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quinta-feira, 16 de março de 2023

*** MEMÓRIAS DO POLICIÁRIO! - (Por: O Gráfico) - 024

 🔎 Memórias do Policiário – 024

 

O Gráfico

  

Na passada semana, precisamente na Sexta-Feira, 10 de Março, os Problemas Policiários produzidos pelo “O Gráfico” foram revividos no Site clubededetectives.pt com uma Produção de 1993, há trinta anos, um dos seus melhores trabalhos! Hoje republicamos, para os nossos Leitores, Amigos e Seguidores do Blogue RO, o Problema Policiário referido e respectiva Solução para assimilação de processos de como se deve decifrar um Problema Policiário... até porque o agora “RO” (Luís Rodrigues) ainda tem em seu poder e em óptimo estado os ORIGINAIS desse interessante trabalho. Estas são, portanto, umas “Memórias do Policiário – O Gráfico” ESPECIAIS. Na próxima Segunda-Feira voltaremos a dar continuidade ao Torneio “Detective Misterioso”.

O Gráfico

 


 

21 de Novembro de 1993

Secção: Policiário (125)

Competição: Supertorneio Policiário 1993

 

Prova n.º 10

Publicação: Jornal Público

 

Problema Policiário

Detective, Mentiroso e... Criminoso!

Um desafio de “O Gráfico”

Feijó/TPA (Almada)

 




Problema Policiário dedicado a todos os praticantes de Problemística Policiária que se iniciaram recentemente na Produção e/ou Decifração desta actividade lúdica, tão prezada e angariadora de talentos para o Desporto Mental.

 


 

 

C

aro L.P., perdi a “cabeça”, arranjei um tempinho e, em vésperas de realização do 18.º Convívio de Almada, peguei na “velhinha” máquina de escrever (ai, que recordações tão saborosas que me vieram à memória… ai o cheiro da fita repassada de milhares de letras decalcadas… lembrando-me da maneira maravilhosa dos serões, das noites inteirinhas que perdi, escrevendo e ainda escrevendo… soluções e mais soluções! Era uma loucura – sem aspas! –, uma autêntica devoção e completa dedicação ao culto policiário! Recordo-me, com orgulho, claro!, dos torneios de decifração que ganhei; dos torneios de produção que conquistei; das vitórias, isolado, em originalidade; nas melhores; em combinados; classificações especiais e prémios extras; escrevi reportagens, crónicas, críticas, “short stories” e contos policiais, alguns de Natal, para crianças! Às vezes dou comigo a pensar que talvez tenha sido o único policiarista que ganhou tudo o que havia para ganhar, em termos de problemística policiaria, mas… parece que nunca ninguém se preocupou com isso, nem serão acessíveis a todos umas buscas minuciosas…!). Bem, mas tentava dizer-te eu, amigo Luís, que decididamente resolvi escrever um problema policiário para a tua secção. E, aqui estou, “em directo” a passar as ideias para o papel, pois, essa de escrever primeiro e burilar depois, comigo já não dá, quero dizer, não tenho tempo para tal (modalidade que não aconselho aos agora iniciados – reparem que não escrevi jovens, pois iniciados engloba eles e elas (!) de todas e quaisquer idades. Nunca é tarde para se entrar no reino encantado da problemística policiária, produzindo e decifrando, convivendo e conhecendo-se gente de todos os lugares e fomentando novas e salutares amizades. Daqui não tiro eu o meu pé!).

 

Pronto, depois do “cartão de visita” e alguns conselhos pertinentes, desculpem a ousadia, passemos então ao “desafio”:

 

Cuidado com as “rasteiras”, pois o problema policiárío começou lá em cima, logo após se ter escrito. “Detective, mentiroso e… criminoso!”

 

Detective, porquê!? Ora, porque me aconteceu ter ajudado a polícia aquando da ocasião de um assalto, ali na Cova da Piedade, junto à estátua do bombeiro, quando tentava (e consegui!) obter a chamada “carta de condução”! Ia às aulas teóricas três vezes por semana, segundas, quartas e quintas-feiras, e foi precisamente no dia 8 de Setembro que o roubo aconteceu. Tínhamos acabado de sair da aula, eram quase 19 horas, eu e mais uma amiga que ali conheci, quando o roubo aconteceu…

 

