🧐 🕵️ Primórdios da Problemística Policiária Portuguesa...👣👣 🔍
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PRIMÓRDIOS DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PORTUGUESA
(CONTINUAÇÃO)
CICLO REINALDO FERREIRA – “REPÓRTER X”
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“OS 50 CONTOS MISTERIOSOS”
N.º 43 – VULCÃO DE ESTRELASOs “stúdios” cinematográficos da “Deutch-Film”, eram alcunhados, entre a gente do “métier” pela “Embaixada de Los Angeles”… De facto, construídos como estavam, nos arredores de Berlim, á semelhança dos seus similares da Califórnia, reuniam em alguns hectares quadrados de terreno, todas as maravilhas modernas da celebre capital americana das películas. Os artistas do seu elenco – que se contavam por centenas – os seus figurantes, que alcançavam alguns milhares, não necessitavam ir a Berlim para comer, dormir ou divertir-se…
Nas instalações da Deutch-Film encontravam eles hotéis, “restaurants”, “bars”, “dancings”, bilhares… e até cinemas…
…Mas se numeroso era o elenco da Deutch-Film – só um dos seus componentes atingira a máxima fama universal: Edda Adger…
Edda Adger era, até certo ponto, uma veterana da cinematografia alemã – apezar de ter dobrado ainda há pouco os trint’anos. Começára a sua carreira aos doze anos – na época em que os “films” de três actos eram considerados cá “monumentaes”… Durante toda a guerra trabalhou, em pequenos papeis de ingénuas, com relativo êxito – mas a retumbância do triunfo alcançara-o ela, ao entrar para a Deutch-Film, em 1918. Os “metteurs-en-scéne”, na batalha de concorrência com os “yankees”, viram a necessidade de esgrimir com “estrelas” e de as cercar de todas as luminosidades da propaganda. Edda era dócil, inteligente e, bem dirigida, não tardou a entronisar-se lá pelas alturas da celebridade.
De 1918 a 1926, trabalhara ininterruptamente filmando dezenas de películas; até que, assustada pelos médicos e contra a vontade dos directores, gozou as primeiras feria de repouso a que há muito tinha direito…
E eil-a a percorrer o sul da Europa, a banhar-se nas aguas de Biarritz; a arriscar ás noites no tapete verde de Monte-Carlo, a patinar nos “rings” da Suissa, a aplaudir os “diestros” das praças de touros de Espanha - e a pavonear-se, encantada, pela paisagem-jardim de Portugal…
E naquela manhã de agosto…
Naquela manhã de agosto, a noticia correu, rápida, pelo “studio”; Edda regressara a Berlim, com belas côres e um enorme entusiasmo em regressar á actividade do… silencio, á actividade dos films… E os seus camaradas, que corriam ao seu salão, para cumprimental-a, cochichavam entre eles:
- Quando ela souber o que se passa, morre de desgosto…
Cercaram-na e durante meia hora fonografou, acalorada, as suas impressões de viagem…
- Mas de todos os paízes que visitei, o que mais me enterneceu foi Portugal… Que curioso, que pitoresco, que belo! Assisti ás festas dos seus santos milagreiros – Santo António e S. João. Queimam então policromos fogos… Possuem a mais maravilhosa pirotecnia que tenho visto até hoje… Calculem vocês que eu me entusiasmei por tal forma que trouxe comigo grande quantidade desse fogo para me entreter aqui, nas noites de socego…
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Foi então que Mariana Meyer, outra veterana do cinema, sem a protecção com que Deus favorecera Edda e Fritz Meyer, seu marido - um bilioso que odiava o mundo e os homens, fizeram a Edda a terrível revelação. Na sua ausência, Mae Muller, uma gatinha ambiciosa e velhaca, conquistara por tal fórma a simpatia dos “metteurs-en-scéne” que lhe tinham dado o primeiro papel no filme em preparação. E ela com tanta sorte e tão bem guiada, que conseguira fascinar os “patrões”… Todos diziam que ficaria agora, como estrela da Companhia, a substituir Edda…
- Quantos films fez ela já? Indagou Edda muito pálida.
- Termina hoje a primeira série.
Entraram no “studio” e viram-na trabalhar… Mae Muller era realmente uma vocação; mas, sobretudo, o que a fazia brilhar era a adaptação ao seu feitio felino, do papel que lhe tinham distribuído.
