uma coisa, era um regalo para os olhos ver assim a senhora, às vezes com tão pouca roupa na varanda... Não pode levar a mal... Quem passa na rua não pode deixar de olhar para cima, pois não?”
– “Tem a certeza de que não se enganou?”
– “De maneira nenhuma, eu sei muito bem qual é a vossa janela.”
– “Bom, diga lá quanto é que eu devo e desapareça!”
– “Oh diabo, querem ver que já meti a pata na poça?”
Lutegarda ficou furiosa. Depois de ter pagado e despachado o Ângelo, bateu com a porta e veio para dentro sem conseguir dominar a raiva que sentia. A verdade é que tinha passado todo o mês de Agosto na Foz do Arelho a passar férias com as crianças, em casa de uma tia. Além disso nunca na vida fumara. A mulher que o guarda-nocturno tinha visto à janela em pelota, ou quase, e a fumar na companhia do seu marido não podia ter sido ela. Estava mais do que visto. O Balbino, o marido, que tinha ficado em Lisboa por motivos de trabalho, tinha certamente arranjado uma amiguinha para o refrescar nas noites quentes de Agosto. – “Mas espera lá que logo, quando voltares do emprego, vais levar para o tabaco! E a gaja, se eu descubro quem é, desfaço-a.”
O fim da tarde chegou e dispensamo-nos aqui de descrever a recepção que estava à espera do Balbino. De linguagem “vicentina” para cima e pratos pelo ar, nada faltou. O Balbino, quando conseguiu uma pausa para respirar um pouco, lá conseguiu justificar-se. – “Oh, querida, tu nem sabes como estás a ser injusta! O homem na varanda não era eu! Eu não queria contar-te porque sei que és amiga da Maria Zulmira, mas acontece que o marido dela, o Honorato, veio pedir-me a nossa casa emprestada várias noites em Agosto para poder estar à vontade com uma gaja que ele tinha engatado no “Elefante Branco”. E eu, que como sabes sou muito amigo dele, não consegui dizer-lhe que não. O combinado era eles saírem à meia-noite e meia. Imagina que eu tinha de ir todas as noites fazer horas para o “Tamila” mas, sabes como é, os amigos são para as ocasiões e ele estava tão desesperado que eu não tive coragem. Agora por favor não vás contar nada à Mizú, senão desgraças o rapaz.”
Passaram-se entretanto duas semanas. Lutegarda lá tinha acalmado os seus ciúmes, mas a pedra tinha ficado no sapato. Pelo sim pelo não, nem sequer voltou a procurar falar com a Maria Zulmira, não fosse o diabo tecê-las e ela não conseguir resistir à sua solidariedade feminina e descair-se. O Conde de Redondo voltou à sua pacatez habitual. Só que, numa manhã em que a Lutegarda procedeu a uma limpeza mais profunda no quarto, descobriu debaixo da cama um lencinho branco sujo de baton e com umas letras bordadas que diziam MIZÚ. Como se costuma dizer, foi como se uma coisinha má lhe tivesse passado pelas ideias, e sem pensar duas vezes, resolveu telefonar à sua amiga com um falso pretexto.
– “Olha lá, Mizú, já não nos vemos há que tempos, mas ontem acho que cruzei na rua Luciano Cordeiro com um homem que parecia mesmo o teu marido, e tive saudades de vos ver.”
– “O meu marido? Oh filha, não podia ser ele. O Honorato está há três meses na Suécia a especializar-se no fabrico e na instalação de pára-raios. Tu não calculas o que é ter a casa cheia daquela tralha toda. São pára-raios por todo o lado! Até estou a dormir no sofá.”
Lutegarda emudeceu. Nem conseguia respirar. O filme completo passou-lhe logo pela cabeça. – “Muito me contas, minha cabra. Já percebi tudo. Dormes no sofá, mas eu faço-te a cama.” E desligou.
Entretanto, já passou outro Agosto sobre esta história. Mas até hoje, a Polícia Judiciária, também vizinha ali na Gomes Freire, ainda não conseguiu descobri quem terá matado a Maria Zulmira, na sua casa da rua Bernardo Lima, vítima de uma violenta marretada dada com um pára-raios na cabeça.
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🙆 BOM Domingo!
📑BOAS Leituras!
Bons contos cheios de suspense😯
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