(…) Uma velhota queixava-se ao polícia – que ocasionalmente, de motorizada, por ali passava – que o indivíduo sentado no passeio lhe tinha roubado a mala e extorquido cinco mil escudos! Normalmente, quando acontecem coisas destas aglomeram-se de imediato várias pessoas e cada uma dá a sua opinião… Só que, desta vez, como começara a borrifar próximo das 18 horas, momento em que eu entrara para início da minha aula teórica, e assim continuava persistente e inoportuna, a “malta”, os “curiosos”, não estavam pelos ajustes, limitando-se a observar o acto, ao longe, de dentro dos “snacks”" vizinhos. Portanto, só ali estávamos naquele terreiro plano: o polícia, que parara a motorizada porque viu a velhinha engalfinhada com o suspeito; a vítima; o acusado; eu e a minha amiga! Prolongaram-se as acusações por breves minutos e a velha ia dizendo: “Foi ele, senhor polícia! Estava encostado ao carro, quando eu ia a passar, sacou-me a mala e enquanto eu me agarrava a ele, tentando reagir, abriu-a e tirou-me cinco contos da carteira! Quando o senhor apareceu já eu tinha a mala, mas ele ficou-me com o dinheiro!! Veja, veja, na carteira ou no bolso dele.”

 

O tipo, jovem, aparentando vinte e poucos anos e bem vestido, lá se ia defendendo, conforme podia: “Eu! A velha está maluca! O dinheiro que tenho aqui é meu!... Dirigia-me ao meu carro (e apontou para um próximo, ali a três metros) quando ela se agarrou a mim a agredir-me e… a empurrar-me! Até me chamou ladrão. Mas o que é isto? Trabalho ali em frente, naquele café (e voltou a indicar) e estive ali o dia todo, peguei às oito horas da manhã, quando deixei aqui o carro, estacionado, e agora, quando me preparava para ir embora, acontece-me esta...!? Porra!”

 

(…) O polícia, jovem, não sabia lá muito bem desenvencilhar-se da situação e enquanto identificava a queixosa e o acusado eu tive oportunidade de dar uma espreitadela às redondezas e, como o tempo continuava na mesma, não parava de borraçar, ali naquele lugar já não havia terreno seco… nem sequer debaixo do carro do acusado.

 

Enfim, o polícia nem se lembrou de ir perguntar ao dono do “snack” se, realmente, o sujeito trabalhava naquele lugar e se na verdade ali permanecera o dia todo, desde que pegara ao serviço, e entretinha-se a chamar pelo rádio-comunicador de bolso o carro-patrulha da zona…

 

Cá por mim, já não tinha dúvidas. Antes de apresentar a minha tese ao semidesorientado polícia, afastei a minha colega e disse-lhe: – Lembras-te de eu te falar em problemas policiários, etc., etc.? Pois tens aqui um tema para escreveres um! Sabes o que sucedeu? Quem está a mentir é… Porque… Agora vou dizer isto ao polícia.

 

(...) E assim foi. Depois de um cumprimento recíproco e de o jovem polícia ter exclamado: “Eh pá, é isso!” juntei-me à minha amiga, metemo-nos no meu Fiat Uno e fomos jantar ao Laranjeiro para comemorar!!

 

Criminoso, porquê!? Ora, porque estando aflito para imprimir os primeiros autocolantes para a Festa do 18° Convívio de Almada, um dia, ao ficar sozinho na oficina, no meu local de trabalho, peguei na zincogravura respectiva e, manobrando uma máquina tipográfica manual, antiga, que já não trabalhava havia para aí uns quatro meses, prestei-me à execução dos referidos! Como estava a pôr a pata na poça, deixei tudo como estava; depois de colocar tinta na máquina e imprimir o trabalho, limpei-a, arrumei tudo etc., etc… Guardei a zincogravura e eliminei todos os vestígios possíveis e imaginários…

 

Esquecei-me foi da perspicácia do meu patrão, um indivíduo inteligente e muito, mas mesmo muito, minucioso!... Que não deixa nada ao acaso e todos os dias, sendo sempre o primeiro a chegar à oficina, vistoria de ponta a ponta tudo o que ela contém. Mas, eu estava seguro, seguríssimo… ou não fosse eu “detective a brincar”… Os autocolantes eram meus, haviam sido comprados por mim, portanto, não iria haver falta de papel; também uns gramas de tinta preta não iriam ser notados, por faltarem e… a electricidade gasta na impressão era impossível de ser contabilizada! Ninguém me iria “apanhar”. Mas, falhei… não existem crimes perfeitos!

 

(…) No dia seguinte, o meu patrão, chegou-se ao meu posto de trabalho e, com uma palmada amiga nas costas, sussurrou-me ao ouvido: “Rodrigues, quando quiseres imprimir algum trabalho naquela máquina (e apontou para aquela onde eu, fora de horas, tinha imprimido os autocolantes) pede-me, com antecedência, não tens problemas, fica à vontade! Sem minha autorização é que não, como fizeste ontem! Ok? Tudo bem.”

 

 Bom, estão a ver-me, fiquei para morrer! Pedi desculpas e agradeci. Mas, onde foi que falhei…? Ah, isso, agora, é com vocês, caros leitores, do PÚBLICO-Policiário! Detective e Criminoso, estão relatados, quanto ao Mentiroso, também têm de ser vocês a descobrir os pormenores.