- Esta gente esta toda iludida – segredava Mariana ao ouvido de Fritz. Dêem-lhe outro papel e verão que estenderete…
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Naquela tarde, o director chamou ao seu gabinete Fritz, Mariana e Edda. A esta disse, com frases sinuosas, que tinham combinado intermediar o seu trabalho com o da nova estrela… para que ela, Edda, não tornasse a adoecer, de fadiga…
Para Mariana tinham uma triste noticia: obrigados a comprimir um pouco os orçamentos, viam-se na triste necessidade de suspender, durante algum tempo, os seus serviços…
Fritz encolerisou-se, insultou o director – atirou-lhe um tinteiro á cabeça. Remate natural; marido e mulher foram despedidos.
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Ao cair da tarde, retiniu aflictivamente a campainha de alarme dos “studios” da “Deutch-Film”… Pela frente da casa de ferro, onde os operadores guardavam o negativo dos films, surdiram, como vermelhos punhaes, rubras chamas… Quando os bombeiros do “studio” chegaram já todo o celoloide da ultima película – da película que devia trazer os oiros da gloria e da fortuna a Mae Muller – tinha ardido… Não era natural aquele incêndio. Tratava-se, evidentemente, dum crime… Mas o único indicio, era um tubo de folha colorido, cheirando a pólvora e que dizia, no rotulo chamuscado: “Vulcão de Estrelas”…
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O “metteurs-en-scéne”, agitando nas mãos esse tubo de folha, exclamou:
- Não dêem voltas á cabeça… O incêndio do film só podia ter sido lançado por…
NOTA: Ortografia da época (1927)
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GENTIL MARQUES RECORDANDO
REINALDO FERREIRA
Em 1927 Reinaldo Ferreira, com os seus “50 Contos Misteriosos”, dava início, no “Jornal de Notícias”, problemística policiária em Portugal. Seguiu-se-lhe, em 1929, L. Figueiredo, com a secção “O leitor é Sherlock Holmes?”, na revista "Notícias Ilustrado”. Mas sem dúvida que o grande divulgador da modalidade, que decisivamente contribuiu para grande expansão que a partir daí veio a registar ao longo dos anos, foi Gentil Marques.
Gentil Marques (de quem aqui voltaremos a falar em breve) foi licenciado em Biologia, mas foi à escrita (livros e jornalismo - onde manteve estreita relação e colaboração com Reinaldo Ferreira - à rádio e ao cinema que dedicou
praticamente toda a sua vida.
E foi precisamente sobre Reinaldo Ferreira que Gentil Marques publicou, em 1979, no Jornal algarvio “Domingo”, umas quantas crónicas cujas cópias então nos enviou, que, por conterem revelações curiosas e algumas até inéditas sobre aquele, iremos a partir de hoje reproduzir.
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NOS CAMINHOS DA AVENTURA
Por: GENTIL MARQUES
“E, de repente, a Saudade voltou. Impetuosa, como sempre, E, como sempre também, apaixonante!
A próxima realização em Santarém da festa final (de convívio e amizade) de uma esplêndida (e oportuna) iniciativa de Domingos Cabral (com a boa e generosa e útil colaboração de Constantino) intitulada sugestivamente “I Jogos Florais Policiários” — de cujo Júri de classificação eu e a Mariália fazemos parte, por convite honroso e amável - levou-me a regressar (em pensamento) muitos anos atrás. No tempo. E no espaço.
Lembrei-me dos meus primeiros tempos em Lisboa. Chegara do Algarve (onde já me iniciara no jornalismo aos 13 anos de idade, como director do jornal "O Mocho" e correspondente da revista "Stadium" e do semanário "Repórter X") e vinha carregadinho de sonhos e de esperança.
Fui ainda um dos últimos companheiros (e discípulo) do Mestre Reinaldo Ferreira, o "Repórter X", no seu reduto do "Café Chave &Ouro".
Como este homem escrevia, santo Deus! Não mais o poderei esquecer. Estou a vê-lo ainda, ardendo em imaginação, debruçado sobre o papel branco e enchendo páginas e páginas, com a sua letra nervosa e irregular. Novelas, reportagens, artigos, crónicas, entrevistas, contos... sei lá o que saía daquele talento em labareda?!
Mas não me recuso a aceitar que isso veio a ter grande influência na minha vida.
Quando assumi a chefia da redacção da revista "Vida Mundial Ilustrada" - de parceria com o Leão Penedo e com o Rogério de Freitas, deliberei criar uma Página de Mistério e Aventura, tentando fazer ressuscitar os tempos áureos do famoso "Repórter X".
E, talvez por imposição dele próprio - cujo espírito, afinal, pairava sobre todos nós - criar também um pseudónimo para dirigir essa página - "REPÓRTER MISTÉRIO".
Foi o princípio de tudo! Durante muitos anos o pseudónimo do "Repórter Mistério" tornou-se popular em todo o País.
Primeiramente, tal como já referi, na revista "Vida Mundial Ilustrada". Depois, uma nova série da revista "Detective", continuando o êxito alcançado anteriormente pelo Mário Domingues, outro grande companheiro. Mais tarde, no "Cartaz" (que eu fundei e dirigi) - com a secção "Cartaz Policial, onde se revelaram autênticos valores da actual Literatura de Ficção. E, ainda mais tarde, numa secção do “Diário Popular” - também essencialmente destinada a problemas de Mistério e Aventura”.
Entretanto, eu casara com a Mariália (que já colaborava comigo, nesses terrenos, usando o pseudónimo de “Mini Sherlock Holmes”, que tanto intrigou os leitores desse tempo) - e que se tornou para mim companheira permanente no trabalho e na vida, nas alegrias e nas tristezas, nos sonhos e nos desânimos, nas vitórias e nas derrotas, - e ambos enveredámos pela carreira de escritores policiais com pseudónimos estrangeiros.
Quantos leitores terão seguido de fio a pavio os nossos romances, julgando tratar-se de autênticos autores internacionais?
Milhares, muitos milhares - posso afirmar, atendendo ao número de volumes que publicámos e às edições dos mesmos.
Porquê o pseudónimo estrangeiro?
Os editores impunham-nos esse ardil, porque, na opinião deles, “santos da casa não fazem milagres”. E, assim, num País pequeno como o nosso, nada se poderia passar de anormal que não fosse conhecido de toda a gente...
Nem as maravilhosas reportagens de Reinaldo Ferreira (“Repórter X”) entre elas a do assassinato da actriz Maria Alves e a descoberta do caso Alves dos Reis - nem a contribuição de outros valores, como Ferreira de Castro, Mário Domingues e Fernando Pessoa (só há muito pouco tempo revelado ao público sob esse aspecto) conseguiram modificar a opinião formalizada.
E hoje em dia muitos dos nomes estrangeiros que se estampam nas capas de romances policiais ou de ficção científica, editados no nosso País, são precisamente... pseudónimos de autores portugueses!
Que - aliás - e para esclarecimento dos leitores interessados no assunto, a chamada modernamente “temática policiária” tem, em Portugal, pouco mais de um
século de existência.
Iniciou-se, por assim dizer, com “O Mistério da Estrada de Sintra”, publicado primeiramente em folhetins no “Diário de Notícias”, em 1870, com autêntico escândalo da opinião pública - e que se soube, mais tarde, ser apenas um romance imaginado pelo talento de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão.
Porém, por curiosa coincidência, no mesmo ano em que Edgar Allan Poe, na América, publicava a sua primeira grande história de Mistério - que iria abrir novos horizontes à Literatura de Ficção de todo o Mundo - em 1841 - nascia em Lisboa aquele que se pode (e deve) considerar o primeiro escritor policial português, na melhor acepção e com todas as características do género. Refiro-me a Francisco Leite Bastos - um primo de Gervásio Lobato, o notável humorista do século passado - e que escreveu alguns romances consagrados no tempo e hoje praticamente desconhecidos do grande público, como, por exemplo, “O Crime de Mata Lobos”, “O Incendiário da Patriarca!” e, principalmente, “As Três Aventuras do Homem Pardo”. Mas disso (e de outras coisas mais) falarei na próxima crónica de Domingo”.
(Texto de 1979)
(Continua)
DOMINGOS CABRAL DA SILVA
»»» Publica-se aos dias 15 e último de cada mês! «««
INFORMAMOS OS LEITORES, ESPECIALMENTE AQUELES QUE TÊM PERGUNTADO PELAS "SOLUÇÕES" DOS "CONTOS/PROBLEMAS POLICIÁRIOS", QUE NO FINAL DE TODAS AS PUBLICAÇÕES... APRESENTAREMOS AS "RESPOSTAS" (PLAUSÍVEIS), MESMO QUE RESUMIDAMENTE, ELABORADAS PELO CONFRADE "INSPECTOR ARANHA"... PELO QUE TODOS OS FÃS DESTES "PRIMÓRDIOS" DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PODEM CONTINUAR A TOMAR NOTAS DAS SUAS PRÓPRIAS OPINIÕES... PARA, DEPOIS, COMPARÁ-LAS... COM AQUELAS DEDUÇÕES/OPINIÕES!!
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