 

Já sabem que estão perante uma narração fictícia e que tudo o que foi escrito não aconteceu, na realidade! Todavia, estão reunidas as condições para um óptimo exercício mental! Mal daquele que, ao descobrir um pormenor, pense ter resolvido o caso… Atenção, pois!

 

 


Estamos todos de parabéns. O confrade “L.P.”, que deve ter dado saltos de contente quando recebeu este problema! Era um produtor (um dos Ases, como ele diz) que lhe faltava no Baralho. Vocês, leitores concorrentes, que me ficam a conhecer um pouco melhor (pois no meio da ficção há sempre um pouquinho de realidade!) E… sobretudo eu, sou quem mais fica a ganhar, pois com 34 anos ainda sou um “puto” e, considerando-me antigo nestas coisas do Policiário, não pensava, sinceramente, escrever tão depressa um problema policiário! Aconteceu e… pronto! Aqui estamos. O Gráfico

 




Respostas até ao dia 2 de Dezembro, sem falta, que o tempo urge e temos de encerrar o torneio, para PÚBLICO-Policiário, Rua Amílcar Cabral, Lote 1, 1700 Lisboa.

 


As recomendações são as habituais:

...muito cuidado na leitura e interpretação dos dados fornecidos, até porque o autor é um dos Grandes do Policiário. -L. P. (Luís Pessoa)

 


12 de Dezembro de 1993

Secção: Policiário (128)

Competição: Supertorneio Policiário 1993

 

Prova n.º 10

Publicação: Jornal Público

 

 


 

Solução de:

Detective, Mentiroso e... Criminoso!

Um Original de “ O Gráfico”

 

O título do problema ajuda à partida na decifração do caso, bastando aos mais atentos seguir a narração e descortinar os pormenores espalhados na prosa. Quanto ao facto de o autor ser “detective”, temos o seguinte:

 

a) O jovem acusado é evidentemente o culpado do roubo dos cinco mil escudos, porque mentiu nas suas declarações. O jovem disse que tinha estacionado o seu carro ao chegar ao trabalho, no “snack” ali próximo, e acrescentou que tinha pegado ao serviço de manhã para sair apenas àquela hora da tarde, momento em que voltou a pegar no veículo estacionado. Isto é impossível porque, por baixo do seu carro, o terreno se encontrava molhado e, como o carro estava num terreno plano – conforme é referido no texto –, no espaço de uma hora seria impossível o chuvisco (“borriçar” ou “borraçar” significa chuviscar) molhar o solo que era ocupado pelo seu veículo, uma vez que o roubo sucedeu perto das 19h00 e apenas começou a chuviscar próximo das 18h00. Portanto, o jovem estava a mentir e, ou nem sequer trabalhava naquele lugar, ou então tinha saído mais cedo. O que é certo é que estacionara o carro naquele lugar apenas alguns momentos antes de o assalto se ter praticado. Ora, se mentiu é porque foi o culpado e a velha tinha razão ao afirmar ser ele o ladrão dos cinco contos.

 

b) Explicada a função do detective, passemos à do “criminoso”.

 

Que teria acontecido, qual a minha falha, se eu tinha sido minucioso ao ponto de limpar tudo? No facto de limpar é que está o busílis… É que, se a máquina tipográfica não trabalhava há uns quatro meses, certamente que estaria repleta de pó! Portanto, o meu erro foi ter limpo tudo, pois o meu patrão, no dia seguinte, ao verificar que aquela máquina estava limpinha, deduziu logo que trabalhara na véspera e, como fora eu que lá ficara fora-de-horas, apenas poderia ser eu o “responsável” por aquela limpeza! Daí até deduzir-se que ela trabalhara foi apenas um pequeno passo.

 

c) Só falta explicar onde eu fui mentiroso, no texto. 1º) Se apenas tinha aulas teóricas de condução às segundas, quartas e quintas-feiras, então nunca poderia ter aulas no dia 8 de Setembro, porque este dia calhou a uma terça-feira! Claro que nos estamos a referir ao ano de 1992, sem qualquer dúvida, porque no início da narração afirmamos que estamos em vésperas do 18.º Convívio de Almada e todos sabemos que este Encontro aconteceu em Maio de 1993. 2º) Um outro pormenor relaciona-se com o facto de eu afirmar que pegara na minha colega e no meu Fiat Uno e que tínhamos ido jantar ao Laranjeiro para comemorar. Esta, julgo que não escapou a ninguém, pois, se andávamos a obter a carta de condução, como poderíamos já andar a conduzir?

 

Blogue RO – 16 de Março de 2023

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